| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 390 - 31 de março a 6 de abril de 2008
Leia nesta edição
Capa
Opinião
Ciências da terra
Anemia falciforme
Agricultura orgânica
Purificação de proteínas
Doença de chagas
Cirurgia estética
Ocupação urbana
Carga perigosa
Eliane Lage
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Portal Unicamp
Vania Castelfranchi
Tião Carreiro
 


8


Estudo avalia
impactos da ocupação
urbana desordenada em Valinhos

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A geógrafa Veridiana Lima da Silva, autora da pesquisa: vínculo com o município é mínimo (Foto: Antoninho Perri)Grande parte dos condomínios fechados construídos na cidade de Valinhos, município da Região Metropolitana de Campinas, foi inicialmente aprovada como loteamento e não como espaço para instalação de residenciais fechados. A constatação foi feita pela geógrafa Veridiana Lima da Silva em sua dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Geociências (IG). Ela afirma que na década de 1970, quando foi instalado o primeiro condomínio da cidade, o número de loteamentos aprovados registrados na Prefeitura do município era de apenas 2%. Já no período de 1990 a 1994, o volume cresceu para 45% e, em 1995 a 1999 – período em que se observa a proliferação de condomínios de luxo na cidade – saltou para 51%.

Segundo ela, isto significa que o número de loteamentos aprovados é alto, quando na verdade o número de condomínios é que ultrapassa os 50%. “Espaços que deveriam ser comunitários e livres, podendo ser usados por qualquer indivíduo, como é o que ocorre nos loteamentos, se transformam em condomínios fechados de propriedade exclusiva, sem direito ao acesso da população em geral”, argumenta Veridiana.

Sua preocupação maior seria com a mudança na forma de ocupação do espaço urbano de Valinhos. Ela defende a adoção de políticas públicas que minimizem os efeitos deste fenômeno. “A expansão dos condomínios se deu de forma muito rápida sem se pensar em uma infra-estrutura – água, esgoto, energia – capaz de suportar o volume de residências. Valinhos é uma cidade pacata, com baixo índice de criminalidade e qualidade de vida que são quesitos indispensáveis para a vida moderna. Isto explica a proliferação”, argumenta.

A geógrafa aponta, no entanto, que a população da cidade não ganha em termos sociais. “A cidade perde suas características interioranas e culturais, pois muitos apenas moram na cidade, fugindo do trânsito e da violência, sem ter contato com a cultura local. Para fazer compras, estudar e mesmo trabalhar, essa população sai para outras cidades da região. O vínculo com o município é mínimo”, explica Veridiana que é professora nos Colégios Carpe Diem e São Bento, em Valinhos e Vinhedo.

Um exemplo, conta a geógrafa, que foi orientada pela professora Regina Célia Bega dos Santos, é a cultura do figo, símbolo da cidade, que está relegado a pequenas produções, uma vez que as chácaras são vendidas para a construção de condomínios. “Os chacareiros são freqüentemente assediados pelos corretores de imóveis e seduzidos pela especulação imobiliária”, lamenta.

Também cita a discordância dos números oficiais da população da cidade. Pelo levantamento do IBGE, em 2000, Valinhos teria uma população estimada em 82 mil habitantes, sendo que para a Prefeitura este número já teria ultrapassado a casa dos 100 mil habitantes. “Isto dificulta a liberação de verba para a cidade, pois os cálculos são feitos pelos dados fornecidos pelo IBGE”, destaca.

Outra questão levantada no estudo trata das transformações dos bairros em bolsões de segurança, o que acarreta o fechamento de determinadas ruas para impedir o acesso de veículos e a construção de guaritas de segurança. Para Veridiana, este tipo de ação é um exemplo claro de apropriação do espaço público. “Às vezes, o indivíduo tem que contornar um muro ou ruas por 800 metros para chegar ao seu destino. A questão é mais social do que jurídica”, esclarece.

A pesquisadora acredita que tanto os condomínios quanto os bolsões trazem na sua concepção as idéias de segregação e de alienação. “A pesquisa indicou que 95% dos moradores não estão preocupados com os demais. A característica é o individualismo”.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2008 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP