O Hemocentro da Unicamp inaugurou no dia 7 o primeiro Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário (Bscup) do interior de São Paulo, como parte do RedeCorp. O projeto da Universidade, que teve apoio financeiro do Hospital Israelita Albert Einstein no valor de R$ 50 milhões e que envolve parceria com este hospital e com a USP, entra em operação com a proposta de atingir “velocidade cruzeiro”, 12 mil amostras em cinco anos de trabalho. “Podemos até ultrapassar 20 mil. O doador brasileiro é sobretudo altruísta. Cerca de 1.700 pessoas têm indicação de transplantes de medula ao ano”, afirma o superintendente do Albert Einstein, Carlos Alberto Moreira-Filho.
Média anual é de 1.700
indicações de
transplantes
de medula
O banco de sangue internacional conta com mais de 180 mil cordões no momento. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) é o órgão que os centraliza as informações. “Temos uma lista de doadores potenciais e, na prática, são cinco milhões de doadores cadastrados. A espera média para transplante de medula é de seis meses; de cordão, cerca de 20 dias. A população brasileira é bastante variada geneticamente. Se fôssemos todos caucasianos, quatro mil cordões cobririam as necessidades de nossa população”, estima Moreira-Filho.
Durante inauguração, uma placa foi descerrada no segundo andar do Hospital das Clínicas da Unicamp pelos médicos Joyce Annichino Bizzacchi, responsável pelo Hemocentro; Djalma de Carvalho, coordenador de administração do HC; Moreira-Filho, do Albert Einstein; Ângela Luzo, diretora do Serviço de Transfusão do Hemocentro; e Sara Saad, coordenadora associada do Hemocentro. O pró-reitor de Desenvolvimento Universitário, Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva, realçou a importância do projeto, salientando que mais uma vez o Hemocentro e a Faculdade de Ciências Médicas lideram um trabalho de porte.
O RedeCorp pode captar, selecionar e armazenar cerca de 600 unidades ao ano nos hemocentros da Unicamp, Albert Einstein e USP-Ribeirão Preto. No Japão, 50% dos transplantes de medula já são feitos com as células extraídas do sangue do cordão umbilical. Segundo a hemotologista Joyce Annichino, o banco de sangue de cordão umbilical tem reconhecida importância assistencial e abre novas portas para pesquisas e projetos futuros, com estudos pré-clínicos já sendo efetuados.
O Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário na Unicamp segue a proposta de atender a uma parcela cada vez maior da população. Os investimentos do Albert Einstein foram de R$ 1,4 milhão para os novos laboratórios de manipulação e cultura celular, e de criogenia, todos localizados no HC. Uma das aquisições é o “BioArchive”, equipamento que poderá armazenar até 3 mil bolsas com células-tronco e que possui um sistema automatizado de congelamento, armazenamento e localização das bolsas.
No âmbito da Unicamp, as coletas de sangue de cordão umbilical serão realizadas em hospitais-maternidades, a princípio no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) e no Hospital Estadual Sumaré (HES). Ângela Luzo fez um agradecimento especial aos obstetras do Caism, que pessoalmente coletaram as bolsas. “Estas bolsas custam R$ 4 mil só pela coleta que é feita intra-útero”.
A diretora do Hemocentro lembra que o ano de 1996 foi marcado por muitos questionamentos éticos sobre o projeto, mas mediante consulta ao Cremesp ele foi aprovado. O Ministério da Saúde acaba de viabilizar um projeto junto ao BNDES que permitirá reunir capital para adequação das unidades do BrasilCord e lançou uma portaria para o custeio e armazenamento da rede. Em 2004, o Bscup do Inca e a plataforma paulista foram os primeiros integrantes da rede pública nacional – BrasilCord, sendo que o Inca e o Albert Eisntein já estavam em funcionamento.
Histórico - A hematologista Sara Saad teceu uma rápida cronologia do projeto de instalação do banco. Informou que o primeiro transplante foi realizado em Paris em 1989, com célula umbilical, sendo instalado, a seguir, o primeiro banco – New York Cord Blood. Em 1995, a médica do Hemocentro Ângela Luzo foi enviada ao Hospital Saint Louis para um treinamento e, em 1996, realizou um plano piloto já com 100 bolsas de sangue coletadas. Em 1997, o Reforsus constituiu-se um subproduto para a implantação de um banco na Unicamp, quando foram comprados dois containers de criopreservação, com capacidade de oito mil amostras. Em 2003 foi criada a plataforma paulista, SP-Cord, e em 2004 o projeto RedeCord.
A partir do projeto multiusuário da Fapesp foi incluída uma rede a vácuo de distribuição de nitrogênio líquido, com apoio da Universidade e adequada às normas da Anvisa. “Não tínhamos como manter este banco, exceto pela contrapartida que veio do Ministério da Saúde e do Albert Einstein, dando continuidade à iniciativa. Agora será possível efetuar trocas de amostras com os Estados Unidos e a Europa. O Einstein custeará por cinco anos as bolsas armazenadas. A Unicamp já tem uma área física de 125 metros quadrados destinada ao projeto, além dos laboratórios necessários”, revela Sara.
Medula - O sangue do cordão umbilical é utilizado para o transplante de medula. Trata-se de células mais jovens e indiferenciadas. Além das doenças onco-hematológicas (leucemias, linfomas, anemia e doenças hereditárias do sangue), estas células são usadas no tratamento das doenças auto-imunes. Em vez de 100% de compatibilidade obrigatória entre doador e receptor no caso dos transplantes de células da medula óssea, o transplante com células do sangue de cordão umbilical exige apenas 70% de compatibilidade.
As células-tronco surgem no ser humano na fase embrionária. Após o nascimento, alguns órgãos ainda mantêm dentro de si uma pequena porção de células-tronco, que são responsáveis pela renovação constante desse órgão específico. Essas células conseguem se reproduzir, duplicando-se e gerando duas células com iguais características; e conseguem diferenciar-se, ou seja, transformar-se em diversas outras células de seus respectivos tecidos e órgãos. Um exemplo é a célula-tronco hematopoética, que no adulto se localiza na medula óssea vermelha. Na medula óssea, ela é responsável pela geração de todo o sangue. Essa célula é efetivamente substituída quando realizado um transplante de medula óssea.