Em 1969, o bioquímico alemão Friedrich Lavitcshka desenvolveu um complemento nutricional para pacientes debilitados e portadores de câncer. Os resultados de seus experimentos, em ratos, nunca foram publicados, mas sabe-se que o especialista testou, informalmente, o composto, batizado de TK-3, em humanos. Ao longo dos anos, no entanto, o bioquímico acabou transferindo a fórmula para um amigo, dono de laboratório. Agora, a Unicamp, mais precisamente o Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), realizou testes pré-clínicos do produto que pode ser uma esperança para os portadores de tumor maligno.
A veterinária Karin Maia Monteiro, que realizou todas as avaliações em ratos, explica que o efeito do produto está ligado diretamente à melhora da qualidade de vida do paciente, pois um dos grandes problemas da quimioterapia é o alto índice de efeitos adversos. “Muitos pacientes abandonam o tratamento por que não suportam as reações colaterais”, explica.
Nos relatos informais, conta, os doentes que ingeriam o produto apresentavam melhora no estado geral. “O que fizemos foi testar a toxicidade da formulação para que se prosseguisse com as experiências legais a fim de colocar o produto no mercado”, explica. Os testes pré-clínicos apontaram resultados altamente positivos. Tanto que o produto já vem sendo testado em humanos em experimento clínico realizado por outra instituição. Karin segue participando das experiências.
Na primeira fase dos estudos clínicos, feitos em indivíduos sadios, o produto também não apresentou toxicidade. A próxima etapa, a mais demorada, envolve experimentos em pessoas portadoras de tumor em tratamento quimioterápico. O teste é denominado “duplo-cego”, uma vez que o conteúdo do frasco que se está ingerindo é desconhecido do médico, da enfermeira e do paciente.
Anvisa Karin conta que o proprietário do laboratório detentor da fórmula procurou o CPQBA para orientações de como colocar o complemento no balcão da farmácia. A pesquisadora revela que tinha um interesse pessoal sobre o assunto, pois teve casos da doença na família. “Oferecemos todas as orientações e fizemos a parte inicial dos trâmites determinados pela Anvisa”, esclarece. A partir do trabalho desenvolvido, a veterinária elaborou dissertação de mestrado, sob orientação do professor João Ernesto de Carvalho, apresentando na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) os resultados de sua pesquisa.
Durante 90 dias, o composto foi administrado em ratos adultos, machos e fêmeas, com direito à avaliação clínica diária. Ao final do período, foi realizada uma bateria de exames para se verificar o efeito tóxico do produto. Os testes demonstraram também uma atividade contra úlcera gástrica. Mesmo não sendo este o foco da pesquisa, pois, segundo a veterinária, já existem diversos produtos eficientes no mercado que combatem a úlcera, essa atividade farmacológica confirma os relatos dos benefícios da ingestão da fórmula.
Com a identificação da atividade antioxidante, o estudo abriu o caminho para se conhecer a ação do suplemento alimentar no organismo humano. Foram feitos testes em camundongos com tumor de Ehrlich, com resultados de melhora nos parâmetros clínicos, inclusive com menor debilidade e retardo na morte.