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Unicamp ganha Centro de Estudos Avançados
Espaço desenvolverá atividades
de apoio a reflexões e pesquisas relevantes
A Unicamp, a exemplo das maiores universidades do mundo, já
possui seu Centro de Estudos Avançados (CEAv) para desenvolver
atividades de apoio à discussão e pesquisas transdisciplinares
de alto nível nas ciências e humanidades, lidando com temas
relevantes para o presente e o futuro do Brasil. “O objetivo
fundamental é criar um espaço institucional para que assuntos
extremamente relevantes para a Universidade, para o desenvolvimento
país e para a humanidade sejam abordados de maneira completa,
em profundidade”, afirma o reitor Fernando Costa, idealizador
do CEAv.
Segundo o professor Pedro
Paulo Funari, coordenador do novo órgão vinculado ao Gabinete
do Reitor, dois grupos já estão constituídos: o Grupo de
Estudos em Ensino Superior (GEES) e o Grupo de Estudos Avançados
em Esporte (GEAE). “Vamos trazer grandes estudiosos do cenário
internacional e do Brasil para uma reflexão crítica e inovadora
a respeito dos dois temas, durante os anos de 2010 e 2011.
A ideia é que esse trabalho resulte em livros e outros materiais
de referência. Já estamos pensando na criação posterior
de mais dois grupos”.
Criado por meio de resolução
publicada em março deste ano, o CEAv já está iniciando
suas atividades agora em abril, com a vinda da professora
Liz Reisberg, pesquisadora associada ao Centro Universitário
de Boston para Educação Superior Internacional. Nesses dias
12, 14 e 15, ela ministra um curso sobre Garantia de Qualidade,
abordando processos de trabalho e eficiência no ensino superior,
e no dia 20 profere palestra sobre Ação Afirmativa, permanecendo
na Unicamp até o dia 30.
O GEES pretende promover pesquisas
e atividades sobre o ensino superior com foco em quatro áreas:
história e inovação da estrutura curricular e acadêmica,
diversidade institucional (aspectos acadêmicos, gerenciais
e financeiros), políticas de acesso (programas de igualdade
e ação afirmativa no Brasil e em outros países) e perspectivas
de internacionalização das universidades brasileiras de
pesquisa.
Na opinião do coordenador
do CEAv, o convite a Liz Reisberg condiz com a proposta do
GEES de trazer a experiência internacional para refletir sobre
como o ensino superior deve se configurar nos próximos anos
a fim de que o Brasil se desenvolva. “A pesquisadora vai tratar
de dois grandes temas: a garantia de qualidade para que o
ensino superior tenha efeitos positivos e a ação afirmativa
buscando mecanismos de inclusão social dos grupos desfavorecidos”.
A professora do Boston College
leciona na graduação em administração de ensino superior,
fundou uma empresa que organiza viagens de recrutamento de
profissionais por todo o mundo e ajuda faculdades de negócios
a encontrar talentos para seus programas de MBA. Deu consultoria
a diversos países no desenvolvimento de mecanismos de garantia
de qualidade da educação universitária, tendo também entre
suas áreas de pesquisa as questões que influenciam o acesso
e a igualdade.
Focos no ensino superior
No que se refere à estrutura curricular do ensino superior
no país, Funari considera que uma questão principal diz respeito
à especialização precoce que ocorre desde o século 19, mas
principalmente nas últimas décadas. “O aluno entra diretamente
para um curso de especialização e conhece, por exemplo, apenas
aspectos relativos a engenharias ou medicina. É fundamental
discutir a importância de a universidade oferecer aos estudantes
uma formação mais geral e só depois a especialidade”.
Dentre
as nuances gerenciais e financeiras a serem estudadas pelo
GEES, Funari lembra a existência de diferentes tipos de ensino
superior no Brasil, desde o oferecido por instituições de
alta qualificação como a Unicamp, até aquele voltado para
atender a realidades locais. “Temos o problema da interiorização
do ensino superior, que no Estado de São Paulo se consolidou
a partir dos anos 1970, com a Unicamp, as unidades da Unesp
e faculdades privadas. Mas este é um grande desafio para todo
o território nacional: como e que tipo de ensino levar ao
interior?”.
Um exemplo citado pelo coordenador
é a formação de licenciados, modalidade de que é a mais capilar,
já que essas instituições precisam existir em todas as regiões.
“É necessário ter professores capacitados a dar aulas no interior
do Amazonas. Não podem ser simplesmente leigos, que estudaram
apenas até a quarta série e já passaram a ensinar no primário.
Isso significa que uma instituição na Amazônia deve ter como
objetivo formar licenciados para o contexto da região, e não
como os formados pela Unicamp, que visam à iniciação científica,
mestrado e doutorado, apresentando outro perfil”.
Outro tema relevante para
o Grupo de Estudos em Ensino Superior, de acordo com Funari,
são as políticas de acesso, como a introdução do Enem no sistema
federal. “A segregação social sempre foi grande no Brasil,
onde apenas quem possui condições de estudo entra nas melhores
universidades. A Unicamp já vem debatendo internamente o ProFis,
em que o Enem serviria para escolher e criar turmas com os
120 melhores alunos da rede pública de Campinas”.
Um último aspecto ressaltado
por Funari nesta área de estudo é a baixa internacionalização
do ensino superior brasileiro. “Temos uma barreira linguística,
o português, e uma barreira administrativa, já que todos os
nossos diplomas são válidos apenas no país, e vice-versa.
A Europa já possui uma política de internacionalização (interna,
é verdade) de mais de 20 anos. O Brasil agora se preocupa
com isso e a Unicamp vai iniciar uma reflexão sobre como fazer
parte de sistemas latino-americanos e mundiais”.
Política para o esporte
Funari observa que a confirmação do Brasil como sede dos dois
maiores eventos esportivos do planeta, a Copa do Mundo de
2014 e a Olimpíada de 2016, torna ainda mais pertinente a
criação do Grupo de Estudos Avançados em Esporte – e com ênfase
no esporte de alto desempenho. “Nos dois casos, estamos lidando
com a política de desporto do país, ao passo que o grupo vai
tratar dos desafios do esporte contemporâneo abrangendo questões
humanas, gestão e sistema organizacional”.
Conforme o coordenador do
CEAv, um primeiro ponto de reflexão é o aspecto social, ou
seja, sobre o sentido do esporte na sociedade. “O Brasil é
definido como ‘terra do futebol’ e está no imaginário de qualquer
garoto tornar-se um grande jogador. Outra questão é como o
esporte está organizado no país e como a academia se relaciona
com isso, especialmente na formação de pessoas. Precisamos
saber se queremos um sistema mais centrado em empresas, clubes,
entidades sociais ou escolas. Nesse caso, com a vinda de especialistas
estrangeiros, podemos nos inspirar na forma como outros países
organizam o esporte”.
Uma última observação de Funari
é quanto à relevância que a ciência do esporte ganhará nesses
anos até a Olimpíada do Rio de Janeiro, visando ao aprimoramento
do desempenho dos atletas brasileiros. “Temos tempo para pesquisar
e fazer uso da tecnologia para melhorar nossa classificação
no ranking, o que será uma preocupação mais específica da
FEF. Já o GEAE vai pensar o problema de forma mais ampla,
considerando todas as implicações políticas, econômicas e
sociais que o Brasil enfrentará tendo em vista a Olimpíada”.
Sede
vai ser na BC
O Centro de Estudos
Avançados (CEAv) da Unicamp, segundo o coordenador Pedro
Paulo Funari, terá em breve uma sede física no terceiro
andar do prédio da Biblioteca Central Cesar Lattes,
com escritórios e todas as facilidades de comunicação
para os pesquisadores. “Uma especificidade do CEAv em
comparação aos demais centros e núcleos da Universidade,
é sua estrutura mais enxuta, dentro da ideia de desenvolver
poucos temas, mas de grande impacto no presente e visibilidade
de futuro. Os outros são mais universalistas”.
Inicialmente, a administração
do CEAv está entregue a um conselho com membros pró-tempore,
seguindo a proposta de conduzir o processo de institucionalização
de forma prudente, até a criação de um regimento. Além
de Funari, integram o conselho os professores Euclides
de Mesquita Neto, pró-reitor de Pós-Graduação; Marcelo
Knobel, pró-reitor de Graduação; Ricardo de Oliveira
Anido, chefe adjunto de Gabinete; Ronaldo Aloise Pilli,
pró-reitor de Pesquisa; Paulo Roberto Rodrigues da Silva,
pró-reitor de Desenvolvimento Universitário; e Mohamed
Habib, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários.
O Grupo de Estudos em
Ensino Superior, coordenado pelo professor Renato Hyuda
de Luna Pedrosa, do Instituto de Matemática, Estatística
e Computação Científica (Imecc), é integrado ainda por
Cibele Yahn de Andrade, pesquisadora do Núcleo de Estudos
de Políticas Públicas (Nepp); José Roberto Rus Perez,
professor da Faculdade de Educação (FE); Leandro Russovski
Tessler, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin
(IFGW); Marcelo Knobel, também professor do IFGW; e
Ricardo de Oliveira Anido, professor do Instituto de
Computação (IC).
O Grupo de Estudos Avançados
em Esporte é coordenado pelo professor Paulo Cesar Montagner,
que tem como pares seus colegas da Faculdade de Educação
Física (FEF) Edison Duarte, José Irineu Gorla, Miguel
de Arruda, Paulo Ferreira de Araújo, Ricardo Machado
Leite de Barros e Roberto Rodrigues Paes.
Mais informações: Site
do CEAv
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