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Dentista identifica alterações em ossos
de portadores de doença genética rara
Estudo é o primeiro do gênero no Brasil
com pessoas com Doença de Gaucher
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
A
Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba
(FOP) detecta alterações no maxilar e mandíbula de pacientes
com Doença de Gaucher atendidos no Centro de Hematologia e
Hemoterapia (Hemocentro) da Unicamp. Trata-se do primeiro
estudo brasileiro a analisar as condições orais e o crescimento
e desenvolvimento craniofacial dos portadores da doença genética
rara, que tem como sintomas alterações nas vísceras, no sangue
e nos ossos.
Segundo a cirurgiã-dentista
Flávia Riqueto Gambareli, autora da tese de doutorado defendida
na FOP, as condições ósseas desses pacientes foram afetadas,
sugerindo um quadro de osteopenia, que consiste na diminuição
da densidade mineral do osso, precursora da osteoporose. Outro
dado apresentado no estudo, orientado pela professora Maria
Beatriz Duarte Gavião, consiste no nascimento – ou erupção,
na linguagem técnica – precoce dos dentes das crianças acometidas
pela doença.
Os achados, segundo Flávia,
permitem entender melhor o mecanismo da enfermidade nos pacientes
adultos e infantis. Por se tratar de uma doença rara, nenhum
estudo brasileiro havia focado nestes aspectos referentes
à saúde oral e alterações craniofaciais. “Só dados da literatura
internacional são consultados, mas não retratam as especificidades
da população brasileira”, explica a pesquisadora que contou
ainda com a colaboração da cirugiã-dentista Maria Elvira Pizzigatti
Corrêa, responsável pelo atendimento dos pacientes do Hemocentro.
Além de avaliação clínica
oral completa e da análise de exames radiográficos, Flávia
aplicou um questionário para os 17 voluntários envolvidos
no estudo. Oito eram crianças e adolescentes, entre sete e
15 anos, e nove adultos, entre 27 e 53 anos.
Basicamente, a Doença de Gaucher ocorre a partir da mutação
de um gene e que por isso não codifica as enzimas de glicolipídeo.
Este, por sua vez, acaba sendo acumulado em órgãos como fígado,
baço e também na medula óssea, fazendo com que as alterações
sejam evidentes. Como principais sintomas, o portador apresenta
anemia constante, sangramento e aumento do baço e do fígado.
Para o tratamento é necessário
uma reposição enzimática na forma intravenosa, terapia realizada
em longo prazo, no próprio Hemocentro, mas que pode reverter
o quadro das alterações sanguíneas e dos órgãos viscerais.
No entanto, as condições dos ossos são de difícil reversão.
Por isso, a importância de compreender quando e como ocorrem
essas variações. “As crianças podem manifestar as mudanças
no crescimento craniofacial e, neste sentido, necessitar de
um acompanhamento constante”, explica.
No que diz respeito à saúde
oral desses pacientes, Flávia considerou que as crianças não
apresentaram boa saúde oral, mas algumas intercorrências interferem
na qualidade de vida delas. Já nos adultos, os exames detectaram
saúde oral deficiente e um impacto expressivo na qualidade
de vida.
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