Porcelana destinada ao descarte vira argamassa
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
Chega
a 30 mil toneladas por ano a produção brasileira de isoladores
elétricos de porcelana de alta e baixa tensão para distribuição
de energia, equipamento utilizado em postes de iluminação,
usinas hidrelétricas e, até mesmo, em residências como isolante
de eletricidade. Deste montante, 75% são destinados às substituições
das peças que perdem a sua função isolante. A questão, no
entanto, é que o corpo metálico do isolador é reaproveitado
para outras finalidades, enquanto que a parte de porcelana
é descartada de forma inadequada em terrenos baldios, beiras
de estrada e outros locais. Essa situação levou o engenheiro
civil Marco Antonio Campos a realizar ensaios que permitiram
adicionar resíduo da porcelana que seria descartado na natureza
em misturas que resultaram em novos tipos de concreto e argamassa.
Os experimentos deram certo.
Campos obteve um material vantajoso do ponto de vista de resistência
e economia. Os dados constam da dissertação de mestrado apresentada
na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo
(FEC), que foi orientada pela professora Ana Elisabete P.
G. A Jacintho.
O processo de transformação
é relativamente simples do ponto de vista metodológico. A
moagem do resíduo da porcelana foi feita de forma a gerar
tanto a areia grossa – ou agregado miúdo na linguagem técnica
– e brita 1 ou agregado graúdo. Tanto a areia quanto a brita
permitiram resultados com granulometria similar à utilizada
tradicionalmente na construção civil. Por sinal, a areia feita
de resíduo de porcelana foi o material que obteve melhor desempenho
nos ensaios em laboratório.
Já os testes de substituição
foram etapas complexas, pois demandaram muitos dias de experimentos
para estabelecer comparativos. O engenheiro testou a areia
e a brita com substituições nas classes de 25%, 50%, 75% e
100% e fez os ensaios após três, sete e 28 dias. “Estas comparações
entre os dias e porcentagens de material eram necessárias
para conhecer o desempenho do material em várias formulações
diferentes”, esclarece Campos.
O ensaio de resistência mecânica
de compressão simples compreende a medição da capacidade que
o material tem de suportar a pressão. Já o teste de absorção
da água visa medir o quanto de água o concreto ou argamassa
absorve, pois quanto menor a capacidade de água, menor o consumo
de cimento na mistura. “Os resultados foram similares às misturas
feitas com materiais tradicionais e, em alguns casos, foram
até superiores. A única questão foi o endurecimento do concreto
ocorrer de forma mais rápida. Mas, isso foi perfeitamente
contornado com o acréscimo de aditivos”, explica.
Uma das vantagens econômicas também tem a ver com os testes
de absorção da água. Os resultados apontaram que
o material não absorve a água, o que significa a diminuição
do consumo de cimento para produção do concreto. Ou seja,
possibilita uma economia substancial de material para a composição.
Segundo Campos, as análises demonstraram que a proposta é
perfeitamente viável. Ele lembra que a porcelana branca –
matéria-prima dos isoladores – são altamente resistentes devido
às temperaturas elevadas a que é submetida – em geral, até
dois mil graus.
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