A ecentemente li o texto de uma psicóloga infantil sobre a importância da realização de festas de aniversário para crianças. O assunto foi trazido à tona por uma leitora do jornal que lamentava o fato de seu filho, ainda pequeno, ter a sensação de que o tempo estava passando muito rápido. A psicóloga usou o caso para argumentar não só a favor das festas infantis de aniversário, mas de todas as comemorações (Natal, Páscoa, Ano Novo, aniversário dos avós etc). A autora defendeu no artigo que, cada dia mais, nós desprezamos a comemoração de marcos importantes da nossa vida, que nos fazem colocá-la em perspectiva e realmente sentir a satisfação de termos conquistado tanto, considerando não o que acumulamos em bens, mas aquilo que realizamos.
Quando foi lançado o desafio de realizar o I Encontro de Ex-Alunos neste ano em que a Unicamp completa 40 anos, confesso que tive muitas emoções conflitantes. A primeira foi de completa surpresa, a segunda de susto pela empreitada em si, e a terceira veio algum tempo depois, ao começar a refletir sobre o evento – e o que me veio à mente foi exatamente o artigo da psicóloga. A argumentação dela sobre a relatividade do tempo quando comemoramos alguma coisa que conquistamos, partilhamos, enfim, vivemos, serviu como uma luva para mim ao pensar o I Encontro de Ex-Alunos da Unicamp.
O ano de 2006 foi pleno de atividades pelos 40 anos da Unicamp e todas as pessoas que delas participaram puderam buscar, lá no fundo de suas memórias, fatos vividos que para algumas pareciam adormecidos, mas que as comemorações trouxeram à tona novamente. E como foi bom. Ao longo do ano li, no Portal da Unicamp, muitas matérias que me fizeram relembrar velhas lutas, reivindicações, conquistas e muitas outras coisas que vivi em 31 anos que freqüento a Universidade. Mais ainda, tantas coisas que achava eu saber, sem fazer a menor idéia dos fatos reais. Para mim novamente foi confirmada a tese de que comemorar é bom para sentirmos que vivemos, e não que a vida passou por nós. E dentro deste espírito de comemoração foi gestado o I Encontro de Ex-Alunos da Unicamp.
Mas, à parte este turbilhão de emoções, o evento precisava ser organizado. Sair do plano do plano mental e ser executado. Neste ponto é que realmente comecei a duvidar de mim mesma, da capacidade de realizá-lo. Contei com várias pessoas que me auxiliaram muito, em todas as instâncias da Universidade. Independentemente disto, havia e há um problema real: como encontrar nossos ex-alunos? Claro que temos um banco de dados acadêmicos imenso, mas não podemos esquecer que internet, e-mail, estas coisas cibernéticas, embora associadas indelevelmente ao dia-a-dia de um grande número de pessoas, não existia em boa parte da vida da Unicamp (e olhe que ela é apenas uma jovem senhora). Deliciei-me com algumas coisas, por exemplo, turmas que não têm RA! Recordam? RA, aquela marca de qualquer aluno da Universidade. Pelo menos era o meu paradigma. Enfim, neste ponto contei com as redes de informação e informantes espalhadas pelas faculdades e institutos, que multiplicaram os contatos. Alguns informantes, demonstrando o espírito empreendedor característico da Unicamp, já criaram fóruns especiais de encontro de ex-alunos na internet.
No entanto, o resgate do contato com os nossos ex-alunos ainda precisa ser bastante trabalhado. A pergunta que me fiz durante esse período é, talvez, a pergunta que muitos se fizeram: no dia-a-dia da Unicamp, a sensação é de termos nossos ex-alunos muito próximos de nós; por que então precisamos encontrá-los, se parecem estar sempre por aqui? Quanto a isso, o ano de 2006, e a função de auxiliar na organização deste evento, me ofereceram uma noção muito mais adequada da dimensão da Unicamp e da velocidade com que ela cresceu. Aqueles que estão sempre vindo à Unicamp, ou trabalham por aqui, a reconhecem como alguém reconhece seu rosto no espelho todas as manhãs: mudamos muito pouco dia a dia, mas ao longo dos anos não é bem assim.
Neste processo de redescobrimento da Unicamp, olhando-a como uma desconhecida, observei que ela já colocou no mercado cerca de 40.000 alunos! Ela cresceu muito, concentrou suas energias em tarefas gigantescas – expandir vagas, desenvolver a pós-graduação, realizar pesquisas de gabarito e tantas outras atividades. Seduziu ex-alunos de tantas outras escolas que vieram nela trabalhar... Tanto em tão pouco tempo. Acredito que no momento ela está pronta para novos desafios, e um deles será certamente resgatar um vínculo mais fortalecido com seus ex-alunos.
À medida que todos esses elementos foram sendo digeridos, o evento foi sendo desenhado. E duas coisas ficaram muito claras. A primeira é o tom festivo deste I Encontro. Não que os próximos não serão festivos, mas certamente teremos muitas coisas a refletir em termos de parcerias, discussões, desenvolvimento, já que a Unicamp nunca vai se despir do seu papel de relevância no cenário brasileiro. Assim, o I Encontro de Ex-Alunos terá uma carinha de volta à casa pela primeira vez após uma longa ausência. A segunda é a necessidade de mostrar mais claramente aos ex-alunos as diversas portas da Unicamp para o regresso deles.
Esta primeira garimpagem nos trouxe várias informações: o contingente de “estrangeiros”, ex-alunos da Unicamp espalhados pelo mundo; as mudanças de carreira ocorridas ao longo da vida profissional; o empreendedorismo de vários ex-alunos abrindo frentes de trabalho e de atuação jamais pensadas ou imaginadas quando de suas passagens por aqui. No entanto, muitos destacam a importância da Unicamp em suas vidas. Assim, achávamos que a referência natural para eles seria a faculdade ou instituto de origem, o que não é verdade em inúmeros casos. Por esta razão selecionamos algumas portas de entrada até desconhecidas pelos ex-alunos, até porque foram abertas recentemente. Resumindo, o I Encontro de Ex-Alunos pretende ter realmente o caráter apenas e tão somente de uma grande confraternização, para lançar as bases do nosso relacionamento futuro.
E este relacionamento já começa a ser construído. Várias sugestões têm sido encaminhadas por ex-alunos que infelizmente não poderão estar presentes – e entre as principais razões está o curto período de divulgação do evento. A todos estes pedimos desculpas, mas a idéia é tornar este encontro permanente, com periodicidade ainda a ser definida. A fim de atender nossos objetivos, um novo portal está sendo desenhado, permitindo maior interatividade. Enfim, temos várias manifestações de ex-alunos no sentido de incrementar este relacionamento e todas serão levadas em conta.
Para finalizar, quero registrar o imenso prazer que tem sido organizar este encontro, apesar do curto prazo que tivemos para viabilizá-lo, em meio a um ano bastante exaustivo para todos na Unicamp. Até agora, parece que nossos propósitos vêm sendo alcançados. Eu jamais poderia imaginar que estaria na posição de receber os ex-alunos no dia 11 de novembro de 2006. Vai ser mais um daqueles marcos que, ao olhar para trás, me mostrarão as etapas da minha vida. A Unicamp já me proporcionou várias alegrias e, duas que destaco, são a formatura do meu filho aqui mesmo em 2005 e a oportunidade de auxiliar nesta tarefa de relacionamento com os ex-alunos. Sei que o evento ainda vai ser modesto para o porte e importância da Unicamp, mas foi dado o pontapé inicial.
Como já disse várias vezes, o I Encontro de Ex-Alunos tem a cara da Unicamp. E me perguntam por que estamos olhando longe, já pensando no próximo... Recordo-me de um amigo que nos almoços da única cantina das engenharias, a cantina do CABS, no início da década de 80, revelava a sua preocupação com a Unicamp: ela parecia uma gazela que poderia ser engolida pelo sistema, devido a sua fragilidade naqueles tempos de definição da sua identidade. Hoje, olhando para trás, diria que a Unicamp passou por dos episódios mais intrigantes e bem sucedidos de evolução, tranformou-se em um lince. E, como um lince, deu poeira na concorrência.
(Leia mais nas páginas 6 e 7)
Maria Teresa Rodrigues, professora da Faculdade de Engenharia Química, é coordenadora do Serviço de Apoio ao Estudantes (SAE), que organiza o I Encontro de Ex-Alunos da Unicamp