Derrotar o inimigo utilizando gases venenosos não é uma arma exclusiva dos seres humanos. As abelhas indígenas brasileiras também se valem da proliferação de substâncias químicas para evitar, por exemplo, invasões em suas colônias. Entender o que está por trás da “guerra química” entre duas espécies de abelhas Meliponinae foi apenas um dos pontos abordados na dissertação de mestrado da química Adriana Pianaro. “A vida social das abelhas é marcada pela presença de várias substâncias produzidas por suas glândulas ou coletadas na natureza. Elas são empregadas, por exemplo, na defesa e no reconhecimento dos companheiros no ninho”, explica.
O trabalho de Adriana, que foi orientada pela professora Anita Jocelyne Marsaioli, quis comprovar também, por meio da química, comportamentos sociais que a área de biologia já explica, entre os quais as diferenças entre os machos e as operárias. Todos os estudos abordados por Adriana estão relacionados com a ecologia química das abelhas brasileiras. Foram contempladas as espécies Melipona rufiventris, Melipona scutellaris, Plebeia droyana, Nannotrigona testaceicornis, Tetragonisca angustula e Centris trigonoides. As cinco primeiras caracterizadas como abelhas sociais sem ferrão, pois possuem este instrumento de defesa atrofiado. Elas são encontradas em um meliponário, no município paulista de São Simão.
Os resultados alcançados apontam para questões significativas no esclarecimento do funcionamento da vida social dessas abelhas, que são de extrema importância para a flora brasileira. Só a subfamília Meliponinae contribui com 40 a 90% da polinização. As relações, segundo Adriana, são complexas e totalmente mediadas por substâncias químicas, por isso outros trabalhos devem ser realizados em parceria com os biólogos.
Guerra química A observação de uma bióloga sobre a invasão temporária de uma colônia de Melipona scutellaris por operárias de Melipona rufiventris levantou questões sobre o que estaria provocando a expulsão das operárias invasoras do ninho, sem que houvesse lutas entre as espécies. Assim, amostras de batumes que consiste em uma mistura de barro, própolis e cera que forma as paredes dos ninhos destas espécies foram coletadas e analisadas por Adriana.
O estudo revelou que as operárias de Melipona scutellaris retiravam resinas de plantas da família Anarcadiaceae, como o caju, e depositavam no batume da colônia, sendo que estas resinas possuem compostos fenólicos nocivos até mesmo aos seres humanos. Com o ambiente desagradável, as operárias invasoras fugiam do ninho.
As diferenças químicas entre machos e operárias das espécies Nannotrigona testaceicornis e Plebeia droryana foram objeto de outro estudo realizado por Adriana. A composição química presente na cera da cutícula, no abdome e na cabeça mostra uma diferença marcante entre as espécies e as castas. Adriana buscou, ainda, identificar se as abelhas Tetragonisca angustula e Centris trigonoides coletavam o óleo da planta Lophanthera lactescens conhecida popularmente como chuva-de-ouro-da-amazônia para ser usado como alimento ou na construção do ninho.