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Robôs são integrados a dispositivos
em célula de manufatura automatizada
Metodologia desenvolvida
por aluno da FEM
pode ser usada pela indústria automobilística
JEVERSON
BARBIERI
A
integração de uma plataforma colaborativa, cujo processo operacional
é controlado e executado por meio de equipamentos mecânicos
e eletrônicos, desenvolvida pelo aluno de doutorado Luís Gustavo
de Mello Paracêncio, do Departamento de Projetos Mecânicos
(DPM) da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp,
estabeleceu uma nova metodologia capaz de integrar robôs industriais
e outros dispositivos que compõem uma célula de manufatura
automatizada. A validação do trabalho foi
realizada utilizando conceitos de mecatrônica, integrando
dois robôs industriais a um dispositivo de posicionamento
– uma mesa – capaz de realizar movimentos de translação e
rotação de no máximo três graus de liberdade. Isso permite
que os robôs trabalhem simultaneamente com a simetria da peça.
A metodologia pode ser utilizada na indústria automobilística.
De acordo com o orientador da tese, professor João Maurício
Rosário, existe uma lacuna no Brasil quanto ao desenvolvimento
da ferramenta, uma vez que o país está passando do estágio
de montador para desenvolvedor, como é o caso da indústria
automobilística – os fabricantes, por exemplo, têm optado
por montar veículos em países diferentes de suas fábricas-sede.
O sistema prevê que cada robô
seja controlado de modo independente por um equipamento, enquanto
outro dispositivo faz a integração entre eles. Além disso,
um software comum a esses robôs controla tudo isso. Foi nesse
momento que Paracêncio encontrou uma grande dificuldade: como
fazer os dois robôs trabalharem juntos de maneira harmoniosa?
Como esse era o objetivo prioritário da pesquisa, tornou-se
fundamental especificar o que era necessário para integrar
esses elementos. “Logicamente, para cada aplicação a forma
de integração é diferente, mas a metodologia é praticamente
a mesma, muda apenas o modelo matemático”, explicou o orientador.
A pesquisa desenvolvida pelo
aluno teve uma ênfase industrial muito grande, embora com
peso matemático e científico bastante expressivo, que é justamente
a integração de robôs numa célula de manufatura. No caso da
indústria automobilística, essa metodologia permite projetar
células de montagem de automóveis, com possibilidade de flexibilidade
e rapidez na troca do modelo de um automóvel. E isso faz parte
do pacote de exigências de uma indústria de equipamentos,
que está sempre desenvolvendo novos produtos e realizando
novas mudanças. Existem produtos que necessitam de renovação
constante e com esse tipo de ferramenta isso é totalmente
possível, uma vez que as bibliotecas estão integradas e os
dados, sempre atualizados. “Isso é uma lei cada vez mais frequente
em automação, porque hoje é preciso ter rapidez no desenvolvimento,
baixar custos e ter alto poder de integração”, ressaltou Rosário.
Para validação dessa pesquisa,
o aluno utilizou uma peça de soldagem completa, fornecida
por um fabricante de caminhões. Devido à complexidade, foi
necessária a utilização de mais de um robô e outros dispositivos
que permitissem a sua movimentação para a operação de soldagem.
O robô, quando está dentro do volume de trabalho dele, faz
qualquer coisa. O problema nesse caso é abranger toda a peça,
uma vez que é preciso acrescentar graus de liberdade a mais
no sistema. “Nesse estudo, o mais interessante de ser observado
é que existem várias condições com o mesmo problema. Ele poderia
utilizar os dois robôs, sendo um para pegar a peça e movimentá-la,
enquanto o outro robô poderia trabalhar nela. É o mesmo princípio,
mas para uma peça de dimensões muito grandes o dispositivo
não tem capacidade de carga. O robô disponível para essa operação
tem capacidade de carga máxima de 10kg, por isso adotamos
a construção de uma mesa para realização desses movimentos
e trabalho colaborativo”, observou o orientador.
Outro desenvolvimento resultante
desse trabalho foi o software chamado “Supervisor”, que é
um programa central que controla todas as informações. O operador
pode estar via web, em sua sala, e ver o que está acontecendo
on-line. Dessa maneira, ele poderá programar e controlar todas
as operações, de qualquer parte do mundo, dentro de um padrão
de segurança.
Em termos de tempo, custo
e precisão, a metodologia desenvolvida por Paracêncio possui
uma influência muito grande no resultado final. No entanto,
a grande dificuldade do custo é a mão-de-obra. Se não existem
pessoas capazes de dominar essas tecnologias de integração,
o processo torna-se mais caro. A metodologia matemática e
o procedimento é que irão resultar na diminuição de tempo,
precisão e custo, e a mão-de-obra no Brasil não está familiarizada
com o procedimento. É necessário, portanto, direcionar esse
trabalho. Rosário citou como exemplo o fato de uma indústria
automobilística no Brasil praticamente não precisar de engenheiros,
porque todo projeto vem de fora. “Eles têm essa metodologia,
repassando-a para as montadoras aqui. Juntamente, vêm os programas
para os robôs já prontos. Basta fazer a parte de calibração,
que é acertar os pontos de referência e está tudo certo. Só
que essa metodologia nós não temos e esse é um dos objetivos
do trabalho: mostrar essa metodologia de tal forma que se
possam conceber coisas complexas”, argumentou.
Uma
das idéias centrais do trabalho consiste em ter uma bibliografia
a respeito do assunto, além de exemplos de referência porque
se trata de propriedade industrial. Todas as técnicas estão
disponíveis no mercado, aponta Rosário, no entanto não existe
nada formalizado porque quem detém a tecnologia seguramente
não irá liberar. “É como um quebra-cabeça, no qual é preciso
juntar peças para chegar ao resultado”, afirmou o professor.
Montadora
Dentro da linha de desenvolvimento de sistemas, Rosário contou
que a empresa automobilística francesa Renault procurou o
seu laboratório para solucionar um problema parecido de integração.
O projeto de uma nova fábrica no Brasil, totalmente projetado
e especificado na França, tinha a previsão inicial de utilização
de diferentes robôs industriais, e no projeto final implementado,
foram utilizados outros tipos de robôs, ocasionando erros
consideráveis de posicionamento, decorrentes dos modelos destes
robôs serem bem diferentes, justificando assim a necessidade
de metodologia de modelo, proposta nessa tese de doutorado.
Quando o automóvel chega na
linha de montagem é preciso acertar o posicionamento, no entanto,
com a mudança dos robôs não era possível acertar o ponto de
precisão e isso causava um erro. Ainda que todo processo de
montagem estivesse correto, a mudança dos robôs não permitiu
que o sistema fizesse a calibração automaticamente. O responsável
pela área passava a madrugada toda calibrando o sistema.
A equipe da FEM desenvolveu
então um sistema com visão capaz de tornar a calibração manual
em automática. “Todo esse sistema complexo só funciona bem
se estiver projetado de maneira correta”, afirmou Rosário.
Para ele, é preciso que a indústria brasileira desenvolva
essa cultura de planejamento, uma vez que o “jeitinho brasileiro”
em automação não funciona. Este novo conceito também é chamado
de prototipagem rápida de células flexíveis de manufatura,
que avança rapidamente e os projetos têm que ser mais fundamentados.
Cada vez mais é preciso saber o que se quer e, em função disso,
saber exatamente o que é preciso ser feito.
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