Os
desafios de irmã Noeli
Carmelita que atuou 11 anos em região
carente de
Campinas leva seu trabalho ao sertão de Pernambuco
irmã
Noeli Maria Massoni, carmelita da Caridade de Vedruna,
uma ordem religiosa espanhola, gosta de enfrentar desafios.
Formada em pedagogia e ciências administrativas
pela PUC-Campinas, passou 11 anos de seus 39 de idade,
literalmente, com o pé na lama da região
do Jardim São Marcos, onde ficam quatro bairros
nada saudáveis e tampouco de economia solidária,
ao norte Campinas. Os bairros são os Jardins São
Marcos, Santa Mônica e Campineiro, e o Recanto da
Fortuna.
Concluída
sua missão de formar líderes comunitários,
no início deste ano Noeli foi designada pela congregação
para abrir uma nova fronteira ao Vedruna pois esta
ordem religiosa foi idealizada para desbravar fronteiras,
onde a Igreja não chega e o poder público
é omisso. Noeli está agora em Custódia,
cidade castigada pela seca e o coronelismo no sertão
de Pernambuco.
Minha
experiência no São Marcos foi muito rica,
um perío-do de aprender muito e reforçar
convicções e esperanças. A gente
precisa sonhar e pensar em algo diferente e esta comunidade
me desafiou. Os desafios da violência, da moradia,
da habitação, da infra-estrutura, do transporte.
A irmã viveu na região de janeiro de 1990
até fevereiro passado. Seu primeiro desafio foram
as freqüentes mortes por atropelamento, vitimando
moradores que tentavam atravessar a Rodovia Dom Pedro
II no trecho entre os Jardins São Marcos e Santa
Mônica e a Rodovia Milton Tavares, o chamado Tapetão.
Protestos organizados pela comunidade resultaram em construção
de passarelas.
Visibilidade
Mais tarde, a congregação, que tem
sede no Santa Mônica, inaugurou no São Marcos
o Centro Assistencial Vedruna, unidade que atende aproximadamente
70 crianças e adolescentes de 7 a 14 anos de idade.
O centro é uma atividade que nos dá
visibilidade. A outra é a formação
de lideranças. Muitos dos que hoje estão
em política e sindicatos, ou à frente de
entidades, são frutos de um trabalho de despertar
e formar líderes comunitários. Modéstia
à parte, é um trabalho nosso que não
aparece, alegra-se Noeli.
Também
é uma realização do Vedruna o despertar
da consciência sobre a necessidade de se atuar em
rede. Noeli sente que o movimento ainda não se
propagou para outras regiões de Campinas, mas este
contágio não deve tardar. Durante
os diversos debates sobre Comunidade Solidária
na Unicamp, ela ouviu representantes de outros bairros
reivindicando essa integração. Outras
regionais já estão olhando para o São
Marcos, querendo aprender com eles. Isso vai irradiando.
Ensinamentos
O trabalho em uma das regiões mais carentes
da cidade também trouxe ensinamentos. Esses
problemas todos me motivaram e me mobilizaram. Eu disse:
é nisso mesmo em que eu tenho de acreditar.
Precisamos ter esperanças, que são checadas
e confrontadas diante dos desafios que a realidade impõe.
Eu me fortaleci e vou com essas esperanças revigoradas
para Pernambuco.
Atuando desta forma, Noeli diz ter descoberto o desafio
do trabalho em rede. O trabalho conjunto, o associativismo
ou o cooperativismo, são coisas muito importantes
diante desse novo contexto. Ou vamos por aí ou
morremos na praia. (J.M.R.)
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Formando
lideranças contra o coronelismo
A
carmelita Noeli Maria Massoni vai encontrar na cidade
de Custódia desafios não são muito
diferentes dos que ajudou a superar na região do
São Marcos. A fome, a pobreza, as drogas
e a violência são problemas comuns agravados
pela seca. É uma região extremamente abandonada,
que nunca contou com a presença de igreja, de uma
freira. O coronelismo é quem manda e desmanda.
Noeli está no sertão nordestino para organizar
e formar líderes populares que possam fazer frente
aos desmandos e promover o desenvolvimento da comunidade
local. Os primeiros contatos são feitos no
grito, segundo expressão usada pela própria
freira. Vamos à igreja, associações
e de casa em casa. Em cada local, uma estratégia,
ensina.
Noeli
vê como fundamentais os encontros como este promovido
pelo Ipes e a Unicamp. O evento é um passo
muito importante. Eu participei da edição
do ano passado com uma série de críticas,
ajudei até a desmantelar alguns programas. Mas
neste ano houve um salto qualitativo e quantitativo muito
grande. A participação da comunidade cresceu
muito, avalia. A irmã ressalta que várias
das propostas concretas apresentadas no ano passado puderam
ser viabilizadas
Durante este último seminário na Unicamp,
Noeli foi uma das coordenadoras do encontro Elaborando
Projeto, módulo que reuniu técnicos
da região, usuários de ONGs, professores
e alunos da Universidade, além de membros das comunidades.
O encontro estabeleceu estratégias para viabilizar
projetos em cima de três pontos concretos: a capacitação
para o cooperativismo, em parceria com a Unicamp; a realização
de eventos comuns na região para, a partir deles,
envolver e chamar outros eventos; e a formação
de comissões mobilizadoras para aglutinar representantes
de todas as forças da região, visando organizar
outras ações comunitárias.
Discípulos
Irmã Noeli foi para o Nordeste, mas deixou
sua marca, pois na região do São Marcos
ficaram vários discípulos. Um deles é
o jornalista Marcos Roberto Moreira, de 27 anos. Voluntário
de uma ONG, acabou indicado há quatro anos para
atuar profissionalmente no Centro Assistencial Vedruna
como educador. Promove várias atividades com crianças
e adolescentes, desde orientação nos estudos
até exercícios artísticos.
São
oito projetos diferentes envolvendo família, leitura,
reciclagem, redação, educação
artística etc. Uma mostra dos trabalhos pôde
ser vista em vários estandes que exibiram a produção
artística e artesanal da região, bem como
no desfile de modas inusitado de adolescentes com roupas
produzidas a partir de tecidos reciclados.
O
discurso e a prática
Universidade,
comunidade e os aviões-bomba
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