Para
além de apenas tirar as crianças e adolescentes da rua,
o educador físico Leopoldo Katsuki Hirama propõe um tratamento
pedagógico ao esporte praticado por pessoas sob coordenação
de ONGs e entidades sociais, para que seja contemplado um
desenvolvimento integral deste público. Segundo Hirama,
é importante que se conheça a realidade das crianças e adolescentes
para que os projetos sigam na mesma linha e não seja algo
isolado dentro do contexto.
“Tornou-se recorrente dizer que o esporte tira as crianças
da rua. Com isso, o que observamos são iniciativas que encaram
o esporte apenas como recreação ou como atração para outras
atividades. Não há um projeto pedagógico ou elementos que
caracterizem continuidade. É claro que estes aspectos são
importantes, mas o esporte pode ser um fenômeno capaz de
oferecer muito mais”, destaca.
O estudo de Hirama, orientado pelo professor Paulo Cesar
Montagner e apresentado na Faculdade de Educação Física
(FEF), concentrou-se na favela de Heliópolis, na capital
paulista, que possui mais de 120 mil habitantes em um quilômetro
quadrado. Trata-se de uma das regiões com maior densidade
demográfica do Estado de São Paulo e lá, segundo o educador
físico, constam vários projetos sociais nas mais variadas
categorias.
Para a sua pesquisa, Hirama mudou-se para a favela e permaneceu
três anos no local. O próprio educador treinou 30 adolescentes
entre meninos e meninas, na modalidade voleibol, que não
poderiam mais participar das atividades da entidade por
conta de terem completado 14 anos. “Os alunos reivindicaram
a continuidade dos treinamentos e também a participação
em campeonatos regionais. Eles defendiam não só a continuidade,
mas um aprofundamento na dinâmica de abordagem do esporte”,
afirma.
Durante dois anos, a equipe competiu e obteve poucas vitórias.
Mas, segundo Hirama, os relatos eram de que os atletas aprendiam
mais com as derrotas do que com as vitórias. “Ficou claro
a importância da continuidade nas atividades, pois além
da participação em competições, muitos ajudavam em outros
projetos como monitores”, revelou. Para complementar o estudo,
Hirama também entrevistou um grupo de moradores que tiveram
envolvimento com o projeto sócio-educativo.
Ele colheu depoimentos de pais, educadores e dos atletas
para reafirmar a sua tese de que a realidade em que a criança
e adolescente está inserida é um fator fundamental para
o desenvolvimento das atividades esportivas. “Para implementar
uma proposta esportiva é necessário compreender a realidade
e traçar o panorama da comunidade”, esclarece. O estudo
de caso de Heliópolis, segundo Hirama, orienta para reflexões
sobre estruturas de projetos sociais para áreas periféricas.