A divulgação dos resultados de estudos acadêmicos sobre temas polêmicos, como a contaminação ambiental, merece maior preocupação por parte dos pesquisadores. Se há consenso quanto à importância da divulgação científica para a sociedade, ela também deve ser realizada de forma eficaz, sem prejudicar a população envolvida. A chamada “comunicação de risco” é um conceito relativamente novo, focado na troca de informações entre diferentes atores sociais, basicamente no que se refere a sua natureza, magnitude, interpretação e gestão do risco. O conceito ganhou força com o acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, devido à dificuldade dos cientistas em transmitir ao público leigo informações técnicas a respeito dos riscos.
“A comunicação é fundamental para a comunidade científica, que é consciente disso. Mas é preciso rever as formas de divulgação, considerar todas as facetas, pois esse tipo de pesquisa, por si, já é de natureza alarmante”, explica a jornalista Gabriela Marques Di Giulio. Ela é autora de dissertação de mestrado desenvolvida no Departamento de Política Científica e Tecnológica, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, que traz novamente ao debate a questão da comunicação de risco.
Gabriela realizou um estudo de caso na cidade paranaense de Adrianópolis, no Vale do Ribeira, que ficou conhecida nacionalmente em 2001, quando a grande imprensa veiculou dezenas de matérias evidenciando a contaminação de moradores por chumbo resultante das atividades de mineração praticadas entre 1945 e 1995 na região. A jornalista analisou matérias e entrevistou moradores e autoridades do município, com o objetivo de avaliar o impacto posterior na comunidade das informações veiculadas. “As conseqüências foram bastante negativas. Os moradores acabaram rotulados pejorativamente como ‘chumbados’ e, com isso, tiveram dificuldades para encontrar emprego em outros locais. Também houve desvalorização das terras e propriedades, sendo que os produtos agrícolas foram rejeitados, por um tempo, pelos consumidores de outros municípios”, informa.
Com a orientação dos professores Newton Müller Pereira e Bernardino Ribeiro de Figueiredo, ambos do Instituto de Geociências, Gabriela Di Giulio também entrevistou pesquisadores que estudaram o caso de Adrianópolis, jornalistas que participaram da cobertura e autoridades da Secretaria de Saúde do Paraná. Ela ressalta que o principal intuito da pesquisa, financiada pela Fapesp, foi promover a discussão em torno da comunicação de risco. “Não trata de apontar se a imprensa acertou ou errou, mas de promover uma reflexão, tanto por parte dos jornalistas como dos pesquisadores, sobre as formas de divulgação e seus impactos”, justifica. Nesse sentido, Gabriela acredita que também faltou uma estratégia para envolver representantes da comunidade na gestão do risco, o que é fundamental no processo. “Não basta informar a comunidade, é preciso garantir que ela participe ativamente do processo decisório para a solução dessas situações consideradas de risco”, observa.
Segundo Gabriela, seu trabalho contribui para evidenciar que, embora pesquisadores e órgãos públicos estejam preocupados com a comunicação de risco, ainda há um longo caminho a percorrer até que estratégias utilizadas em outros países sejam adotadas aqui. “Falta aos brasileiros reconhecer o direito e o dever de participar mais ativamente dos processos de tomada de decisão, assim como falta aos pesquisadores uma maior consciência sobre o envolvimento das comunidades antes e durante a realização de suas pesquisas. Também ao poder público, falta uma legislação que assegure a validação desses direitos”.