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Luisa
Paragua Donati, doutoranda do Ia, pesquisa que valeu o prêmio Cultural Itaú |
Luisa
Paraguai Donati, em sua pesquisa sobre “computadores vestíveis” premiada pelo
Itaú Cultural, escreve sobre Edward Hall, teórico do uso do espaço informal pelo
homem em suas relações sociais. Ele definiu o que chama de zonas “proxêmicas”:
espaço íntimo, para abraços e sussurros (15cm a 46cm); pessoal, para conversas
entre bons amigos (0,5m a 1,2m); social, para conversas entre pessoas (1,2m a
3,6m); e público, para discursos (3,6m ou mais).
“Nós
dois estamos aqui, numa conversa profissional, mas poderia ser entre amigos ou
em família. Conforme o grau de afinidade e o contexto, uma pessoa pode se aproximar
ou se afastar da outra. É uma relação espacial que também depende da cultura:
durante uma conversa, o inglês se posta diferentemente do brasileiro”, observa
a pesquisadora. Mesmo que Edward Hall leve em conta estas diferenças culturais,
Luisa Donati pretende se valer da visualidade destes espaços interpessoais estabelecidos
por ele para nortear um projeto ainda no papel, mas que já um tem título: “Vestis”.
Como mostram
as ilustrações desta página, produzidas pela própria pesquisadora, “Vestis” é
uma estrutura formada por diversos aros metálicos, formando uma unidade, mas que
permite extensões e contrações de cada aro de maneira independente. Tais movimentos
são determinados por sensores e controlados por micromotores, garantindo à estrutura
uma forma dinâmica. Toda a movimentação será gerenciada por um aplicativo, a partir
de impulsos enviados por participantes remotos e usuários da Web. Pretende-se,
assim, através de “Vestis”, formalizar esteticamente estas espacialidades corpóreas,
que se expandem e contraem a partir das interações estabelecidas.
“A
idéia deste projeto é compreender estas relações espaciais, considerando que hoje
a possibilidade de mediação tecnológica transforma o corpo e projeta sua ação,
propondo outras atribuições para o significado de distância/proximidade, visibilidade/tactibilidade.
Ao experimentar os aros contraindo e expandindo, impedindo ou ampliando os movimentos,
reformulando o contorno físico da gente, este espaço de atuação que não é só metafórico
passa a ser perceptível. Há pessoas mais contritas, contidas e outras que gesticulam
e jogam os braços, e isto diferencia o entendimento deste espaço corpóreo. ‘Vestis’
irá mediar a relação entre as pessoas no espaço – que poderão se aproximar, se
afastar ou tocar os aros – e os participantes via internet – que vão ‘existir’
por meio de sons”, explica Luisa Donati.
A
arte por baixo
dos computadores ‘vestíveis’
LUIZ
SUGIMOTO
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Abaixo
o "cyberjacke: parceria entre Hewlett Packard Lab e a Bristol university |
Eles
já estão ganhando formas de óculos com microcâmeras
e design futuristas, de plaquetas menos estéticas mas adaptáveis
ao pulso, de anel ou caneta ligados a um processador preso ao cinto, de casacos
que trazem sensores no avesso. Os computadores vestíveis (wearcomp)
ainda estão chegando timidamente ao Brasil, mas encontram-se bastante difundidos
na Europa e Estados Unidos, segundo Luisa Paraguai Donati, uma engenheira civil
que fez cursos de computação e vídeo e se deixou arrastar
para o ciberespaço.
Em 1999, ao
defender seu mestrado no Instituto de Artes sobre o uso de câmeras na Web,
Luisa soube pela primeira vez de Steve Mann e seu computador vestível.
O ano passado ela passou na Inglaterra, no programa CAiiA-STAR, realizando uma
pesquisa em torno dos recentes computadores. Estas interfaces móveis, quando
conectadas na Web, podem transmitir e receber textos, imagens, sons, e assim capacitam
os usuários a um espaço de informação controlado e
operado por eles mesmos.
A
reflexão da pesquisadora da Unicamp a respeito das mudanças verificadas
no campo da arte com o advento dos wearcomp, resultou em um trabalho que mereceu
o Prêmio Itaú Cultural, dentre 340 concorrentes na categoria Rumos
Pesquisa, criada este ano para estudos da relação entre artes
e mídias. O computador vestível gera outra forma
de sinergia entre o homem e o computador, pois oferece uma área pessoal
de comunicação, onde o usuário estabelece conexões
através do próprio corpo por meio do uso de sensores. Quando conectado
à Web este dispositivo potencializa a capacidade do usuário de interagir
simultaneamente em diferentes espaços físicos remotos e digitais,
afirma Luisa Donati.
A pesquisadora explica
que o computador comum (desktop) foi desenvolvido para permanecer fixo
na mesa, e que o computador de mão (laptop) trouxe certa mobilidade, podendo
ser utilizado fora de casa, no carro ou avião. Com o wearcomp esta mobilidade
é bem maior, já que a pessoa não precisa mais parar com o
que está fazendo para consultá-lo; ele é especialmente elaborado
para adaptar-se ao corpo em função das atividades a serem realizadas.
A roupa do astronauta é, acima de tudo, um computador vestível.
Ao sair da nave para executar reparos, ele pode ao mesmo tempo enviar imagens,
consultar banco de dados e receber orientações da tripulação
e da Nasa, ilustra.
Entre
vários exemplos da nova ferramenta comunicacional detalhados em sua pesquisa,
Luisa Donati cita uma interface semelhante a um capacete de imersão, que
captura imagens de um ambiente em tempo real e auxilia o deficiente visual em
suas atividades diárias; um aplicativo específico exacerba as cores
das imagens, realçando assim os contornos dos objetos e permitindo que
o usuário os identifique sem ajuda. Uma jaqueta dotada de GPS (Global Position
System) é capaz de localizar um londrino perdido na cidade e orientá-lo
até o pub mais próximo. Outra ferramenta alerta para a proximidade
de um carro, por meio de sensores que geram pequenas descargas elétricas
no braço de um operário de via pública, sem que este precise
desviar a atenção do trabalho. O wearcomp estende a ação
do usuário, abrindo a possibilidade de interferências em outros ambientes
físicos remotos e, em algumas situações, ampliando a sua
capacidade sensória e perceptiva, resume a pesquisadora.
Nas
artes O interesse maior de Luisa Donati, contudo, está na aplicação
dos computadores vestíveis no campo das artes. Ela lembra que
a possibilidade de projeção da ação humana já
ocorre com a telerobótica, muito presente na telemedicina e que inclusive
alçou um robô a Marte. O que torna um computador vestível
diferente é o uso de sensores e a possibilidade de incorporar dados
tanto da pessoa que o utiliza como do meio ambiente em torno. Estes dados podem
ser imagem, som, batimentos cardíacos, temperatura, localização
geográfica, entre outros. A partir desses dados, diferentes ações
e respostas podem ocorrer e gerar outro tipo de compreensão sobre as possibilidades
de mediação da ação/presença humana,
observa.
A
pesquisadora acrescenta que tudo isto pode ser ampliado diante da
possibilidade de incorporar elementos digitais na relação com o
real (augmented reality), e assim transformar a percepção
espacial e temporal das pessoas. O uso desta interface vem possibilitando
uma redefinição dos limites pessoais de atuação e
percepção de sentidos. Por isso, alguns artistas vêm se valendo
desta tecnologia para experimentar a possibilidade de presença mediada
em distintos espaços e códigos, informa.
Como
último exemplo, Luisa mostra o Teleactor, um projeto na Web
onde uma pessoa, vestindo um capacete com câmera, passa a ser
monitorada remotamente por usuários que decidem para onde ela deve ir e
o que fazer. A sensação é de que se está andando
pelo ambiente remoto através da garota, sendo possível reconhecer
a existência simultânea de outras pessoas naquele espaço, embora
alocadas fisicamente em diferentes lugares. Os participantes deste
sistema colaboram mais do que competem, ao compartilharem experiências remotas,
finaliza.
Enquanto doutoranda no mesmo Departamento
de Multimeios do IA, sob orientação do professor Gilbertto Prado,
Luisa Donati tem sua pesquisa inserida em um projeto maior, denominado wAwRwT.
Este grupo visa realizar trabalhos artísticos na Web e promover a discussão
sobre as poéticas tecnológicas. Neste sentido, um projeto pessoal
de Luisa, que ainda depende de equipe e de recursos para ser viabilizado, merece
o texto à parte publicado nesta página.