|
Pesquisador desenvolve na FEQ material
que interage com células
Complexos biocompatíveis podem
ser usados
como biossensores ou no ‘transporte’ de fármacos
Pesquisa
realizada pelo engenheiro químico Fernando da Cruz Vasconcellos,
envolvendo filmes finos de multicamadas, resultou na obtenção
de materiais biocompatíveis capazes de interagir com células
e ao mesmo tempo preservar sua funcionalidade. Complexos de
filme-célula podem ser utilizados como biossensores ou uma
espécie de “mochila” para células transportarem fármacos,
agentes quimioterápicos e outros compostos para tratamentos
de doenças e tumores. Os filmes, que apresentam propriedades
específicas interessantes, e que são manipuláveis no nível
nano ou molecular, foram depositados sobre substratos de vidro
utilizando a técnica layer-by-layer (LbL). O processo é muito
simples. O substrato
é imerso em diferentes soluções de polímeros à base de água,
às quais podem ainda ser adicionados outros componentes tais
como partículas magnéticas, substâncias fluorescentes, nanobastões
de ouro, fármacos, etc., segundo a aplicação de interesse.
A imersão é feita de forma alternada e sequencial nas diferentes
soluções poliméricas, gerando sobre o substrato um filme de
multicamadas. O trabalho integra parte da tese de doutorado
do aluno, sob a orientação da professora Marisa M. Beppu,
coordenadora do Laboratório de Engenharia e Química de Produtos
(LEQUIP) da Faculdade de Engenharia Química (FEQ).
A pesquisa
desenvolvida durante o doutoramento utilizou uma estratégia
para produzir filmes multicamadas biopoliméricos, por meio
da técnica LbL, capazes de imobilizar linfócitos (células
não-aderentes do sistema imune). “Estes filmes que permitem
imobilizar linfócitos têm grande potencial para estudos imunológicos
fundamentais, para biossensores à base de células e, também,
em aplicações de engenharia do sistema imune”, relata Vasconcellos.
O trabalho foi desenvolvido em colaboração com os grupos dos
professores Michael F. Rubner e Robert E. Cohen, e o aluno
Albert J. Swiston, todos do Massachusetts Institute of Technology
(MIT). Como produto dessa parceria, foi publicado recentemente
um trabalho na revista Biomacromolecules.
Linfócitos
são células do sistema imunológico adaptativo que têm evoluído
para identificar agentes patogênicos, com eficiência. Vasconcellos
utilizou os biopolímeros quitosana e ácido hialurônico para
produzir o filme multicamadas para a imobilização dos linfócitos.
O ácido hialurônico se liga ao receptor celular (CD-44) presente
na superfície dos linfócitos. Estes filmes, portanto, exploram
as interações CD44-ácido hialurônico e fornecem um método
natural para imobilizar linfócitos, de uma forma seletiva,
sem a necessidade de reações químicas agressivas. Por outro
lado, a quitosana tem a propriedade de produzir superfícies
antibacterianas. Assim, os filmes contendo ácido hialurônico
e quitosana servem a dois propósitos: o de imobilizar linfócitos
e o de evitar contaminação bacteriana. Uma característica
extremamente interessante da adesão que ocorre entre a célula
e o filme, é que a célula permanece com suas funções preservadas.
A
combinação da técnica de LbL com técnicas de litografia permitiu
ao aluno produzir filmes padronizados (arrays) sobre uma superfície.
Com isso, os linfócitos foram imobilizados em regiões específicas,
determinadas pelo padrão contendo o filme biopolimérico o
qual, como foi observado anteriormente, também pode conter
outros componentes. Esses filmes com estruturas padronizadas
e células agregadas podem ser descolados do substrato. Esse
tipo de estrutura complexa “filme-célula” -“mochila-célula”
pode, por exemplo, conter um medicamento para ser administrado
a um paciente em busca de um tratamento específico. “Células
funcionalizadas com filmes multicomponentes contendo partículas
magnéticas podem ser direcionadas a uma região específica
a ser tratada, com a aplicação de um campo magnético. Outras
células funcionalizadas com filmes multicomponentes contendo
partículas fluorescentes e nanobastões de ouro podem auxiliar
no diagnóstico e tratamento de câncer, por exemplo”, diz Vasconcellos.
“A técnica
LbL é simples e versátil, e por ser desenvolvida a partir
de soluções à base de água, é de baixo custo, tendo potencial
para inúmeras aplicações em áreas de engenharia, medicina,
biologia, química, energia e novos materiais”, afirmou Vasconcellos.
A experiência, adquirida em programa de bolsa-sanduíche Capes,
possibilitou também ao aluno projetar e construir uma máquina
automática para a fabricação dos filmes nanoestruturados.
O projeto, realizado em parceria com companhias nacionais,
teve o suporte financeiro da Fapesp.
Investimento
Vasconcellos esclareceu que
é possível executar o processo LbL manualmente, sendo necessários
somente os componentes das multicamadas, água e um substrato.
É uma técnica muito barata. No entanto, para ter mais reprodutibilidade
é vantajoso ter um processo automático. O equipamento utilizado
pelo pesquisador para preparar filmes nanoestruturados foi
construído por ele mesmo, fato do qual se orgulha muito. “É
importante enfatizar que a parte do doutorado que realizei
no MIT foi fundamental porque fui exposto a novas técnicas
experimentais, tive infraestrutura e suporte técnico-científico
especializados, ou seja, foi um divisor de águas”, revelou.
E com seu espírito empreendedor,
desenvolveu um protótipo totalmente nacional, batizado de
LbL Nanostructure Pro, mais barato que equipamento similar,
de fabricação norte-americana. “Estudei todos os outros tipos
de sistemas disponíveis no mercado e tentei minimizar todos
os problemas que eles apresentavam. O software que acompanha
o aparelho foi todo customizado e possui uma interface bastante
amigável para o usuário”, disse. O desenvolvimento desta máquina
além de trazer inovação tecnológica para a universidade, abriu
novas possibilidades para a pesquisa de novos materiais com
a técnica LbL, uma vez que permite a produção de filmes multicamadas
complexos, que não poderiam ser construídos manualmente.
Com relação ao tempo utilizado
para o preparo dos filmes, Vasconcellos contou que depende
muito do tipo de filme fino multicamada a ser preparado. “A
escala de tempo pode ser de alguns minutos a dias. É possível
trabalhar com diferentes componentes porque o equipamento
tem uma versatilidade muito boa. A máquina possui controles
manual e automático para a escolha de parâmetros, entre os
quais tempos de imersão, número de ciclos, tempo de secagem,
processo de sequenciamento e tempo total de corrida. Montada
em alumínio e aço inox, e com uma estrutura fechada, a máquina
minimiza contaminação e é de acabamento industrial”, diz Vasconcellos.
A máquina pode ser utilizada
tanto em pesquisa básica quanto em pesquisa aplicada, nas
mais diversas áreas científicas e tecnológicas – química,
física, biologia, medicina, farmacêutica, energia, eletrônica,
engenharias, etc.
No momento, a máquina é uma
ferramenta fundamental para as pesquisas realizadas pelos
alunos Fernando da Cruz Vasconcellos, Ennio Balbi Flores (mestrado),
e Rogério Aparecido Bataglioli (iniciação científica), do
LEQUIP, na produção de filmes multicamadas compostos por biopolímeros,
polímeros sintéticos e nanopartículas. Estudos sobre o efeito
de diferentes tipos de tratamento térmico, esterilização e
incorporação de fármacos a esses filmes, estão sendo realizados
pelos estudantes, visando aplicações biotecnológicas.
................................................
Publicações
VASCONCELLOS, F. C. ; SWISTON, ALBERT J. ; Beppu, Marisa M.
; Cohen, Robert E. ; Rubner, Michael F. . Bioactive Polyelectrolyte
Multilayers: Hyaluronic Acid Mediated B Lymphocyte Adhesion.
Biomacromolecules, v. 11, p. 2407-2414, 2010.
VASCONCELLOS, F. C. ; BEPPU, M. M. ; RUBNER, M. F. . Biopolymer
Multilayers for Antibacterial Applications. In: The 6th Latin-American
Congress of Artificial Organs and Biomaterials, 2010, Gramado.
COLAOB - Programação e Resumos, 2010. p. 190
VASCONCELLOS,
F. C. ; SWISTON, ALBERT J. ; BEPPU, M. M. ; COHEN, R. E. ;
RUBNER, M. F. . Biopolymer Multilayers for Promoting Immune
Cell Adhesion. In: 13th IACIS International Conference on
Surface and Colloid Science and the 83rd ACS Colloid &
Surface Science Symposium, 2009, Nova Iorque. 13th IACIS International
Conference on Surface and Colloid Science and the 83rd ACS
Colloid & Surface Science Symposium, 2009.
VASCONCELLOS,
F. C. ; SWISTON, ALBERT J. ; BEPPU, M. M. ; COHEN, R. E. ;
RUBNER, M. F. . Lymphocyte Adhesive Biopolymer Multilayer
Films. In: MIT/Princeton Microsymposium on Polymers, 2009,
New Jersey. MIT/Princeton Microsymposium on Polymers, 20
VASCONCELLOS,
F. C. ; SWISTON, ALBERT J. ; ZIEGER, A. S. ; VLIET, K. V.
; COHEN, R. E. ; BEPPU, M. M. ; RUBNER, M. F. . Physical and
Mechanical Properties of Lymphocyte Adhesive Biopolymer Multilayer
Films. In: International Conference on Advanced Materials
- ICAM, 2009, Rio de Janeiro. International Conference on
Advanced Materials - ICAM, 2009.
Tese de doutoramento:
“Nanoestruturas de Multicamadas de Biopolímeros Utilizando
o Método de Deposição “Layer-by-Layer” para Aplicações Biotecnológicas”
Autor: Fernando da Cruz Vasconcellos
Orientadora: Marisa M. Beppu
Unidade: Faculdade de Engenharia Química
(FEQ)
Fonte de financiamento: Capes
................................................
|
|