13/10/2008 – O Brasil coordena pesquisas 
                      científicas na Antártica há 25 anos. Nunca, entretanto, 
                      ultrapassou os limites costeiros
                      da região. Nem chegou a pisar sobre o continente antártico, 
                      mas apenas sobre o manto de gelo que cobre seus arredores. 
                      Esse cenário será radicalmente alterado no próximo mês com 
                      a expedição “Deserto de Cristal”, comandada por pesquisadores 
                      do Programa Antártico Brasileiro (Proantar).
                    Pela primeira vez, um grupo formado por quatro pesquisadores 
                      gaúchos, três cariocas e um chileno irão desenvolver uma 
                      série de trabalhos científicos em terras antárticas,
                      a 2000 km ao sul da estação brasileira Comandante Ferraz. 
                      Durante 40 dias serão estudados fenômenos ligados à biodiversidade 
                      e às correntes atmosféricas e marítimas da região. O objetivo 
                      dessas pesquisas é compreender a relação dos fenômenos antárticos 
                      com eventos de temperatura, clima e, principalmente, mudanças 
                      climáticas brasileiros. “Dizer que pesquisas na Antártica 
                      não interessam ao Brasil é um grande mito. O continente 
                      antártico é o mais próximo da América do Sul. A Antártica 
                      e o seu clima importam ao Brasil tanto quanto a Amazônia”, 
                      afirma o glaciólogo da Universidade Federal do Rio Grande 
                      do Sul (Ufrgs) e líder da expedição antártica brasileira, 
                      Jefferson Cardia Simões.
                    Simões diz que muitas das frentes frias que atingem a costa 
                      brasileira são formadas e se desprendem do Círculo Polar 
                      Antártico. Correntes marítimas que circundam a região antártica 
                      também se comunicam com os oceanos Pacífico, Índico e Atlântico, 
                      influenciando uma série eventos climáticos brasileiros. 
                      Por último, o gelo antártico guarda componentes atmosféricos 
                      dos mais remotos tempos, o que permite o estudo da contribuição 
                      humana na poluição atmosférica global e nas mudanças climáticas.
                    A expedição “Deserto de Cristal” faz parte das ações brasileiras 
                      no Ano Polar Internacional (2007-2009). O Ministério de 
                      Ciência e Tecnologia (MCT) liberou R$ 28 milhões para pesquisas 
                      na Antártica durante esse período. Até mesmo um novo navio 
                      foi comprado pela Marinha para substituir o Ary Rongel que 
                      atualmente trabalha na região. A nova embarcação, que ainda 
                      não é um navio quebra-gelo, deve estar à disposição dos 
                      cientistas brasileiros no início de 2009. “Até 2002 a pesquisa 
                      científica brasileira era feita por indivíduos curiosos. 
                      Os investimentos não passavam de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões 
                      para o total de projetos. Hoje buscamos formar grupos temáticos 
                      em áreas de atuação estratégicas. Nossas pesquisas precisam 
                      ser relacionadas a questões de grande interesse ao país”, 
                      reforça Simões.
                    (Luiz Paulo Juttel)