|
Grupo da Unicamp participa
de publicação
do primeiro artigo científico do LHC
Trata-se do primeiro
texto produzido a partir
de pesquisas realizadas no âmbito do ALICE
JEVERSON
BARBIERI
O
experimento ALICE, um dos quatro que vêm sendo desenvolvidos
no LHC (Large Hadron Collider) – o maior acelerador de partículas
do mundo, localizado na fronteira da Suíça com a França –,
teve artigo científico aceito para publicação no European
Journal of Physics. Trata-se de um marco histórico, pois é
o primeiro artigo produzido a partir de pesquisas realizadas
no LHC e que tem os alunos da Unicamp como co-autores. Da
Unicamp, integrante oficial do experimento, participaram o
professor Jun Takahashi, do Departamento de Raios Cósmicos
e Cronologia, do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW),
e os alunos Mauro Cosentino (pós-doutoramento), David Dobrigkeit
Chinellato (doutorado), Geraldo Magela Vasconcelos (doutorado)
e Rafael Derradi de Souza (doutorado). Embora de acordo com
o docente o resultado apresentado na publicação, que se encontra
na faixa de energia de 900 GeV (900 bilhões de elétrons-volt),
seja inferior ao que se pretende alcançar, ele é muito importante
porque mostra que o LHC está funcionando perfeitamente e que,
num curto período de tempo, novos resultados científicos serão
produzidos.
O docente do IFGW explicou
que essa mesma faixa de 900 GeV já foi medida no passado.
Foi mais além, quando disse que o Fermilab (Fermi National
Accelerator Laboratory), localizado no estado do Illinois
(EUA), já atingiu medidas na faixa de 2 mil GeV. E reconhece
que os dados tomados a 900 GeV não estão na fronteira do conhecimento.
No entanto, ressalta que esse resultado é muito importante
porque comprova que o LHC está funcionando perfeitamente e
que pesquisadores e alunos sabem o que estão fazendo. Takahashi
mencionou que o LHC foi desenhado para atingir 14 mil GeV,
o que significa que o experimento realizado está com o nível
de energia 15 vezes menor do que se pretende alcançar. “Esse
é um acelerador novo, o mais potente construído pelo ser humano,
cuja capacidade é 10 vezes maior que o último construído.
Estamos, portanto, em uma nova fronteira”, afirmou o docente.
Construído
para estudar as condições similares às do começo do universo
– o chamado “big bang” –, o ALICE é um conglomerado internacional
que envolve mais de mil cientistas do mundo todo, além de
todo o suporte técnico. Possui um conjunto gigantesco de detectores
e bilhões de câmeras fotográficas apontadas para o ponto de
colisão do prótons. Portanto, segundo Takahashi, é um trabalho
colaborativo que necessita de muitos profissionais, cada qual
com sua especialidade.
Todo grande acelerador que passou pela história da física
de partículas, acrescentou Takahashi, teve uma sequência de
publicações e descobertas. “O LHC, sem dúvida alguma, trará
muitas descobertas porque estamos indo para uma região nunca
explorada. O ALICE foi o primeiro a submeter um artigo e ter
sido aceito, o que comprova que o resultado apresentado é
sólido”, disse ele.
Quebrando barreiras
Takahashi revelou que a barreira dos 2 mil GeV já foi quebrada
no LHC, porém os resultados ainda não são públicos. Segundo
o pesquisador, demanda tempo analisar e entender os resultados,
além de todo o processo de confirmação e controle de qualidade,
o que não é trivial. “Existe todo um mecanismo científico
para que se chegue a um resultado final confiável”, observou.
No entanto, ele acredita que ainda até o final de 2009 o público
terá novas notícias.
Uma coisa é acelerar o feixe
de prótons e a outra é fazer a colisão. O tamanho de um próton
é 10-15 metros, girando em alta velocidade num anel de 27
km de extensão e, portanto, fazer a colisão não é tão fácil
assim. A partir da colisão, o tempo que se leva para o resultado
final é relativamente rápido porque quase tudo no experimento
foi automatizado. Foram feitos testes com simulações computacionais
e, a partir daí, toda uma cadeia de análises de dados com
esses eventos simulados. “Isso já vem sendo feito há cinco
anos. Todo o maquinário necessário para analisar os dados
foi testado exaustivamente”, contou Takahashi.
Para o trabalho que foi submetido
e aceito, o docente explicou que a primeira colisão ocorreu
no dia 23 de novembro passado. É, segundo ele, quase um recorde
nessa área de partículas. Um fato que, ao mesmo tempo que
atrasou todo o processo, colaborou para melhorar a simulação
foi a quebra do LHC, que ocasionou uma parada de um ano. “Não
é possível determinar o tempo de um processo científico. Nós
não sabemos o que será observado. Pode ser que a gente entenda
o resultado em cinco minutos ou até 20 anos depois. Reside
aí a beleza do desconhecido”, ponderou o pesquisador.
Expectativas
Existem perguntas sobre a natureza que os cientistas não sabem
responder. Por isso os experimentos no LHC geram uma grande
expectativa, de acordo com Takahashi. “Não entendemos porque
a natureza tem certas características, porque o universo é
feito de matéria e não de anti-matéria. São questionamentos
que nos fazemos”, disse.
Os cientistas, segundo o docente,
sabem que a anti-matéria existe e sabem, também, criar a matéria,
bastando para isso transformar a energia. E que, quando se
cria a matéria, cria-se também a anti-matéria porque a natureza
gosta de simetria, no entanto, o universo não é simétrico.
“Se tudo começou numa grande sopa de energia que acabou criando
matéria, para onde foi a anti-matéria?”, questionou. Outra
indagação que ele faz é a respeito da energia escura, cuja
existência a ciência comprova, porém não sabe explicar o que
é. “O cientista fica apreensivo e incomodado em não responder
a essas e outras perguntas”, disse.
Provavelmente, os experimentos
realizados no LHC poderão responder essas questões, por isso
a expectativa é muito grande. Para Takahashi, isso é divertido
e mantém a curiosidade e a mente jovem. “Entender o começo
do universo é como estudar o começo do ser humano. A evolução
esclarecerá porque ele se tornou o que é”, explicou.
Participação da Unicamp
Takahashi esclareceu que a aceitação da Unicamp no projeto
demandou muito tempo e garantias, não só de participação efetiva
como financeira, dada diretamente pelo Ministério de Ciência
e Tecnologia (MCT) e indiretamente pela Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), através das bolsas
de mestrado e doutorado. Desde 2008, a Unicamp participa como
membro oficial do LHC e, portanto, a parte burocrática já
foi preenchida.
O pesquisador espera que essa
colaboração aumente, uma vez que existe muito espaço para
gente competente e, segundo ele, isso a Unicamp possui, ainda
que a participação nesse projeto seja bastante exigente. “É
obrigatório ir para a Suíça, passar por um período de treinamento
e, também, de ajuda na montagem dos experimentos. Meus alunos
passam de três a seis meses por ano lá”, afirmou Takahashi.
O primeiro fruto desse trabalho
deverá surgir até o final de 2010, com a defesa da tese de
doutorado do aluno Davi Dobrigkeit Chinellato. “Será a primeira
tese de doutorado de um aluno da Unicamp, sobre as pesquisas
realizadas no LHC e, talvez, a primeira no Estado de São Paulo”,
garantiu Takahashi.
O maior acelerador de partículas
do mundo
Em funcionamento
desde 10 de setembro de 2008, o LHC (Grande Colisor
de Hádrons, em português), é o maior acelerador de partículas
do mundo, cuja forma é circular e tem 27 km de extensão.
Ao contrário dos demais aceleradores de partículas,
o LHC fará colidir prótons, acelerando dois feixes de
7 mil GeV, causando, dessa forma, uma colisão de 14
mil GeV.
Está localizado 100 metros abaixo da superfície, na
fronteira da Suíça com a França. São exatamente 1.232
imãs bipolares supercondutores de 35 toneladas e quinze
metros de comprimento atuando sobre as transferências
de energia. Além do ALICE, o LHC conta com os projetos
ATLAS, CMS e LHCb, que são detectores de partículas
que monitoram os resultados das colisões. Possuem entre
10 e 25 metros de altura – o equivalente ao tamanho
de um prédio de cinco andares e pesam cerca de 12.500
toneladas. O investimento realizado na construção do
LHC foi de três bilhões de euros.
|
|
|