Grande parte dos condomínios fechados construídos na cidade de Valinhos, município da Região Metropolitana de Campinas, foi inicialmente aprovada como loteamento e não como espaço para instalação de residenciais fechados. A constatação foi feita pela geógrafa Veridiana Lima da Silva em sua dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Geociências (IG). Ela afirma que na década de 1970, quando foi instalado o primeiro condomínio da cidade, o número de loteamentos aprovados registrados na Prefeitura do município era de apenas 2%. Já no período de 1990 a 1994, o volume cresceu para 45% e, em 1995 a 1999 período em que se observa a proliferação de condomínios de luxo na cidade saltou para 51%.
Segundo ela, isto significa que o número de loteamentos aprovados é alto, quando na verdade o número de condomínios é que ultrapassa os 50%. “Espaços que deveriam ser comunitários e livres, podendo ser usados por qualquer indivíduo, como é o que ocorre nos loteamentos, se transformam em condomínios fechados de propriedade exclusiva, sem direito ao acesso da população em geral”, argumenta Veridiana.
Sua preocupação maior seria com a mudança na forma de ocupação do espaço urbano de Valinhos. Ela defende a adoção de políticas públicas que minimizem os efeitos deste fenômeno. “A expansão dos condomínios se deu de forma muito rápida sem se pensar em uma infra-estrutura água, esgoto, energia capaz de suportar o volume de residências. Valinhos é uma cidade pacata, com baixo índice de criminalidade e qualidade de vida que são quesitos indispensáveis para a vida moderna. Isto explica a proliferação”, argumenta.
A geógrafa aponta, no entanto, que a população da cidade não ganha em termos sociais. “A cidade perde suas características interioranas e culturais, pois muitos apenas moram na cidade, fugindo do trânsito e da violência, sem ter contato com a cultura local. Para fazer compras, estudar e mesmo trabalhar, essa população sai para outras cidades da região. O vínculo com o município é mínimo”, explica Veridiana que é professora nos Colégios Carpe Diem e São Bento, em Valinhos e Vinhedo.
Um exemplo, conta a geógrafa, que foi orientada pela professora Regina Célia Bega dos Santos, é a cultura do figo, símbolo da cidade, que está relegado a pequenas produções, uma vez que as chácaras são vendidas para a construção de condomínios. “Os chacareiros são freqüentemente assediados pelos corretores de imóveis e seduzidos pela especulação imobiliária”, lamenta.
Também cita a discordância dos números oficiais da população da cidade. Pelo levantamento do IBGE, em 2000, Valinhos teria uma população estimada em 82 mil habitantes, sendo que para a Prefeitura este número já teria ultrapassado a casa dos 100 mil habitantes. “Isto dificulta a liberação de verba para a cidade, pois os cálculos são feitos pelos dados fornecidos pelo IBGE”, destaca.
Outra questão levantada no estudo trata das transformações dos bairros em bolsões de segurança, o que acarreta o fechamento de determinadas ruas para impedir o acesso de veículos e a construção de guaritas de segurança. Para Veridiana, este tipo de ação é um exemplo claro de apropriação do espaço público. “Às vezes, o indivíduo tem que contornar um muro ou ruas por 800 metros para chegar ao seu destino. A questão é mais social do que jurídica”, esclarece.
A pesquisadora acredita que tanto os condomínios quanto os bolsões trazem na sua concepção as idéias de segregação e de alienação. “A pesquisa indicou que 95% dos moradores não estão preocupados com os demais. A característica é o individualismo”.