Brasil
já dispõe de boa infra-estrutura e de
pessoal altamente capacitado em nanociência,
mas ainda precisa superar um sério desafio
para tornar-se competitivo nessa área: somar
competências. A avaliação permeou
os debates travados durante mesa-redonda realizada
no último dia 6 de junho, dentro da oficina
sobre Nanociência e Tecnologia da Unicamp, promovida
pela Pró-reitoria de Pesquisa da Universidade.
Durante o evento, que reuniu cientistas, estudantes
e representantes de agências de fomento, o reitor
Carlos Henrique de Brito Cruz afirmou que o momento
exige ousadia. Creio que devemos começar
a pensar em um programa nacional que supere os objetivos
meramente acadêmicos. Fazer ciência é
importante, mas precisamos ir além, defendeu.
De acordo
com Daniel Ugarte, pesquisador do Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), o Brasil
não teria dificuldades em montar um projeto
na área de namomateriais, por exemplo, desde
que conseguisse promover a multidisciplinaridade.
Ele lembrou que o País dispõe de redes
de pesquisa que vêm desenvolvendo estudos importantes
nos segmentos da química, da física
e da biologia. O problema é que esses
trabalhos são conduzidos de forma isolada.
Um pesquisador não sabe o que o outro está
fazendo. Nós temos massa crítica, mas
enquanto não rompermos a barreira do isolamento,
não conseguiremos avançar, criticou.
Na opinião de Ugarte, o ambiente acadêmico
é um campo fértil para promover essa
interação. A Unicamp, com sua
excelência, poderia estimular seus docentes
e estudantes nesse sentido, sugeriu.
Para o
professor Jacobus Swart, coordenador do Centro de
Componentes Semicondutores (CCS) da Unicamp, o intercâmbio
entre as diversas áreas do conhecimento é
fundamental para a obtenção de resultados.
O docente lembrou que algumas unidades de ensino e
pesquisa da Universidade desenvolvem pesquisas relevantes
em nanociência, notadamente as faculdades de
Engenharia Química, Engenharia Mecânica
e Engenharia de Alimentos. Entretanto, creio
que poderíamos avançar ainda mais se
conseguíssemos formar uma rede integrada de
P&D e nanofabricação, disse.
A medida, acrescentou, exigiria, além de trabalhos
cooperados, investimentos na ampliação
das equipes e na criação de uma infra-estrutura
adequada.
Professor
do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e assessor
do Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), Fernando Galembeck também sugeriu maior
mobilização e interação
entre os diversos grupos envolvidos com estudos em
nanociência dentro da Universidade. Segundo
ele, para que ocorram avanços, é necessário
promover um melhor aproveitamento de pessoal, infra-estrutura
e equipamentos disponíveis. Os países
que dominam a microeletrônica, alertou, estão
investindo pesado em nanotecnologia. A Alemanha, por
exemplo, mantém dezenas de centros de competência.
Somente na área de nanoquímica são
113 unidades, compostas por empresas, universidades
e instituições de pesquisa.
Atualmente,
elas tocam oito projetos que têm por objetivo
o desenvolvimento de produtos tecnológicos.
Não se trata de um programa para simplesmente
fazer ciência, mas uma ciência que possa
ter aplicação. Esses centros conduzem
estudos objetivando resultados práticos,
relatou Galembeck. No âmbito do MCT, informou,
foram criadas quatro redes de pesquisa em nanotecnologia.
Somente em 2002, elas geraram mil artigos de 300 doutores
e 20 pedidos de patentes. No momento, o Ministério
está elaborando um programa de nanotecnologia
quadrienal.
O documento está na fase inicial, mas assim
que for concluído será objeto de debate
com a comunidade científica. A meta, de acordo
com Galembeck, é oferecer condições
para que as áreas envolvidas com a nanotecnologia
tenham chance de experimentar o mesmo salto do setor
químico. Superada as dificuldades geradas pela
abertura econômica, o segmento passou a faturar
US$ 45 bilhões ao ano e multiplicou por sete
o volume de publicações científicas,
além de estar gerando tecnologias próprias.
José
Fernando Perez, diretor científico da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp), afirmou que está convencido
de que é preciso buscar uma ação
consertada para alavancar a nanociência
no Brasil. Tal esforço, observou, tem que envolver
universidades, centros de pesquisa, empresas e agências
de fomento. Ele lembrou que os investimentos nessa
área são de alto risco, mas também
oferecem elevado grau de retorno. No entender dele,
há nichos a serem explorados, como o da biotecnologia.
Competência nós já temos.
O que nos falta é gerar competência em
escala, analisou, acrescentando que a Fapesp
já está refletindo sobre o assunto,
de modo a identificar oportunidades.
Terreno
comum Brito
Cruz concordou que é indispensável a
promoção da multidisciplinaridade, ressaltando
que a oficina promovida pela Pró-reitoria de
Pesquisa já se constituía num esforço
nessa direção. A idéia
do evento é justamente estimular o contato
mais intenso entre docentes e estudantes que trabalham
com nanotecnologia. Nosso objetivo é criar
uma interação num grau mais intenso,
para que sejam geradas idéias e proposições,
explicou. O reitor afirmou que tanto na Unicamp quanto
no Brasil há vitalidade nesse segmento. Temos
demonstrando resultados importantes tanto na esfera
científica quanto acadêmica, mas precisamos
ir além.
Para
ele, é fundamental elaborar estratégias
que permitam maior cooperação entre
as atividades em andamento, sem que estas percam sua
personalidade. Temos que procurar um terreno
comum, insistiu. Brito Cruz considerou possível
a criação de um ambiente que inclua
a iniciativa privada no esforço de expansão
da nanotecnologia, inclusive na etapa de concepção
de programas. A ousadia, reforçou, é
uma marca indispensável a esse tipo de ação.
Temos que mobilizar capacidades. Isso inclui
a Unicamp, o MCT, as agências de fomento, as
empresas e quem mais estiver disposto a somar esforços.
Não se trata de utopia, mas sim de trabalhar
com algum campo de visão. Quem sabe daqui a
cinco anos nós possamos contar com um consórcio
nessa área, que em mais cinco anos já
estará gerando riquezas para o País?,
questionou. E finalizou: A Reitoria da Unicamp
está interessada e disponível para ajudar
a montar uma operação dessa natureza.