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Experimentações.
Do samba ao maracatu
MARIA
ALICE DA CRUZ
O
diferencial no primeiro CD do grupo Caruwa, composto por
graduandos e músicos formados pela Unicamp, é que ele
já nasce premiado. Fruto do primeiro lugar concedido pelo
Fundo de Incentivo à Cultura de Campinas (Ficc), o álbum,
com o mesmo nome do grupo, será lançado no Teatro do Centro
de Convivência Cultural de Campinas, dia 21, às 20h30.
O “primeiro filho” tem a honra de contar com a participação
do contrabaixista francês Tibô Delor, a flautista Léa
Freire, a Oficina de Cordas de Campinas e a cantora Lívia
Nestrovski. O CD Caruwa foi gravado pela antiga formação
do grupo: Rafael de Lima (saxofone), Victor Lessa (violoncelo),
Ivan Gomes (contrabaixo acústico), Rodrigo Monteiro (violão),
Fábio Augustinis (percussão) e Vinícius Muniz (viola caipira).
No show do dia 21, o violeiro será Pedro Montessanti,
atual integrante do grupo.
Totalmente autoral – metade das músicas é de Lima e a
outra é de Monteiro e Gomes –, o disco é composto por
releituras e experimentações sobre diversos ritmos brasileiros,
como maracatu, samba, baião, arrastapé, entre outros.
“Cada música tem uma certa peculiaridade, apesar de serem
todas instrumentais e baseadas na releitura de ritmos
brasileiros (com exceção de Savana). “Gaia é um maracatu
em 7/8 que vira marcha-rancho e tem sessões mais contemplativas
com influências do Oriente Médio. Sobre a chuva e o depois
é baseada em samba. Savana é baseada num ritmo africano.
Encantamento tem citações de baião e arrastapé. Ritualística
começa com um solo contemplativo de viola caipira e, no
final, se transforma numa ciranda. Valsa Caipira vai do
experimentalismo erudito contemporâneo a algo parecido
com uma guarânia caipira”, explica.
A instrumentação diversificada, segundo Lima, foi sempre
uma das características principais do Caruwa; a junção
de instrumentos originários da música erudita – como o
violoncelo – com instrumentos típicos da música popular
– como o saxofone e a viola caipira – possibilita a criação
de uma sonoridade moderna, capaz de criar caminhos sonoros
ousados e improváveis. A premiação, de acordo com o compositor
e arranjador Rafael de Lima, é a realização de um sonho
antigo, que teve início em 2005, na graduação em música
pela Unicamp. O Ficc, segundo o saxofonista, é o primeiro
prêmio do grupo, mas alguns dos integrantes têm outras
premiações e seleções no currículo.
A experiência acadêmica, na opinião de Lima, teve grande
importância em sua formação profissional. “Devo grande
parte da minha produção musical às chances que a universidade
me proporcionou, tanto de aprendizado, quanto de contato
com a música e outros músicos”, acrescenta. Quando foi
criado, em 2005, o grupo era composto somente de estudantes
de Universidade, mas atualmente conta com instrumentistas
formados em outras instituições. Em 2007, o grupo esteve
sob supervisão dos professores do Departamento de Música
da Unicamp Esdras Rodrigues (violino e música de câmara)
e Mário Campos (prática de grupo, arranjo e regente do
Coletivo Orquestral da Unicamp).
Além do trabalho no grupo, cada instrumentista traça
sua própria história profissional; grande parte dela na
companhia de músicos reconhecidos pelo público nacional
e internacional, como o ex-aluno e ex-professor da Unicamp
Rogério Boccato. Lima destaca com orgulho a atuação dos
instrumentistas como professores. Em setembro, um workshop
ministrado na Estação Cultura, em Campinas, estimulou
alguns alunos do Projeto Guri a prestarem o vestibular
para o curso de música da Unicamp. “É muito bom saber
que influenciamos de alguma maneira outras pessoas. Apesar
de sermos, além de estudantes, professores de música,
nunca demos um workshop juntos, espero que tenha sido
o primeiro de muitos”, diz Lima.
Para ele, as escolas deveriam abrir as portas para que
os artistas pudessem “não somente mostrar a música como
opção profissional, mas também para mostrar que existe
outro tipo de música, que não faz parte da ‘indústria
cultural’ que domina os meios de comunicação. Acho que
como a leitura de bons livros faz parte da educação de
um jovem, todas as outras artes devem e são essenciais
para a formação do caráter de um indivíduo”, conclui.
Quem é quem
Rafael de Lima
Iniciou seus estudos aos 13 anos com trompete. Em
2004, ingressou em composição na Unicamp, representada
por ele no 16º Encontro da Associação Internacional
de Escolas de Jazz (IASJ) nos Estados Unidos. Em solo
norte-americano, participou do Jamey Aebersold Summer
Jazz Workshop, onde teve aulas com David Baker, Jerry
Coker, Jamey Aebersold, Jim Anidero, Rufus Reid, Dave
Leibman. No Canadá, participou de uma semana de workshops
com Dave Leibman e teve aulas de arranjo com Michael
McClean. Fazem parte de seu currículo de aluno, os
professores Lea Freire, Roberto Gnatalli, Carlos Malta,
Vitor Alcântara, Mané Silveira, Ray Moore, Paulo Braga,
Djalma Lima, Ubaldo Versolato, Guello e Cleber Almeida.
Fábio Augustinis
Aos 11 anos de idade começou a estudar bateria no
Conservatório Musical Beethoven, em São Paulo. Orientado
pela professora Miriam Cápua, participou de diversos
grupos de percussão, entre eles o Pacumpá e o Cordão
Ziriguidum, dirigido por Oswaldinho da Cuíca. Rogério
Boccato foi seu orientador no curso de graduação em
música popular da Unicamp. Nos workshops que freqüentou,
teve aulas com Ramon Montagner, Felix Astor, Sérgio
Gomes, Edu Ribeiro e Benjamin Taubkin. Atualmente,
integra grupos musicais de gêneros e formações distintas,
como Timbaleio, Hojos de Fidel e Trio Obatalá.
Victor Lessa
Antes de ingressar no curso de música erudita na Unicamp,
no mesmo ano que Lima e Augustinis, Victor Lessa estudou
no conservatório Carlos Gomes e se formou no curso
técnico em música da Escola Municipal de São Paulo,
sob orientação de Ricardo Fukuda. Além da participação
em importantes festivais, o violoncelista integrou
diversas orquestras e atualmente faz parte da Orquestra
de Cordas de Campinas e da Camerata Brasiliana. Com
acompanhamento do professor da Unicamp Dimos Goudarolis,
desenvolve técnicas de violoncelo popular, paralelo
aos estudos de erudito com Fábio Presgrave. Lessa
pesquisa novos timbres e sonoridades no violoncelo,
buscando fundamentar o instrumento em sua total versatilidade.
Ivan Gomes
Aos 6 anos de idade, Ivan Gomes já tinha como professor
o saxofonista João Fernando, seu pai. Antes de estudar
contrabaixo acústico no curso de música popular da
Unicamp, onde ingressou em 2006, já havia trocado
o sax pelo contrabaixo elétrico, aos 10 anos de idade.
Com o contrabaixista (elétrico) Ricardo Finazzi, estudou
concepção de levada de funk, reggae e, principalmente,
ritmos brasileiros. Atualmente, integra um quarteto
de jazz, e trabalha com trilha sonora e dança.
Pedro Montessanti
Do grupo, Montessanti tem o mais novo RA da Unicamp
e é o mais novo integrante. Calouro do curso de bacharelado
em composição, é guitarrista da banda Mister Ed, violeiro
do Caruwa e do projeto Hermeneutica. Apesar da jovem
carreira, já conquistou com a Mister ED a primeira
colocação nono Uninove Fest Music, no qual concorreram
mais de 300 bandas. Aos 14 anos, começou a tocar violão.
Durante um ano e meio, cantou no Coro Juvenil da Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). O currículo
profissional é enriquecido com a participação no Festival
de Inverno de Campos do Jordão e os estudos no centro
de Estudos Musicais Tom Jobim (antiga ULM).
Rodrigo Monteiro
O interesse pelo violão e pela música instrumental
brasileira conduziu Monteiro ao curso de música popular
da Unicamp. Aos 16 anos, ele iniciou estudos de guitarra
com João Maggioni, ex-professor do conservatório Souza
Lima. As aulas de música instrumental com este professor
tinham como principal enfoque o improviso, principalmente
o jazzístico. No Conservatório de Tatuí, antes de
passar no vestibular da Unicamp, Monteiro teve aulas
com Ari Piassarolo e Hector Costita.
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