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Pesquisa realizada no IB promete contribuir para o
entendimento do processo deflagrador da doença
O novo fator da esclerose múltipla
Estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp promete oferecer uma importante contribuição para o entendimento do processo deflagrador da esclerose múltipla, doença neurodegenerativa que atinge, em média, cinco em cada grupo de 100 mil habitantes. De acordo com o professor Alexandre Oliveira, do Departamento de Anatomia do IB, experimentos realizados com ratos indicam que uma das causas do problema pode estar relacionada com a alteração das sinapses, que são os pontos de contato entre neurônios, responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos de uma célula para outra. Em outras palavras, é como se houvesse uma falha na conexão entre os neurônios, acarretando perda de informação e os conseqüentes sintomas da enfermidade, que vão do turvamento da visão até dificuldades motoras.
Uma porta para novas abordagens terapêuticas
A identificação de um novo fator relacionado ao desenvolvimento da esclerose múltipla, conforme o professor Oliveira, abre perspectiva para outras abordagens terapêuticas. Embora as causas da doença não sejam plenamente conhecidas pela ciência, a hipótese mais aceita até o momento é que a sua origem estaria ligada à perda de mielina, que é a membrana que recobre determinados neurônios. Sem essa proteção, o tráfego de informação entre as células ficaria prejudicado, ocasionando problemas de diversas ordens. Para entender melhor esse processo, o pesquisador da Unicamp lança mão de uma analogia. “É como se os neurônios fossem fios telefônicos desencapados. Nessas condições, a comunicação entre as células sofre interferências”, explica.
Quando isso ocorre, o paciente apresenta surtos, que podem ser de curta ou longa duração. Normalmente, o portador de esclerose múltipla apresenta sintomas como visão turva, falta de sensibilidade em determinada parte do corpo, tremores e até perda momentânea da função motora. “Após o surto, a pessoa recobra apenas parcialmente as funções. Ou seja, com o passar do tempo e com a repetição desses episódios, a tendência é que ela fique cada vez mais debilitada”, esclarece o professor Oliveira. Os estudos coordenados por ele demonstraram, entretanto, que a perda da mielina não seria o único mecanismo responsável pelo aparecimento da doença.
No experimento realizado com ratos, a partir de um modelo implantado pela professora Leonilda Maria Barbosa dos Santos, do Departamento de Microbiologia e Imunologia do IB, o docente da Unicamp constatou que a alteração das sinapses também contribuiria para o desenvolvimento da esclerose múltipla. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores induziram nos animais uma doença muito semelhante à que desejavam investigar. Posteriormente, monitoraram o comportamento dos roedores. Os cientistas verificaram, por meio de uma série de procedimentos, que durante os surtos os animais de fato apresentavam uma falha na conexão entre os neurônios. E mais: quando as sinapses voltavam a funcionar, os ratos recobravam parcialmente suas funções, mesmo diante de um quadro de perda da mielina.
“O que nós pudemos constatar é que não há uma correlação direta entre a recuperação da mielina e a melhora do quadro dos animais usados no experimento. Isso nos leva a crer que essa nova via possa nos ajudar a compreender melhor o comportamento da esclerose múltipla, o que deve favorecer a busca por outras formas de tratamento”, afirma o professor Oliveira. Além de apontar a possibilidade de um novo caminho para o tratamento da esclerose múltipla, o estudo conduzido pelos cientistas da Unicamp também tem colaborado para a formação de recursos humanos altamente especializados. A pós-graduanda Karina de Brito Marques abordou o assunto em sua tese de doutorado, que deverá ser defendida nos próximos meses.
A doença A esclerose múltipla é uma doença inflamatória do sistema nervoso central. Trata-se de uma enfermidade auto-imune, ou seja, o sistema de defesa do organismo humano é o responsável pelo seu desenvolvimento. O mal, que atinge predominantemente jovens adultos, entre 20 e 40 anos, não tem cura. De acordo com os dados disponíveis na literatura, a incidência é maior em mulheres e entre a população branca. Embora não seja letal, a esclerose múltipla pode acarretar, nos casos mais graves, perda de visão e paralisia de membros. Atualmente, um dos tratamentos mais eficazes é o uso de medicamentos denominados interferons-beta. A Unicamp é considerada referência regional tanto em pesquisa quanto no tratamento da enfermidade. O Hospital das Clínicas (HC) conta com o Ambulatório de Esclerose Múltipla, coordenado pelo neurologista Benito Damasceno. Lá, também são desenvolvidos estudos voltados para a melhor compreensão da doença.
Principais sintomas
Distúrbios visuais, como embaçamento ou perda da visão de um olho, de forma progressiva por dias, semanas ou meses, com melhora gradual;
Fraqueza muscular ou paralisia de um ou mais membros, superiores ou inferiores, que persiste por dias, semanas ou até meses, melhorando posteriormente;
Parestesias (formigamentos, dormência ou queimações) nos membros ou no tronco, que persistem por dias, semanas ou até meses, melhorando posteriormente;
Instabilidade ao caminhar ou movimentos trêmulos dos membros;
Movimentos involuntários dos olhos, dificuldades de articulação da fala e de deglutição;
Alterações das funções sensoriais relacionadas a tato, dor, posição etc;
Perda do controle da micção, com incontinência urinária;
Alterações nas funções cerebrais relacionadas com humor e capacidade intelectual.
Fonte: Ambulatório de Esclerose Múltipla do HC
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