| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 390 - 31 de março a 6 de abril de 2008
Leia nesta edição
Capa
Opinião
Ciências da terra
Anemia falciforme
Agricultura orgânica
Purificação de proteínas
Doença de chagas
Cirurgia estética
Ocupação urbana
Carga perigosa
Eliane Lage
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Portal Unicamp
Vania Castelfranchi
Tião Carreiro
 


2

Opinião

Francisco Sergio Bernardes Ladeira
Celso Dal Ré Carneiro


Dez anos de um curso
inovador e bem- sucedido

A proposta de criação de um curso de graduação no Instituto de Geociências da Unicamp suscitou, inicialmente, inflamadas discussões. No caso do curso de Geologia, uma conjuntura de forte retração do mercado de trabalho no Brasil e em outros países no final da década de 1980 e início da década de 1990, e as conseqüências dela decorrentes, provocou sucessivos adiamentos à sua implantação. A situação começou a mudar em meados da década de 1990, com a retomada dos investimentos econômicos e novo fortalecimento do mercado de trabalho para os geólogos, levando à situação atual, que é exatamente inversa daquela.

As mudanças conjunturais, aliadas ao surgimento de propostas curriculares inovadoras, favoreceram a aprovação, em maio de 1993, pela Congregação do IG, das diretrizes gerais para a elaboração do projeto de curso de graduação em Geologia da Unicamp. Considerou-se, naquela ocasião, a oportunidade de ampliação das atividades de ensino do Instituto de Geociências no nível de graduação, em um momento em que as suas atividades de pós-graduação e pesquisa completavam dez anos de sua implantação. Uma dificuldade para criar o curso de graduação em Geologia, relativa à existência dos laboratórios necessários para as atividades didáticas seria superável devido à existência de um conjunto de laboratórios de pesquisa e ensino, implantados a partir das atividades de pós-graduação.

Quanto à proposta de criação do curso de Geografia na Unicamp, esta teve origem em meados da década de 1980, quando um abaixo-assinado firmado por profissionais em Geografia foi encaminhado à Reitoria, solicitando a criação do curso na Unicamp. Posteriormente, a Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB), atendendo à solicitação de seus sócios e com o objetivo de sensibilizar a comunidade, propôs que o I Encontro Paulista de Professores de Geografia, em setembro de 1993, fosse realizado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, ocasião em que fora encaminhada uma moção favorável à criação do novo curso, assinada por mais de 500 geógrafos.

Em setembro de 1995, a Congregação do IFCH aprovou a constituição de uma comissão de docentes do Departamento de Sociologia, com o objetivo de examinar a viabilidade da criação do curso de Geografia, em conjunto com o IG e demais unidades da Unicamp. Considerou-se que o curso de Geografia representaria para o IFCH um enriquecimento do debate e prática interdisciplinar, ao incorporar as abordagens espaciais nas análises da sociedade, rural e urbana, e em especial, nas áreas de meio ambiente, tecnologia e desenvolvimento.

Durante o ano de 1996, vários docentes da Feagri manifestaram-se favoravelmente à colaboração em determinadas disciplinas de suas áreas de atuação, e alguns até como responsáveis na eventual criação do curso de Geografia. Tal proposição foi aprovada pela Congregação da Faculdade. Ainda em 1996, uma comissão de docentes do IG foi encarregada, pelo Conselho Interdepartamental e Diretoria da Unidade, para trabalhar conjuntamente com os docentes do IFCH na elaboração de uma proposta de curso de graduação em Ciências da Terra.

Demanda – Os levantamentos realizados, os contatos efetivados dentro e fora da Unicamp e, no caso da área de Geografia, o contínuo apoio da Associação de Geógrafos Brasileiros, dos cursos de Geografia da USP e da Unesp, e da comunidade de geógrafos, sugeriam que a implantação do curso de Ciências da Terra na Unicamp atenderia a uma demanda social e profissional de enorme importância para as gerações presentes e futuras do Brasil.

Em decorrência desse processo, o IG elaborou, em conjunto com o IFCH, FE e Feagri, a proposta de criação de um curso inovador em Ciências da Terra em que os alunos, após cursarem inicialmente um conjunto de disciplinas básicas, fariam a opção pelas modalidades profissionalizantes em Geografia e Geologia. A proposta foi finalmente aprovada pelo Conselho Universitário da Unicamp em julho de 1997, com o ingresso da primeira turma de alunos em 1998.

A proposta previu cooperação entre diversas unidades de ensino e pesquisa, conciliando diferentes áreas do saber técnico-científico fisicamente separadas em Institutos e Faculdades. Em tempos atuais de rápidas e profundas transformações nas diversas áreas de conhecimento, a Unicamp criava as condições para formar geólogos e geógrafos, licenciados e bacharéis, que integrassem a pesquisa científica com a atuação profissional, tornando-se aptos para o exercício profissional de qualidade e para a abertura de novas áreas no mercado de trabalho.

O curso tem como objetivo a formação de profissionais nas áreas de Geografia e Geologia que venham a contribuir de forma crítica e criativa para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Nascia assim o curso de Ciências da Terra, com um caráter eminentemente interdisciplinar, que levaria à formação de geógrafos e geólogos com uma base comum, de acordo com os preceitos das diretrizes educacionais que apareceriam posteriormente, com características que o diferenciaram dos cursos-irmãos em seu entorno, na USP de São Paulo e na Unesp de Rio Claro.

Sediado originalmente no Instituto de Geociências, o curso Ciências da Terra foi proposto como iniciativa conjunta que envolveria, além do IG, principalmente as seguintes unidades da Unicamp: FE, IFCH e Feagri. Entretanto, desde o início, um movimento de professores da área de Geografia, desejosos de se integrar mais ao IG, levou à progressiva constituição, no IG, do Departamento de Geografia. O IG é atualmente constituído por quatro departamentos: Geociências Aplicadas ao Ensino, Geografia, Geologia e Recursos Naturais e Política Científica e Tecnológica.

Diversas características o tornam único no cenário da educação brasileira. Primeiramente, o instituto já possuía pós-graduação consolidada, o que determina forte presença da pesquisa na formação dos graduandos, mediante intensa utilização de laboratórios e de projetos de iniciação científica.

As habilitações previstas são as de Geologia (bacharelado-diurno) e Geografia (bacharelado, período diurno, e bacharelado e licenciatura, noturno). O curso procura formar um profissional que, em qualquer área de atuação (técnica, de pesquisa ou ensino) tenha autonomia intelectual proporcionada pela reflexão teórica e capacidade científica de elaborar pesquisas. A qualidade e a profundidade dos cursos vêm sendo aprimoradas, com a preocupação de conciliar a excelência acadêmica com a qualidade na formação dos futuros profissionais.

Flexibilidade – Outra característica peculiar do curso é o fato de possuir um núcleo comum (curso Ciências da Terra) e, após os dois semestres iniciais, oferecer as opções de Bacharelado em Geografia (4 anos de curso) e Bacharelado em Geologia (5 anos de curso), no caso do diurno, e de Bacharelado em Geografia e Licenciatura em Geografia no curso noturno (5 anos cada), com a possibilidade de reingresso, para que o aluno possa se formar nas demais modalidades. Tal flexibilidade curricular possibilita aos alunos desenvolverem projetos de iniciação científica com professores de todos os departamentos do Instituto, situação cada vez mais comum.

Atualmente o curso de graduação possui um total de 417 alunos matriculados (44 em Ciências da Terra, 115 em Geologia e 258 em Geografia – licenciatura e bacharelado). O IG ministra ainda disciplinas para outras quatro unidades da Unicamp, ultrapassando o número de 600 alunos externos atendidos anualmente, além daqueles que cursam disciplinas oferecidas pelo IG como alunos especiais e também disciplinas eletivas.

Tanto no caso da Geografia quanto da Geologia, a formação de profissionais não tem sido capaz de atender satisfatoriamente à demanda de mercado atual, especialmente no caso dos licenciados em Geografia e dos bacharéis em Geologia. Dados do INEP mostram um total de 529 cursos de graduação em Geografia no Brasil (74 no estado de São Paulo) e 22 cursos de graduação em Geologia (3 no estado de São Paulo). No caso dos cursos de Geologia, essa enorme demanda recente vem resultando na abertura de novos cursos em diferentes regiões do país, como ocorreu recentemente em Marabá (Pará) e Alegre (Espírito Santo) e num futuro próximo em Barreiras (Bahia) e Boa Vista (Roraima).

No caso dos cursos de Geografia existentes, a grande maioria funciona somente na modalidade Licenciatura (apenas 21 cursos com bacharelado no estado de São Paulo, boa parte sem turmas abertas). Este quadro resulta em um déficit de mais de 20 mil professores de Geografia nos ensinos fundamental e médio, além de um déficit ainda impreciso de bacharéis em Geografia, especialmente nas áreas de geoprocessamento, planejamento, meio ambiente e mudanças climáticas. No caso da Geologia, a suprimida demanda por Geólogos no início da década de 1990 faz parte do passado. Existem sinalizações positivas dos setores de mineração, petróleo/gás, água subterrânea e também na questão ambiental, em nível mundial, cujos reflexos se fazem sentir fortemente no Brasil. Em função desse contexto, a sociedade se depara com forte e crescente demanda por tais profissionais em diversas áreas estratégicas para o país.

É nesse contexto de forte demanda do mercado de trabalho por profissionais de Ciências da Terra que o curso da Unicamp completa a primeira década de sua implantação, com resultados muito positivos. O evento que marcará esse momento, nos dias 4 e 5 de abril de 2008, tem por objetivo reunir profissionais de várias áreas de atuação em Ciências da Terra, representantes de entidades científicas e associações profissionais, bacharéis e licenciados egressos do curso, para refletir sobre o caminho percorrido e avaliar, juntamente com professores e alunos, os rumos do curso e, finalmente, propor sugestões que contribuam para melhorar a capacitação dos geólogos e geógrafos formados na Unicamp.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2008 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP