![]() Jornal da Unicamp Semana da Unicamp Assine o "Semana" Divulgue seu assunto Divulgue seu evento Divulgue sua Tese Cadastro de Jornalistas Mídias Sinopses dos jornais diários Envie dúvidas e sugestões ![]() |
Se esta notícia truncada o deixaria irritado, coloque-se no lugar de uma pessoa surda, obrigada a se conformar com lapsos constantes no recebimento de informações, por mais atenta e ágil que seja na leitura labial. Segundo a lingüista Ivani Rodrigues Silva, crianças e adolescentes inseridos na rede comum de ensino assimilam apenas de 30% a 40% do que é dito pelo professor em sala de aula. Captam somente pedaços de lições, o que já torna heróico o esforço de aprendizado que eles fazem. A este problema na comunicação somam-se (e dela decorrem) os de leitura, escrita e raciocínio lógico-matemático, tudo isso comprometendo o relacionamento com as outras pessoas. São barreiras que alimentam a controvérsia entre os educadores quanto à inclusão de alunos portadores de deficiência nas escolas regulares, mesmo havendo uma disposição cada vez maior dos professores em recebê-los e em atuar para que o desempenho dessas crianças não seja comprometido. Ivani, docente em educação especial e reabilitação, é responsável pelo Programa de Apoio à Escolaridade para Surdos, criado há dez anos pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação "Professor Gabriel Porto" (Cepre), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O programa acaba de receber o Prêmio Telecurso 2000, concedido conjuntamente por várias entidades, entre elas o Canal Futura de TV a Cabo, Fiesp, Fundação Roberto Marinho e Fundação de Amparo ao Trabalhador. O Cepre foi um dos 13 agraciados dentre 125 instituições brasileiras que apresentaram trabalhos educacionais na área de surdez. Além do reconhecimento, o prêmio consiste, concretamente, em um kit com 52 fitas de vídeo contendo aulas de telecurso do ensino fundamental. Esses filmes trazem um recurso riquíssimo ao surdo: são as primeiras edições legendadas. "A legenda permite não só que o surdo tenha uma melhor compreensão da aula, mas também que vivencie questões como a da erosão, mais difíceis de serem imaginadas. É muito interessante verificar como o conceito da sublimação (e outros conceitos do currículo de Ciências) é tratado visualmente por meio do vídeo", afirma Ivani Rodrigues. Raiz do problema O Programa de Apoio à Escolaridade foi estruturado a partir da constatação do baixo rendimento na leitura e escrita apresentado pelos surdos, mesmo entre aqueles que freqüentavam escolas especiais por longo tempo. Ivani lembra que a maioria dos alunos que procuravam o Cepre haviam cumprido apenas até a 4ª série do ensino fundamental e tinham em média 18 anos. "Eles apresentavam dificuldades inclusive em pequenos textos e, muitas vezes, não conseguiam sequer adquirir o processo mecânico da escrita; quanto mais entender a função social dessa escrita ou fazer uso dela para servir às suas necessidades", explica a lingüista. O grande problema, portanto, é em relação à aquisição e desenvolvimento da linguagem. Por isso, não é prioridade do Cepre ajudar o aluno surdo apenas a melhorar o rendimento em determinada disciplina (português, matemática, ciências etc.) e sim suprir a falta de estruturas lingüísticas e de habilidades comunicativas, já que ele, desde que nasceu, não teve oportunidade de usar uma língua de maneira efetiva. Ao mesmo tempo em que se tenta aprimorar a leitura e a escrita, trabalha-se a Libras (Linguagem Brasileira de Sinais), o desenvolvimento oral do estudante surdo e a leitura labial. "Eles são muito exigidos em relação à leitura labial durante uma aula na escola comum", lembra a coordenadora do programa. Parece uma observação óbvia, mas professores e familiares precisam ser freqüentemente alertados a falar sempre de frente com o deficiente auditivo. Não por acaso, o programa inclui reuniões mensais com professores e pais, onde estes apresentam as dificuldades detectadas nas atividades do estudante e, por que não, aprendem a linguagem de sinais. Profissionais do Cepre também visitam as escolas para acompanhar o relacionamento dos surdos com os colegas ouvintes da classe. Equipe multidisciplinar No Programa de Apoio à Escolaridade estão uma lingüista, uma fonoaudióloga, uma assistente social, uma psicóloga, três pedagogas, uma nutricionista, uma enfermeira e o pessoal operacional. São atendidos por mês 25 estudantes, em até três sessões por semana, fora do período de aulas nas escolas. Ivani Rodrigues desconhece se todos os deficientes auditivos da cidade são beneficiados pela educação, em unidades normais ou especiais. Contudo, estima que a surdez, em seus vários níveis, atinge 1% da população. Pais de crianças surdas têm curso por correspondência Muitos pais nâo têm acesso aos programas oferecidos pelo Cepre porque moram em outras cidades. A partir desta constatação, criou-se um curso por correspondência para pais de crianças surdas, que já contemplou mais de mil famílias, inclusive de estados distantes como Tocantins e Amazonas. Em 12 lições, procura-se oferecer informações sobre a surdez, diminuir a ansiedade dos pais em relação à educação da criança e amenizar a falta de profissionais especializados, notadamente na zona rural. O Cepre presta atendimento a deficientes auditivos e visuais há mais de 20 anos, com uma equipe multidisciplinar formada por 25 profissionais, entre pedagogos, lingüistas, assistentes sociais, psicólogos, arte-educadores, fonoaudiólogos, médicos e pessoal de apoio. São atendidas no momento cerca de 150 pessoas. A coordenadora Maria de Fátima Françozo explica que o Cepre está em condições de trabalhar com crianças a partir de zero ano e assiste também a adolescentes e jovens adultos. Também são oferecidos cursos de extensão e em nível de pós-graduação para especialização em deficiência visual e surdez, educação e reabilitação de surdos e de aprimoramento profissional na área de saúde. Paralelamente, os profissionais executam inúmeros projetos para avaliação e prevenção de deficiências, análise do processo de desenvolvimento dos deficientes e de investigação de suas relações com a família e a comunidade. O serviço prestado ao deficiente visual, os cursos de especialização e as pesquisas merecerão matéria à parte no futuro. TELEFONES DO CEPRE Atendimento: (19) 788-8801 |
© 1994-2000 Universidade Estadual de Campinas Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP E-mail: webmaster@unicamp.br |