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Dentista identifica alterações em ossos
de portadores de doença genética rara

Estudo é o primeiro do gênero no Brasil com pessoas com Doença de Gaucher

RAQUEL DO CARMO SANTOS


A cirurgiã-dentista Flávia Riqueto Gambareli: achados permitem entender melhor o mecanismo da enfermidade nos pacientes (Foto: Antoninho Perri) A Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) detecta alterações no maxilar e mandíbula de pacientes com Doença de Gaucher atendidos no Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro) da Unicamp. Trata-se do primeiro estudo brasileiro a analisar as condições orais e o crescimento e desenvolvimento craniofacial dos portadores da doença genética rara, que tem como sintomas alterações nas vísceras, no sangue e nos ossos.

Segundo a cirurgiã-dentista Flávia Riqueto Gambareli, autora da tese de doutorado defendida na FOP, as condições ósseas desses pacientes foram afetadas, sugerindo um quadro de osteopenia, que consiste na diminuição da densidade mineral do osso, precursora da osteoporose. Outro dado apresentado no estudo, orientado pela professora Maria Beatriz Duarte Gavião, consiste no nascimento – ou erupção, na linguagem técnica – precoce dos dentes das crianças acometidas pela doença.

Os achados, segundo Flávia, permitem entender melhor o mecanismo da enfermidade nos pacientes adultos e infantis. Por se tratar de uma doença rara, nenhum estudo brasileiro havia focado nestes aspectos referentes à saúde oral e alterações craniofaciais. “Só dados da literatura internacional são consultados, mas não retratam as especificidades da população brasileira”, explica a pesquisadora que contou ainda com a colaboração da cirugiã-dentista Maria Elvira Pizzigatti Corrêa, responsável pelo atendimento dos pacientes do Hemocentro.

Além de avaliação clínica oral completa e da análise de exames radiográficos, Flávia aplicou um questionário para os 17 voluntários envolvidos no estudo. Oito eram crianças e adolescentes, entre sete e 15 anos, e nove adultos, entre 27 e 53 anos.
Basicamente, a Doença de Gaucher ocorre a partir da mutação de um gene e que por isso não codifica as enzimas de glicolipídeo. Este, por sua vez, acaba sendo acumulado em órgãos como fígado, baço e também na medula óssea, fazendo com que as alterações sejam evidentes. Como principais sintomas, o portador apresenta anemia constante, sangramento e aumento do baço e do fígado.

Para o tratamento é necessário uma reposição enzimática na forma intravenosa, terapia realizada em longo prazo, no próprio Hemocentro, mas que pode reverter o quadro das alterações sanguíneas e dos órgãos viscerais. No entanto, as condições dos ossos são de difícil reversão. Por isso, a importância de compreender quando e como ocorrem essas variações. “As crianças podem manifestar as mudanças no crescimento craniofacial e, neste sentido, necessitar de um acompanhamento constante”, explica.

No que diz respeito à saúde oral desses pacientes, Flávia considerou que as crianças não apresentaram boa saúde oral, mas algumas intercorrências interferem na qualidade de vida delas. Já nos adultos, os exames detectaram saúde oral deficiente e um impacto expressivo na qualidade de vida.

 

 
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