Cerca
de 70% do acervo do Museu da Cidade de Campinas, localizado
ao lado da Estação Cultura, está interditado por necessidade
de restauro. O quadro se arrasta há pelo menos dez anos
sem uma proposta legítima de recuperação de um dos patrimônios
mais importantes do município. “O Museu da Cidade perdeu,
ao longo dos anos, a finalidade para a qual foi criado.
Sua premissa deveria ser a coleta, a pesquisa, a preservação
e a difusão da história e cultura da cidade, assim como
fomentar fóruns e debates sobre os problemas e as possibilidades
da cidade contemporânea. Nada disso ocorre. No máximo, acontecem
exposições esporádicas emprestadas de outros setores e instituições
que não refletem a sua principal missão”, denuncia a artista
plástica Luciana Dultra Britto, que apresentou dissertação
de mestrado no Instituto de Artes (IA) sobre o tema.
O Museu da Cidade de Campinas foi um dos pioneiros do país
com a proposta de ser um centro especializado em história
e cultura urbana. Foi inaugurado em 1992, quando o então
Secretário Municipal de Cultura, o historiador Célio Turino,
idealizou um museu que tratasse do contexto urbano. Reuniram,
na época, três acervos que estavam no Bosque dos Jequitibás
que significaria a inclusão da diversidade cultural, social
e étnica de Campinas no espaço museológico. São eles o Museu
do Índio, o Museu do Folclore e da História de Campinas.
De lá pra cá, no entanto, várias iniciativas foram realizadas,
sem que a proposta inicial fosse contemplada.
Depois de várias visitas ao local, Luciana, que foi orientada
pela professora Maria José de Azevedo Marcondes, apurou
que as peças do Museu nunca passaram por uma recuperação
e, com isso, foram se deteriorando com o tempo. “O Museu
não possui reserva técnica, local adequado para guarda e
manutenção do acervo e nunca teve um museólogo, profissional
responsável por pesquisar sentidos e significados do acervo
para elaborar novas concepções de exposição e estabelecer
uma comunicação entre o objeto e o visitante do museu”,
destaca a artista plástica que por dez anos esteve à frente
das atividades do Itaú Cultural.
Ela salienta ainda que não existe perspectiva de um plano
estratégico capaz de revitalizar as atividades do museu,
bem como realizar a restauração do acervo para torná-lo
disponível à população, que mal freqüenta o espaço. “Pelo
grau de degradação o volume de recursos necessários seria
muito grande. Acho difícil conseguir uma solução equilibrada
para o problema”, avalia.
Luciana Britto destaca que existem 12 museus na cidade
de Campinas e todos de administração pública municipal.
No entanto, as ações mais visíveis contemplam, apenas, o
Museu de Arte Contemporânea, localizado ao lado da Prefeitura
e, ainda assim, observa, este atua como uma galeria para
exposições de arte moderna e não como um centro de pesquisa
de arte contemporânea. Em sua opinião existe também uma
falta de integração entre os museus. “Eles não trabalham
de forma colaborativa e um ignora a existência do outro”.