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Lições de como envelhecer melhor
Trabalhos desenvolvidos na FEF
avaliam
idosos que praticam atividades físicas
Dois
trabalhos produzidos na Faculdade de Educação Física (FEF)
da Unicamp pela nutricionista Jaqueline Girnos Sonati, publicados
recentemente em revistas internacionais, mostraram que os
idosos tiveram uma média de escore elevada no aspecto da qualidade
de vida (QV) e que somente a medida do peso corporal é capaz
de monitorar com êxito a sua perda da massa livre de gordura.
O primeiro artigo, intitulado Body composition and quality
of life (QoL) of the elderly offered by the ‘‘University Third
Age’’ (UTA) in Brazil, acaba de ser divulgado na revista médica
Archives of Gerontology and Geriatrics, ao passo que o segundo
– Body weight as an indicator of fat-free mass in active elderly
women – na revista da área de saúde Maturitas. Trata-se de
descobertas que trazem novo entendimento sobre questões relacionadas
ao envelhecimento.
A amostra
da nutricionista foi composta por um grupo de 81 idosos (de
60 a 80 anos) que praticava atividade física na Universidade
da Terceira Idade (Unati), ligada à Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz” (Esalq), em Piracicaba, instituição que
oferece uma programação gratuita de caminhadas, ginástica
localizada e hidroginástica nos períodos da manhã e da tarde.
O objetivo
de Jaqueline Girnos Sonati, também graduada em Educação Física,
foi o de estudar a qualidade de vida durante o envelhecimento
de pessoas que praticam atividade física. A pesquisa foi realizada
com idosas que se exercitam pelo menos 30 minutos por dia,
cinco vezes na semana e que têm um status socioeconômico homogêneo,
pertencentes à classe média e média alta, e com mais de oito
anos de escolaridade.
Segundo
a pesquisadora, o tema ganhou dimensão porque o processo de
envelhecer tornou-se um fenômeno mundial. O Brasil, por exemplo,
terá em 2050 o dobro de idosos que possui hoje, segundo projeções
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No censo demográfico de 2010, eles somavam um contingente
de 11% (algo em torno de 20 milhões), tendo em vista uma população
geral de 190 milhões de habitantes no país. “Deste modo, está
mais do que na hora de pensar como cuidar hoje das pessoas
que vão envelhecer, posto que a prática de atividade física
pode amenizar os seus efeitos relacionados com o avanço da
idade.”
A nutricionista
expõe que no momento o envelhecimento ativo é conceituado
como um marcador de saúde e, a capacidade funcional, um paradigma
que pode influenciar na qualidade de vida. “Pesquisar o envelhecimento
ajuda a entender como ele ocorre para prevenir situações de
risco que poderão comprometer a independência física na terceira
idade, e isso pode resultar em melhores escores de qualidade
de vida.” Qualidade de vida é, conforme o Whoqol Group (1994),
“a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto
da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação
aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.”
O investimento
em pesquisas sobre a promoção da saúde do idoso merece maior
prioridade, já que a população brasileira segue em ritmo acelerado
rumo a um perfil demográfico cada vez mais envelhecido. A
velhice ideal, aponta ela, reflete a adoção de hábitos de
vida saudáveis por toda uma vida. “A ciência pode sugerir
maneiras de como envelhecer melhor”, assinala a nutricionista,
“porém não consegue modificar o final do ciclo da vida”.
No primeiro
artigo, a autora fez uma descrição e ao mesmo tempo comparou
a qualidade de vida e a composição corporal de idosos ativos,
expondo as diferenças corporais e dos domínios da QV entre
as subdivisões da terceira idade. Mostrou que o grupo estudado
apresentou médias elevadas basicamente no domínio das relações
sociais.
Um dos
resultados que surpreendeu a nutricionista, de ter encontrado
um escore elevado no aspecto da QV dos idosos, foi que ela
tinha em mente que a idade mais avançada poderia interferir
de forma negativa nessa qualidade, sobretudo fisicamente falando.
“Isso não representou uma verdade quando eles praticavam algum
tipo de atividade física”, expõe Jaqueline Girnos Sonati.
Desde
o mestrado, a pesquisadora se dedica a entender o envelhecimento,
em grande parte por ter uma boa relação com os idosos da sua
própria família. “Sou a neta mais nova de uma família numerosa.
Os idosos de casa são na maioria mulheres (a tia mais velha
tem 82 anos e é muito ativa)”, o que por coincidência tem
uma proximidade com a amostra estudada: 86% dos idosos eram
do sexo feminino.
“O idoso
que vive mais tem como uma de suas justificativas o fato de
ser mais ativo”, afirma a nutricionista. Além disso, hábitos
saudáveis de vida geram um envelhecimento de sucesso, na sua
opinião. Por conseguinte, dois fatores fundamentais para o
adulto se preocupar são a frequência com que pratica atividade
física e a busca de uma boa alimentação (veja quadro nesta
página).
Esse
é um investimento que o idoso faz para a sua velhice, realça
a nutricionista, que integra o grupo de estudos da FEF sobre
“Qualidade de vida, atividade física e saúde” (http://www.fef.unicamp.br/departamentos/deafa/qvaf/
index.html), coordenado pelo docente da faculdade
Roberto Vilarta, que também orientou estes dois estudos financiados
pela Capes.
Peso
O segundo artigo, mais metodológico, se prestou a determinar
quais medidas antropométricas poderiam ser empregadas para
monitorar a perda da massa livre de gordura nos idosos, o
que já era esperado a partir de relatos da literatura. “Tínhamos
pensado que deveria ser uma medida de baixo custo para dar
acesso a todos, ou pelo menos a maioria”, esclarece Jaqueline
Girnos Sonati. Por isso, ela estudou três medidas simples
(o Índice de Massa Corporal – IMC, a Circunferência Abdominal
– CA e o Peso Corporal) para saber qual delas, ao fazer um
controle do estado nutricional, seria a mais adequada para
seguir a perda da massa livre de gordura.
A pesquisa demonstrou que
a medida de peso corporal foi a que mais se correlacionou
com a perda de massa livre de gordura no idoso e que, aferida
pela balança, ela monitora com êxito essa perda. “É uma medida
muito simples, não desmerecendo as outras mas, se pensarmos
em saúde coletiva ou até em estudo epidemiológico, a balança
é mais adequada para monitorar as eventuais perdas”, destaca
Jaqueline Girnos Sonati.
Ter chegado a uma medida simples
de ser efetuada, opina a nutricionista, foi bastante vantajoso
para essa população. Isso porque, com auxílio de apenas uma
balança, é possível monitorar o peso. Se estiver ocorrendo
perda, observa, significa que se está perdendo massa livre
de gordura, fator essencial para que mantenham funções diárias
como a locomoção e a flexibilidade. “Não é saudável para o
idoso perder tal massa e é bom contar com uma medida de peso
corporal como rotina”, destaca a autora. “A perda de massa
livre de gordura é como uma luzinha vermelha que se acende
sinalizando para ser investigada. Ela acontece, entretanto
o ideal seria que o idoso não a perdesse, ou perdesse menos,
para poder continuar vivendo de maneira ativa e com boas condições
de saúde.”
A literatura recomenda que
a perda seja avaliada com medições de composição corporal
e IMC, porém muitas vezes ignora-se que nem sempre se dispõe
de recursos em casa para medir a altura ou a composição corporal
todos os dias. “A balança é o item mais acessível para se
ter em casa, no médico, na farmácia ou no nutricionista. Além
disso, é uma maneira de monitorizar o próprio envelhecimento”,
garante a nutricionista. O peso corporal teve uma correlação
estatística de 0,90 no idoso (a partir de 0,60 é considerada
muito boa) com a massa livre de gordura. “Estudei esta amostra
porque a perda de massa livre de gordura em pessoas com idade
avançada é mais preocupante.”
A pesquisadora propõe que
o controle de peso corporal seja adotado em programas de atividade
física pois o idoso, quando perde peso, na verdade está perdendo
tecido corporal para a manutenção de sua saúde e de sua independência
física. “O controle de peso deve ser aferido pelo menos uma
vez por mês, como se fosse uma visita ao médico, ao geriatra
e ao nutricionista.” A pesquisa ainda demonstrou que mesmo
as abordagens metodológicas de baixo custo e de alta acessibilidade
podem auxiliar na promoção da saúde em direção ao envelhecimento
bem-sucedido.
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Publicações
Sonati, J.G.; Modeneze, D.M.; Vilarta, R., Maciel, E.S., Boccaletto,
E.M., Silva, C.C. (2011). Body composition and quality of
life (QoL) of the elderly offered by the University the Third
Age (UTA) in Brazil. Archives of Geriatrics and Gerontology,
52:e31-e35. doi:10.1016/j.archger.2010.04.010.
Sonati, J.G., Modeneze, D.M., Vilarta, R.,
Maciel, E.S., Boccaletto, E.M. (2011). Body weight as an indicator
of fat – free mass in active elderly women. Maturitas, in
press. doi:10.1016/j.maturitas.2011.01.007.
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