Entre as atividades em desenvolvimento no acordo entre a Fapesp e o CNRS, a Unicamp organizou nos dias 5, 6 e 7 de dezembro, no salão nobre da FE, o seminário “Qual o sentido da modernização social do trabalho?”? A Lucie Tanguy, socióloga francesa, ministrou três palestras, debatidas por pesquisadores da Unicamp. Tanguy é diretora de pesquisa do CNRS, vinculada ao Laboratoire Genre, Travail, Mobilites da Universidade de Nanterre. Na oportunidade, ela destacou a importância da cooperação científica entre os dois países, salientando que Brasil e França apresentam diferenças históricas e similitudes sociais. “O mais importante, no caso de uma pesquisa como a que estamos desenvolvendo, é olhar para as singularidades dos países e promover um estudo comparativo que possa enriquecer o conhecimento sobre a realidade daqui e de lá”, afirmou.
Segundo a professora Liliana Segnini, a cooperação científica existente neste acordo entre brasileiros e franceses na área da sociologia do trabalho já se desenvolve há dez anos. No período de 2000 a 2003, esta relação, anteriormente informal em torno de referências teóricas e temas de pesquisa, foi institucionalizada. A conseqüência desse novo estágio deu origem a outro acordo, este celebrado entre a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil (Cofecub). Naquele momento, os temas centrais dos estudos relacionavam-se com as mudanças nas relações profissionais e de trabalho e com a problemática da formação. “Ou seja, o acordo atual é conseqüência do trabalho que realizamos no passado o que proporcionou ótimos resultados, como a publicação de diversos artigos e a formação de doutores e pós-doutores”, explicou a docente da FE.
Em relação à cooperação em vigência, a professora Liliana salientou que a sua duração será de quatro anos. O primeiro deles, que está sendo cumprido, já possibilitou publicações acadêmicas e seminários, tanto no Brasil e na França. Um dos eventos possibilitou a vinda da pesquisadora Helena Hirata, em agosto passado. As pesquisadoras na Unicamp estão empenhadas em compreender, juntamente com seus mestrandos e doutorandos, dois campos de trabalho no Brasil. Eles indagam o significado sociológico do processo de formação de professores, no campo do ensino; e de músicos e bailarinos, no campo da arte, no Brasil e na França. “Estamos investigando, entre outros aspectos, o papel do Estado, da escola e da família nesse processo de formação”, destaca Liliana Segnini. Além disso, em vários subprojetos, analisam a inserção desses profissionais no mercado de trabalho e as múltiplas possibilidades de desenvolvimento de carreiras, nos dois países. “Um dado importante em relação a essa pesquisa é que a equipe brasileira também realiza estudo de campo na França, discutindo suas análises com os colegas franceses”, destacou a professora Aparecida Neri de Souza, também da FE da Unicamp.
Entre os diversos fatores associados à formação e ao trabalho nos dois campos pesquisados, emergem questões importantes, que têm merecido um olhar atento por parte dos pesquisadores nestes tempos de globalização. O desemprego e a precarização do trabalho são dois exemplos nesse sentido. “Acreditamos que os estudos comparativos das realidades brasileira e francesa nos fornecerão dados que nos auxiliarão a compreender melhor a importância do trabalho nas relações sociais atuais. O fundamental, nessa pesquisa, é que as duas sociedades sejam consideradas a partir das suas trajetórias históricas. São essas trajetórias que permitem aos países vivenciarem o mesmo fenômeno social com especificidades próprias, mesmo que apontem para sentidos semelhantes”, destacou a professora Neri. É neste sentido que se inscreve a discussão realizada por Lucie Tanguy, ao analisar os primórdios históricos da sociologia do trabalho na França, a institucionalização da formação profissional, inclusive nos Institutos do Trabalho, voltados para a formação política de sindicalistas pelas universidades.