RAQUEL DO CARMO SANTOS
Até a década de 1980, a atividade física era contra-indicada para pessoas com esclerose múltipla, acreditando-se que o esforço poderia levar ao aumento da fadiga e à ocorrência de surto da doença. A pesquisa de mestrado de Otávio Luís Piva da Cunha Furtado, apresentada na Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, contribui para derrubar tal mística. Sob orientação da professora Maria da Consolação Gomes Tavares, o autor quis comprovar que atividades direcionadas e acompanhadas devidamente podem melhorar as condições de locomoção e a qualidade de vida dos portadores desta doença inflamatória crônica rara, de causas desconhecidas e que provoca dificuldades motoras e sensitivas, acometendo geralmente os jovens.
Otávio Furtado, educador físico, interessou-se pelo tema ainda na graduação, quando conheceu um portador que queria praticar atividades físicas. Ao procurar informações, surpreendeu-se com a falta de estudos na literatura nacional. “Na faculdade temos disciplinas genéricas que tratam de exercícios para portadores de deficiências e doenças mais comuns, mas nada específico sobre a esclerose”, afirma.
Em seu projeto de iniciação científica, Furtado estudou a possibilidade de oferecer ganhos de força a partir de exercícios em ciclo ergômetros e em meio aquático. Porém, não encontrou pesquisas sobre exercícios específicos de fortalecimento muscular para esta população. Na mesma linha, ele desenvolveu um projeto piloto de exercícios de musculação. Após dez semanas no programa, os portadores de esclerose relataram ganhos de força e maior disposição nas atividades diárias, além da consciência de que poderiam praticar qualquer tipo de exercício.
Agora no mestrado, Otávio Furtado propôs um estudo de caso com pessoas sedentárias portadoras da doença, programando exercícios de musculação em duas sessões por semana, num total de dez semanas, na FEF. Contando, desta vez, com orientações do Colégio Americano de Medicina do Esporte, o autor ministrou exercícios para os principais grupos musculares, com baixo volume e intensidade monitorada, conseguindo a redução de problemas com a fadiga.
“Foi possível constatar a segurança e eficácia desse tipo de exercício, trazendo melhoras na locomoção e destreza manual aos participantes”, avalia. Segundo Furtado, seu estudo contribui para o debate em torno desta questão envolvendo os portadores de esclerose múltipla e abre uma nova possibilidade de atuação para o profissional de educação física. Em sua opinião, existe certo preconceito contra a musculação, atividade normalmente vinculada aos jovens e à estética, e dificilmente adotada para terapêutica.
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