|
Unicamp recruta professores visitantes
Anúncios em veículos
de divulgação científica já atraíram 153 pesquisadores
Cinco meses após começar a publicar anúncios de oportunidades
de trabalho em importantes veículos internacionais de divulgação
científica, a Reitoria da Unicamp foi oficialmente comunicada
do interesse da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) em receber
como professores visitantes dois dentre os mais de 150 candidatos
que enviaram currículos à Universidade. Os escolhidos foram
o biólogo francês François Artiguenave, cujo perfil acadêmico
também chamou a atenção do Instituto de Biologia (IB),
e o fisiologista de Trinidad e Tobago Alan Hazell, professor
da Universidade de Montreal (Canadá) desde 2000.
A FCM convenceu-se de que
Artiguenave e Hazell dariam boas contribuições à unidade depois
que eles vieram a Campinas, em meados de março, para conhecer
a Unicamp e apresentar os trabalhos que desenvolvem no exterior.
Em vista do sucesso das visitas, a Reitoria decidiu convidá-los
a passar de um a dois anos na Universidade exercendo atividades
de ensino e pesquisa mediante o pagamento de uma bolsa. A
ideia é permitir que eles se adaptem à vida no Brasil e se
prepararem para ingressar formalmente na instituição por concurso
ou processo seletivo.
“Aproveitamos a oportunidade
dada pela administração da Universidade e selecionamos dois
entre dezenas de currículos que nos foram encaminhados”, conta
o diretor da FCM, professor José Antonio Rocha Gontijo. “Artiguenave
e Hazell são, respectivamente, ativos pesquisadores em bioinformática
e neurociências — áreas de abrangência multidisciplinar, em
franco desenvolvimento e com grande repercussão quando tomadas
como ferramentas de pesquisa básica ou inseridas no desenvolvimento
de novos conhecimentos ou tecnologias aplicadas à clínica.”
O diretor do IB, professor
Paulo Mazzafera, reforça os elogios feitos a Artiguenave.
“O currículo dele é muito bom”, afirma. “A Universidade inteira
sairá ganhando se a Reitoria conseguir trazê-lo para cá —
seja para a Medicina ou para a Biologia.”
Passado
e futuro
A procura por docentes de primeira linha faz parte da história
da Unicamp. O exemplo mais emblemático é o dos primeiros
anos de existência da Universidade, quando o pioneiro Zeferino
Vaz conseguiu trazer de uma só vez, para um campus ainda
em construção, cerca de 180 pesquisadores que estavam no
exterior, entre brasileiros e estrangeiros, e outros 200 que
atuavam nos principais centros universitários do País.
“Foi isso que fez a Unicamp
se tornar uma das melhores instituições de ensino e pesquisa
do Brasil em muito pouco tempo”, lembra o reitor Fernando
Ferreira Costa, que incluiu a atração de docentes entre as
estratégias da atual administração para elevar a já reconhecida
excelência da Universidade em ensino e pesquisa. O objetivo
dessas estratégias é aumentar a inserção da Unicamp no cenário
internacional, colocando-a ao lado das principais universidades
do mundo.
“Temos a visão de que a Unicamp
deve ser uma universidade de classe mundial”, diz o professor
Ronaldo Aloise Pilli, pró-reitor de Pesquisa e coordenador
do grupo de trabalho encarregado das ações relacionadas ao
recrutamento de pesquisadores no Brasil e no exterior. “Para
que isso seja possível, precisamos ter um número considerável
de professores com experiência internacional, sejam eles brasileiros
ou estrangeiros.”
Grupo
de trabalho
Criado em outubro de 2009, o grupo coordenado por Ronaldo
Aloise Pilli já cuidou da publicação de sete anúncios
de oportunidades de emprego na Unicamp em revistas de grande
circulação e impacto na comunidade científica internacional.
Três desses anúncios dirigiam-se a pesquisadores de todas
as áreas do conhecimento, com a única exigência de que
possuíssem doutorado completo. Dois deles foram publicados
na Nature (edições de 30 de outubro e 4 de fevereiro) e
um, na Science (edição de 29 de outubro).
Os quatro anúncios restantes
saíram em revistas lidas por pesquisadores de áreas específicas:
Chemical & Engineering News (Química), Communications
of the ACM (Ciência e Engenharia da Computação), Nature Materials
(Engenharia de Materiais) e Physics Today (Física). Isso não
significa, contudo, que o grupo tenha escolhido áreas prioritárias.
“Queremos atrair pesquisadores de alto nível para todas as
faculdades e institutos da Unicamp. Por isso, é muito importante
que as unidades informem o tipo de profissional que estão
procurando e indiquem sites e revistas para publicação de
anúncios”, diz Pilli.
Envolvimento das unidades
O grupo de trabalho recebeu 153 currículos entre 29 de outubro,
quando saiu o primeiro dos sete anúncios de oportunidades
de emprego na Unicamp (na Nature), e 31 de março, pouco antes
de o último deles ter sido publicado (na edição de abril da
Physics Today). Parte desses currículos — incluindo os de
François Artiguenave e Alan Hazell — foi enviada em CD aos
diretores das faculdades e institutos da Universidade no começo
de dezembro; outra parte seguiu na primeira semana de março.
Os currículos recebidos a partir de então serão encaminhados
em breve em um terceiro CD.
Segundo Pilli, que se encarregou
de divulgar o recebimento dos currículos nas reuniões da Comissão
Central de Pesquisa (CCP) da Unicamp e demais instâncias,
o envolvimento das unidades na análise desse material é fundamental
para o sucesso da estratégia de atração de docentes. “As unidades
precisam dizer se têm ou não interesse em conhecer algum dos
candidatos para avaliar melhor suas qualificações.” Fernando
Costa completa: “A Reitoria dará todas as condições para as
unidades reforçarem seus quadros de professores e pesquisadores,
mas não interferirá na autonomia de nenhuma delas.”
Perfil
dos candidatos
Dentre os 153 pesquisadores que responderam aos anúncios
da Unicamp, 49 — quase um terço — são da área de Ciências
Exatas; 45, de Ciências Biomédicas; 16, de Ciências Tecnológicas;
e apenas 5, de Humanidades. Os demais 38 encaixam-se em duas
ou mais áreas ao mesmo tempo. Destes, 28 são de Ciências
Exatas e Tecnológicas.
“Embora grande parte dos
currículos seja de pessoas muito novas e de países sem tradição
em pesquisa, pude encontrar bons candidatos”, afirma o diretor
do IB, Paulo Mazzafera. “Além disso, foi interessante descobrir
que os doutores titulados recentemente no Brasil não estão
atrás dos jovens doutores formados nos principais centros
mundiais de pesquisa.”
Concursos e processos
seletivos
Paralelamente à publicação de anúncios e distribuição
de currículos, o grupo de trabalho coordenado por Ronaldo
Pilli vem estudando formas de tornar os concursos e processos
seletivos para contratação de novos docentes mais conhecidos
e concorridos. “Em algumas áreas, ainda há concursos com
apenas um candidato”, observa o pró-reitor.
Uma das saídas encontradas
para minimizar esse problema foi a construção de um site
bilíngue só com informações sobre oportunidades de emprego
para pesquisadores brasileiros e estrangeiros na Unicamp.
Por meio do site, que deverá começar a funcionar ainda neste
semestre, será possível enviar mensagens para todos os usuários
cadastrados sempre que um concurso ou processo seletivo for
aberto.
Outras medidas, relacionadas
a alterações nos editais dos concursos e processos seletivos
a fim de deixá-los mais atrativos para pesquisadores nacionais
e estrangeiros, estão sendo analisadas em parceria com a
Procuradoria Geral (PG) e a Secretaria Geral (SG) da Unicamp.
‘Fiquei
impressionado com tudo o que vi’
Uma universidade comparável,
em muitos aspectos, às que existem na América do Norte.
Foi assim que o fisiologista Alan Hazell, professor
do Departamento de Medicina da Universidade de Montreal
(Canadá) há dez anos, descreveu a Unicamp depois de
passar dois dias no campus de Campinas a convite da
Reitoria, na terceira semana de março. A organização
da visita coube à Faculdade de Ciências Médicas (FCM),
que havia se interessado pelo currículo do pesquisador
e desejava saber mais sobre seus trabalhos.
“Hazell faz investigações
funcionais em neurociências importantes tanto para o
Departamento de Neurologia como para o de Psiquiatria”,
afirma a presidente da Câmara de Pesquisa da FCM e diretora
da Divisão de Hematologia do Hemocentro, professora
Sara Olalla Saad. “Ele tem muita experiência em bioquímica,
biologia celular e modelos animais de doenças neurológicas.”
Esse conhecimento, completa
a professora Sara, também vem ao encontro das necessidades
dos projetos de pesquisa que o Departamento de Neurologia,
o Hemocentro e o Instituto de Biologia (IB) conduzem
juntos com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto Nacional
de Ciência e Tecnologia do Sangue. “Precisávamos de
um modelo animal para estudo de doenças neurológicas
e agora vamos utilizar o que Hazell padronizou em seu
laboratório.”
Leia, abaixo,
o relato do pesquisador
sobre suas experiências Unicamp:
“Gostei muito da visita à Unicamp e fiquei impressionado
com tudo que vi. A Universidade e seus recursos são,
em muitos aspectos, comparáveis aos que existem na América
do Norte. Agora entendo por que a Unicamp é considerada
uma das melhores universidades do Brasil — uma distinção
realmente merecida.
Durante toda a visita, fui acompanhado de perto
pelo professor Fernando Cendes e seus colegas, meus
anfitriões.
Os encontros com o reitor Fernando Costa e o pró-reitor
de Pesquisa, professor Ronaldo Pilli, foram cordiais,
informativos e úteis para que eu compreendesse a estrutura
e os interesses da Universidade.
Também tive um encontro muito produtivo com a professora
Sara Saad, durante o qual pude conhecer as amplas instalações
do Hemocentro, conversar com alunos orientados por ela
e discutir interesses comuns de pesquisa. Essas discussões
resultaram em entendimentos para que um aluno de doutorado
passe dois meses em Montreal estudando um dos modelos
experimentais desenvolvidos em meu laboratório.
Estive ainda com a professora Iscia Lopes-Cendes,
que me mostrou as impressionantes instalações do Laboratório
de Genética Médica, e com o professor Li Li Min e seus
alunos, meus guias em um agradável ‘tour’ pelo Laboratório
de Neuroimagem — com o qual vejo grande potencial para
futuras colaborações em pesquisa.
Além disso, dei uma palestra para alunos e membros
dos Departamentos de Neurologia e Psiquiatria, que recebeu
bom público e gerou questões interessantes e bem-fundamentadas.”
|
Um
especialista em bioinformática
Duas unidades de ensino
e pesquisa — a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e
o Instituto de Biologia (IB) — torcem pela vinda do
biólogo François Artiguenave para a Unicamp. O motivo
do interesse é o fato de o pesquisador francês ser um
especialista em bioinformática. Embora esta ferramenta
tenha inúmeras aplicações em pesquisa e seja essencial
para a análise de grandes volumes de dados, como no
caso de projetos de sequenciamento de genomas, o número
de profissionais ainda é insuficiente no Brasil.
“Se vier para a Unicamp,
Artiguenave poderá cooperar para a formação de recursos
humanos e o avanço de pesquisas na área de ciências
biomédicas”, opina a presidente da Câmara de Pesquisa
da FCM e diretora da Divisão de Hematologia do Hemocentro,
professora Sara Olella Saad. A FCM já manifestou oficialmente
o desejo de receber Artiguenave como professor visitante
por período de um a dois anos, em carta enviada à Reitoria
no final de março.
O diretor do IB, professor
Paulo Mazzafera, acredita que sua unidade também se
beneficiaria com a chegada do pesquisador francês —
mesmo se ele for para a FCM. “O currículo dele é muito
bom e nós temos uma ótima relação com a FCM”, diz.
Doutor em Genética e
Biologia Molecular pela Universidade Paris Descartes
(França), Artiguenave dirige desde 2006 o Laboratório
de Bioinformática do Genoscope–Centre National de Séquençage
(França), centro de sequenciamento de genomas criado
em 1997 e incorporado dez anos mais tarde à agência
francesa de energia atômica. Ele veio à Unicamp na segunda
semana de março, a convite da Reitoria, justamente para
conhecer a FCM e o IB.
Durante a visita, Artiguenave,
que fala português fluentemente por ter passado três
anos na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Belo Horizonte
como cientista visitante, esteve com o reitor e o pró-reitor
de Pesquisa, professor Ronaldo Aloise Pilli, conversou
com docentes da FCM e do IB e deu palestra sobre as
pesquisas que conduz no Genoscope. Também se reuniu
com o grupo de professores coordenado pela Pró-Reitoria
de Pesquisa (PRP) que estuda a implantação de um laboratório
multiusuário nas áreas de genômica, proteômica e biologia
celular na Unicamp.
A conversa com os docentes
do IB foi “informal”, conta Mazzafera. “Docentes de
seis laboratórios que trabalham com sequenciamento explicaram
o que fazem e falaram da importância da bioinformática
para a sobrevivência de suas pesquisas”. Segundo o diretor,
Artiguenave “viu que existe certa competência em bioinformática
no IB” e disse que o Instituto lida com vários assuntos
nos quais ele poderia aplicar seus conhecimentos.
|
|
|