O desempenho da química brasileira só não é mais satisfatório porque não temos indústria, ou temos poucas que investem nessa área”. O diagnóstico foi feito pelo médico veterinário Jorge Almeida Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), durante palestra realizada no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, na última quinta-feira (14), cujo tema foi “Ações da Capes 2007-2010”. “A química brasileira é um sucesso, sobretudo se for considerado o fato de que há 25 anos havia apenas um grupo muito pequeno de pessoas com uma ação pouco centrada em síntese e mais em química analítica e produtos naturais”, observou.
Houve, segundo Guimarães, uma mudança substancial no quadro, baseada em dois instrumentos fundamentais. O primeiro foi o financiamento externo do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), que permitiu um importante salto de qualidade. O segundo foi o incremento da pós-graduação. “Financiamento e boa escolha de estudantes resultaram no que é hoje a química brasileira, uma das principais do mundo”, ressaltou Guimarães.
O gargalo, aponta Guimarães, reside no fato de que as grandes empresas não fazem pesquisa no Brasil, ignorando esse nicho de mercado. “A indústria farmacêutica, por exemplo, que é um grande empregador de recursos humanos no mundo todo, tem, no Brasil, uma atuação ridícula”, criticou. Guimarães acrescenta que faltou, ao longo desses anos, uma política de governo mais eficaz.
O presidente da Capes lembrou que o Brasil, mesmo sendo o maior produtor de suco de laranja do mundo, ainda importa ácido cítrico. “Não temos falta de químicos nem de competência. Falta a presença do setor industrial nesse contexto”, disse. Guimarães ressalta que, ao longo do tempo, faltou uma política industrial por parte do governo, instrumento que, segundo ele, “foi acoplado à ação da Capes, uma vez que, no Brasil, muito conhecimento é gerado, mas falta quem o utilize”.
A crescente produção científica brasileira, cujo resultado mais evidente são os vários depósitos de pedidos de patentes, foi lembrado por Guimarães como fator que pressiona a favor dessa nova política industrial. Segundo o pesquisador, Estados Unidos, Japão e Coréia, que são grandes produtores de patentes, mostram que, em média, 90% dessa produção tem como substrato científico pesquisas geradas no próprio país, desenvolvidas predominantemente com recursos públicos e que são apropriadas pelo setor industrial, porque isso faz parte desse sistema de interação.
Para o presidente da Capes, esse quadro já começa a se desenhar no Brasil. “A Unicamp tem mais patentes que a Petrobras. Entre as 20 maiores depositárias de patentes do Brasil, cinco são universidades, com a Unicamp à frente. Depois temos a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Juntas, representam 26% das patentes. Trata-se de uma distorção, já que no mundo desenvolvido a patente de origem gerada pelas instituições acadêmicas não passa de 3%. Nós estamos fazendo o dever de casa duplamente”, finalizou Guimarães.