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Diversidade de espécies arbóreas é alvo de estudo
Alvo
de intensos debates na literatura, os mecanismos responsáveis
pela alta diversidade de espécies arbóreas em florestas tropicais
é um dos assuntos que mais intrigam os pesquisadores que trabalham
com biodiversidade. Os questionamentos acerca da coexistência
de um grande número de espécies variadas em espaços delimitados
são uma constante. Na expectativa de contribuir com o entendimento
do processo, a bióloga Carolina Bernucci Virillo passou pouco
mais de três anos na Floresta Ombrófila Densa Atlântica, localizada
no município de Ubatuba, no litoral paulista, pesquisando
quatro espécies de árvores – embiruçu, bacupari, sapopema
e bicuíba. Dentre os inúmeros mecanismos propostos por diversos
autores, Virillo lançou mão de dois deles: a dependência de
densidade e a diferenciação de nichos, principalmente por
apresentarem um relativo suporte empírico já relatado na literatura.
“O objetivo da pesquisa foi
entender porque ocorrem tantas espécies de árvores em um único
local, isto é, porque as espécies que são melhores competidoras
não excluem as espécies menos adaptadas”, afirmou a pesquisadora.
Estudos anteriores na área já indicavam a não ocorrência do
que é tratado pelos especialistas como “exclusão competitiva”,
já que em apenas um hectare de floresta podem ser encontradas
até 200 espécies diferentes de árvores. O trabalho resultou
na tese de doutorado de Virillo, orientada pelo professor
Flávio Antonio Maes dos Santos, do Instituto de Biologia (IB)
da Unicamp.
A escolha por quatro espécies
específicas se deu em razão do foco da pesquisa estar voltado
para determinadas populações e não de comunidades de árvores,
onde se consideram todas as espécies localizadas em espaço
geográfico. Optou-se ainda por uma abordagem dinâmica, considerando
os eventos de mortalidade e recrutamento das populações, o
que pode fornecer informações mais completas do que quando
se considera somente o número de plantas de cada espécie em
determinada área.
Com relação aos mecanismos
utilizados, Virillo explicou que “dependência de densidade”
significa observar ao longo do tempo a taxa de mortalidade
de uma espécie quando os indivíduos da mesma estão muito próximos,
seja por competição ou por atração de pragas. “Nessa situação
de alta densidade de uma mesma espécie ocorre uma maior mortalidade,
abrindo espaço para a chegada de outras espécies”, observou.
No que diz respeito ao outro mecanismo, o de “diferenciação
de nichos”, parte-se de um pressuposto que cada espécie terá
um habitat preferencial, onde se desenvolverá melhor. O local
de pesquisa – a floresta tropical – é um ambiente muito heterogêneo
em vários aspectos. Por exemplo, em relação a condições topográficas,
há áreas de topo de morro, encosta muito íngreme, e vales
associados a cursos d’água. Portanto, se cada planta se associar
a um habitat específico, seguramente surgirão muitas espécies.
O primeiro capítulo da tese
foi dedicado ao estudo da dependência de densidade. A bióloga
contou que encontrou evidência desse mecanismo quando as densidades
são realmente altas. “Em baixas densidades não encontrei evidências
significativas da ocorrência da dependência de densidade”,
afirmou. Na opinião da pesquisadora, esse pode ser um mecanismo
importante para a manutenção da diversidade em florestas tropicais,
mas certamente não é o único.
Outros três capítulos da pesquisa
foram focados no mecanismo de diferenciação de nichos, nos
quais a autora avaliou duas características de habitat existentes
na floresta, que são topografia e condição de luz. No caso
específico da topografia, acrescentou a pesquisadora, ela
está indiretamente relacionada com várias outras características
do ambiente. Por exemplo, um solo em uma área de vale certamente
será mais úmido, consequentemente, isso afetará a disponibilidade
de nutrientes para as plantas naquele local. Com relação à
luz, é feita uma medição da porcentagem de abertura do dossel
(“teto” da floresta). “Fazemos uma fotografia com uma lente
hemisférica – também chamada de olho de peixe – do solo para
cima. Esta é analisada com um software específico e então
conhecemos a porcentagem de luz que entra nos diferentes ambientes
da floresta”, explicou.
Essa
caracterização do ambiente em relação à topografia e a abertura
de dossel foi realizada com o intuito de checar se as variáveis
demográficas tinham associação com as variáveis ambientais,
o que seriam evidências da preferência de habitat pelas espécies.
O resultado apontou que foram poucas as relações significativas
para as variáveis dinâmicas como mortalidade e recrutamento,
porém, para três das quatro espécies houve relação do número
de plantas encontrado com a topografia. Já para a abertura
do dossel, as evidências encontradas foram bastante pontuais,
não produzindo um padrão indicativo de que as plantas se associam
por locais mais ou menos iluminados. As fotos, segundo a pesquisadora,
foram feitas a cada 10 metros quadrados. “Podemos refinar
mais ainda os dados se tirarmos fotos em espaços menores,
no entanto, não acredito em grandes alterações com relação
ao encontrado”, disse.
Virillo dedicou os dois capítulos
finais para avaliar a fenologia reprodutiva (produção de flores
e frutos) e o crescimento das árvores adultas, com o objetivo
de verificar se a reprodução ou o crescimento das plantas
estavam associados com condições de habitat específicas. Para
isso, utilizou-se das cotas de 100 e 400 metros de altitude
e, também, ao índice de iluminação da copa para caracterizar
a exposição ao sol. Para duas das espécies de árvores estudadas,
a fenologia se relacionou com a cota de altitude, mas não
com o índice de iluminação da copa, o que indica um aspecto
da preferência de habitat. Com relação ao crescimento das
árvores, esse número variou bastante dentro de uma mesma cota
de altitude. Se por um lado duas espécies apresentaram relação
com índice de iluminação, as outras duas não se relacionaram
nem com a iluminação e nem com a altitude.
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Publicação
Tese: “Influência do microhabitat e da densidade
e distância de vizinhos na demografia de populações de espécies
arbóreas”
Autora: Carolina Bernucci Virillo
Orientador: Flávio Antonio Maes dos Santos
Unidade: Instituto de Biologia (IB)
Fonte de financiamento: Fapesp
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