MANUEL
ALVES FILHO
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A
pesquisadora Taíla Andrade Lemos: possibilidade do desenvolvimento de novas
drogas |
Pesquisa realizada no Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron por Taíla Andrade Lemos para a tese de
doutorado, orientada pelo professor Jörg Kobarg e defendida junto ao Instituto
de Biologia (IB) da Unicamp, identificou possíveis funções
para uma nova proteína humana conhecida como CGI-55. Neste estudo foi mostrado
que a proteína CGI-55 interage com nove proteínas, o que permitiu
inseri-la num contexto funcional celular. A investigação sugere
que ao atuar com as demais parceiras, a proteína CGI-55 pode
estar associada aos processos de regulação da expressão gênica,
da modelagem da estrutura da cromatina, da apoptose (morte celular programada)
e ao reparo do DNA. O trabalho fornece novas direções para a condução
de estudos mais detalhados sobre as funções desta proteína.
No caso da descoberta do papel desta proteína reguladora na célula,
o seu possível envolvimento em processos patogênicos poderá
ser desvendado, permitindo o melhor entendimento de doenças e a possibilidade
do desenvolvimento de novas drogas.
A proteína
CGI-55 foi inicialmente identificada em bancos de dados de seqüências
de aminoácidos e por comparação com uma outra proteína
humana chamada Ki-1/57, que foi isolada de células de linfoma de Hodgkin.
As seqüências de aminoácidos destas duas proteínas têm
alta similaridade (67%). A alta similaridade sugeriu que as duas proteínas
possuem funções relacionadas, explica a bióloga. A
partir daí, a pesquisadora passou a investigar, com o auxílio de
uma técnica denominada duplo-híbrido em levedura, o
possível contexto celular funcional da CGI-55, por meio da identificação
das proteínas associadas a ela. As proteínas são freqüentemente
sociais como nos seres humanos, e interagem com outras proteínas
para realizar suas tarefas celulares. Assim, pode-se aprender muito sobre as possíveis
funções de uma dada proteína quando suas parceiras celulares
são identificadas. O orientador, professor Jörg Kobarg, pesquisador
no Centro de Biologia Molecular Estrutural do Laboratório Nacional de Luz
Síncrotron, explica: Simplificando, a busca da função
de uma nova proteína através de sua interação com
outras proteínas é um pouco como uma investigação
policial de uma pessoa desconhecida. O policial procura a família, os amigos
e os colegas dessa pessoa para obter informações sobre sua vida.
O passo seguinte foi descobrir em que parte da célula
a CGI-55 estava localizada. Usando a técnica de microscopia de fluorescência,
a bióloga verificou que a proteína encontrava-se distribuída
no citoplasma, no núcleo e na região perinuclear sob a forma de
grânulos. Ao longo da pesquisa, Taíla constatou ainda que a maioria
das proteínas que agem em parceria com a CGI-55 está associada estrutural
ou funcionalmente a corpúsculos nucleares denominados corpúsculos
PML (proteína de leucemia promielocítica), que estão envolvidos
em processos de apoptose, de regulação da expressão gênica
e de supressão de tumores. A partir de agora, conforme a autora da tese
de doutorado, serão necessárias novas pesquisas para determinar
em detalhes o papel da CGI-55 no organismo humano. Se ela estiver realmente
relacionada com o processo de oncogênese, surgirão novos desafios.
O próximo passo será purificar a proteína CGI-55 em larga
escala para a obtenção de cristais, o que permitira estudar sua
estrutura tridimensional através de difração de raios X,
afirma.
Em outras palavras, o livro escrito sobre a
função desta proteína ganhou páginas novas, mas continua
carecendo de alguns detalhes para ser concluído e compreendido plenamente.
Antes de se chegar a uma aplicação prática, adverte a autora
da tese de doutorado, há a necessidade de novas investigações
para entender todos os aspectos funcionais desta proteína. Parte do trabalho
realizado por Taíla foi publicado em janeiro deste ano no periódico
internacional FEBS Letters. O estudo desenvolvido por Taíla contou com
o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (Fapesp) e do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron
(LNLS).