Pedagoga cria programa
de alfabetização econômica
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Depois de elaborar um programa de alfabetização econômica para estudantes de Pedagogia de uma instituição de ensino superior, a pedagoga Sonia Bessa da Costa Nicacio Silva esperava que as atitudes em relação ao endividamento melhorassem. Isso não ocorreu na proporção desejada. Ela acredita que um dos principais fatores seriam os aspectos psicológicos envolvidos na decisão pessoal de se endividar como, por exemplo, utilizar o crédito para obter status e para sentir-se melhor. “Suspeitava que exercessem pouco controle sobre a situação financeira e poucas informações sobre crédito e taxas de juros. As atitudes para endividamento, com isso, estariam relacionadas à necessidade de aceitação a um determinado grupo, o ser e pertencer e outros motivos psicológicos de cunho pessoal”, esclarece.
Na verdade, Sonia Bessa pretende elaborar um projeto voltado para crianças com o objetivo de inibir os hábitos de consumo exagerado. Segundo ela, o consumismo entre as crianças e adolescentes é fato. “Basta observar o aquecimento do mercado de produtos infanto-juvenis nos dias atuais”, observa. Por isso, a estratégia da pedagoga foi, num primeiro momento, tentar intervir no processo de formação dos estudantes que, futuramente, serão aqueles com maior contato com o público infantil e juvenil.
“É importante saber se os estudantes e futuros educadores possuem uma boa formação em relação à alfabetização econômica”, destaca Sonia, que defendeu tese de doutorado sobre o tema na Faculdade de Educação, sendo orientada pela professora Orly Zucatto Mantovani de Assis. A pedagoga integra o grupo de psicologia genética que tem, entre outras atividades, o estímulo às discussões sobre educação econômica.
Para o estudo, Sonia aplicou um teste de alfabetização econômica e duas escalas de hábitos e conduta de consumo e atitudes em direção ao endividamento para 167 estudantes do primeiro, terceiro e sexto semestres de curso de Pedagogia. Percebeu, pelos resultados, que o conhecimento que possuíam era muito semelhante, e montou um programa de quatro meses apenas para os alunos do sexto semestre.
A intervenção educativa teve como objetivo favorecer a construção de noções econômicas básicas e estratégias para tomada de decisões pertinentes que permitam às pessoas posicionarem-se diante da sociedade de consumo como pessoas conscientes, críticas, responsáveis e solidárias. No conteúdo, foram ministradas palestras sobre direito do consumidor, relações de compra e crédito, investimentos e noções de economia de uma maneira geral. Para isso, contou com o apoio de um economista.
Depois de passar pela intervenção, Sonia aplicou novamente os mesmos instrumentos nos estudantes para comparar com os dados anteriores. Constatou que a melhora foi evidente no que diz respeito ao conhecimento sobre consumo, preços, taxas de juros e questões relacionadas à economia doméstica, o que significa que o programa de intervenção provocou mudança de nível de alfabetização econômica dos estudantes, e nos hábitos de consumo, mas as mudanças nas atitudes no que diz respeito ao endividamento não ocorreram na mesma proporção.