Defesa pública de projetos arquitetônicos
finalistas ocorre dia 7 de agosto
LUIZ
SUGIMOTO
A
Unicamp vai transformar em evento acadêmico e cultural
a defesa pública dos cinco projetos arquitetônicos
finalistas do concurso internacional para a construção
do seu novo Museu de Ciências. Na manhã de
7 de agosto, os arquitetos responsáveis pelas três
equipes brasileiras, uma norte-americana e uma japonesa
apresentarão seus projetos para uma banca de jurados
altamente qualificada, diante de alunos, professores e profissionais
de arquitetura e áreas afins, no Centro de Convenções.
"Um concurso de arquitetura é uma grande aventura
intelectual", afirma o professor Marcelo Firer, diretor
do Museu Exploratório de Ciências (MC). "É
um projeto para 5.200 metros quadrados de área construída
(dentro de uma área total de 28 mil) e custo estimado
em 10 milhões de reais. Estamos considerando uma
obra de alta qualidade arquitetônica, com soluções
inteligentes ao invés de luxos incompatíveis
com a realidade orçamentária da Unicamp. Não
queremos apenas mostrar um projeto maravilhoso, porém
inexequível; queremos ter um bom museu".
Segundo Firer, a ideia é oferecer um marco cultural
para Campinas, com espaço para exposições
permanentes e temporárias, auditório e observatório
astronômico, além das áreas administrativa,
técnica e de convivência. Inscreveram-se para
o concurso 170 equipes de 21 países. "Na primeira
fase, a avaliação pela banca se deu de forma
anônima, mas agora todos poderão conhecer os
trabalhos finalistas. Defesa pública é um
evento raro, que vai despertar bastante interesse não
só pela qualidade dos projetos, mas também
pela argüição de uma banca internacional
de especialistas renomados".
Os
projetos serão apresentados pelos arquitetos Alessandro
Muzi, Daniel Corsi e Fábio Boretti Araújo,
do Brasil; Erik Lewitt, dos Estados Unidos; e Tomohiko Amemiya,
do Japão. Cada uma das cinco equipes já recebeu
um prêmio de R$ 5 mil na primeira etapa; nesta segunda
fase, haverá prêmios adicionais de R$ 8 mil
para a primeira colocada (que também executará
o projeto), R$ 4 mil para a segunda e R$ 2 mil para a terceira.
A banca julgadora desta etapa final será formada
pelos arquitetos Paulo Valentino Bruna e Leandro Medrano,
do Brasil; Frederico Valsassina, de Portugal; Silvia Arango,
da Colômbia; Jorge Wagensberg, museógrafo da
Espanha; Maria Cristina da Silva Leme, urbanista brasileira;
Edgar Salvadori de Decca, historiador e coordenador geral
da Unicamp; e pelo próprio Marcelo Firer. "Vamos
discutir com a banca a possibilidade de abrir espaço
para perguntas do público após a apresentação",
adianta o diretor do Museu.
Ineditismo
Leandro Medrano, professor da Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo (FEC) e membro do júri, foi
quem convenceu seus pares envolvidos na construção
da sede sobre a riqueza de conhecimentos que um concurso
internacional de arquitetura pode proporcionar. "Não
encontramos registros de outros concursos internacionais,
para obras públicas institucionais, nos últimos
vinte anos. Podemos dizer que é uma iniciativa inovadora
da Unicamp".
Na opinião de Medrano, a seleção por
mérito trata-se de uma opção natural
dentro de uma universidade pública como a Unicamp,
onde contratações de professores, seleção
de artigos e eventos acadêmicos e científicos,
quase sempre de abrangência internacional, fazem parte
do seu cotidiano. "Restringir o concurso ao Brasil
seria quase como restringir as nossas observações
e posturas conceituais, ideológicas e científicas
também ao país. Isto não acontece em
nenhuma área do conhecimento na Unicamp, incluindo
a arquitetura e o urbanismo aplicados à pesquisa".
A defesa pública dos projetos é outro fato
pouco usual para os brasileiros, como observa o arquiteto.
"Julgamos que o concurso não deveria apenas
escolher um bom projeto para o Museu de Ciências,
mas tornar-se ele mesmo um evento cultural para a cidade
e um evento acadêmico para alunos e professores da
Unicamp e de outras universidades. Nossos alunos já
entraram em contato com colegas de todo o país e
há enorme interesse em conhecer os projetos e acompanhar
a arguição dos jurados".
Leandro Medrano observa que uma das premissas estabelecidas
no edital é que o projeto considere as peculiaridades
da arquitetura brasileira e proponha uma tecnologia construtiva
inteligente, que amenize impactos ambientais. "Será
uma boa oportunidade para entender melhor o papel da arquitetura
no nosso contexto social, econômico e cultural, colocando-a
na pauta das discussões contemporâneas sobre
a organização dos territórios e das
cidades brasileiras. Precisamos de construções
de qualidade, eficientes e ambientalmente adequados".
Obras públicas
De acordo com o professor da FEC, os concursos de arquitetura
deveriam ser mais utilizados como instrumentos para a licitação
de obras públicas no Brasil, assim como ocorre em
vários outros países, inclusive da América
Latina. "Se há países onde 95% das obras
públicas têm seus projetos escolhidos por meio
de concursos, no Brasil essa porcentagem é mínima.
Em parte por que não existe essa cultura e, também,
por que ainda precisamos avançar nos métodos
empregados para a organização de concursos
e sua avaliação.".
Medrano tem o concurso como um instrumento saudável
justamente por gerar polêmica, dúvidas e questionamentos,
contribuindo para a elaboração de projetos
de qualidade e o aprimoramento da profissão. Entretanto,
em relação a obras públicas, ainda
prevalece a utilização da Lei 8666, com contratações
baseadas no menor preço. "Outra forma recorrente
é a do 'notório saber', em que arquitetos
de destaque, como Oscar Niemayer, são convidados
para projetar obras sem licitação".
Registros em livro
O diretor Marcelo Firer afirma que a defesa pública
marcada para o próximo dia 7 representa o epílogo
de uma história que começou há um ano,
com uma reunião de dois dias de trabalhos intensivos.
"Convidamos arquitetos e responsáveis pelos
museus de Santo André e da Estação
Ciência da USP para discutir as necessidades do nosso
museu, como a dimensão, as características
dos espaços e seus usos. Um bom programa de necessidades
é pré-condição para um bom projeto".
Leandro Medrano lembra que a formalização
do concurso internacional exigiu ampla pesquisa sobre processos
semelhantes no Brasil, Europa e América do Sul, em
busca de um edital e de um mecanismo de avaliação
exemplares quanto à transparência, elaboração
do programa, escolha do júri e divulgação
dos resultados. "O Museu pretende publicar um livro
documentando todas as fases do processo e que conterá
os projetos inscritos, comentários dos jurados e
opiniões externas. A publicação deverá
ser um registro do concurso e uma importante referência
para a arquitetura contemporânea nacional e internacional".
Marco arquitetônico e cultural
O
professor e arquiteto Leandro Medrano: "Todos os jurados
ressaltaram o nível excepcional da maioria dos projetos"
O arquiteto Leandro Medrano, professor da FEC, participou
da primeira banca de jurados que apontou os cinco finalistas
que defenderão publicamente seus projetos arquitetônicos
para o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp.
"Alguns membros do júri tinham ampla experiência
em concursos internacionais, a exemplo do professor Paulo
Bruna, da FAU-USP, que voltava de um certame realizado no
México. Todos ressaltaram o nível excepcional
da maioria dos projetos. A banca avaliou 114 trabalhos e
foi muito difícil chegar a apenas cinco".
Da primeira etapa de seleção também
participaram os arquitetos Francisco Borges (Unicamp) e
Maria da Conceição Guimaraens (UFRJ), os historiadores
Maria Stella Bresciani (Unicamp) e Edgar de Decca (Unicamp),
e os museólogos Marcelo Firer (Unicamp) e Julia Taquena
(UNAM, México).
Medrano explica que o edital desenhou uma série
de condicionantes, como adequação ao terreno,
respeito a construções já existentes
e, principalmente, o entendimento de que o Museu de Ciências
seria uma referência arquitetônica e também
um espaço público para Campinas. "A cidade
possui poucos marcos arquitetônicos e culturais de
porte. Os projetos também deveriam responder aos
avanços nas técnicas de construção
e às discussões atuais sobre o papel da arquitetura
na sociedade contemporânea".
Na opinião do professor, as cinco equipes atenderam
com bastante coerência a um programa complexo, que
envolve questões simbólicas relacionadas ao
espaço expositivo e, ainda, questões técnicas
precisas quanto ao controle da luz, organização
do suporte técnico e definição dos
espaços livres e públicos. "Cada projeto
traz um olhar do terreno e uma organização
conceitual diferenciados, mas preservando características
como a bela vista da região que este ponto alto da
Universidade oferece".
Ingressando no 'período de colheita'
O diretor Marcelo Firer anuncia "um período
de muita colheita" para o Museu Exploratório
de Ciências (MC), que foi instituído formalmente
em maio de 2005 com a proposta de ser um espaço cultural
interativo, de livre aprendizado e lazer, disseminando a
cultura científica através da valorização
da convivência e da inclusão social. Ao MC
foi destinado espaço para sua sede administrativa
em julho de 2007 e sua institucionalização
foi efetivada em 2008, com a aprovação do
regimento interno e a instalação do conselho
superior e da diretoria executiva.
"Já temos dois programas permanentes em funcionamento,
a NanoAventura e a Oficina Desafio, mas vamos entrar num
período de muita colheita nos próximos seis
a doze meses, com a inauguração de diversas
iniciativas. Uma delas é o nosso primeiro espaço
de exposição permanente, já em fase
de construção no local do antigo Observatório
a Olho Nu e que continuará sendo um observatório.
Na verdade, é uma praça para onde queremos
atrair as pessoas principalmente em horários sugestivos,
como do pôr-do-sol", diz Marcelo Firer.
A denominada praça Tempo & Espaço, segundo
o diretor do Museu, é um projeto do professor Marcelo
Guzzo (Instituto de Física), com financiamento inicial
do CNPq e que terá aportes captados por outros convênios.
"Serão dez experimentos de grande porte, ao
ar livre, tendo o sol como elemento para demonstrar medidas
de tempo e espaço. Equipamentos como lunetas, teodolitos,
globo terrestre de argila, espelhos, luminárias e
piscina de ondas ajudarão na observação
e compreensão de fenômenos como o dia e a noite,
estações do ano, variação de
temperatura, distância e velocidade".
Firer afirma que o projeto Tempo & Espaço estará
funcionando como piloto até o final do ano, mas optou-se
por sua inauguração no início de 2010,
época mais propícia para atrair os alunos
da rede de ensino. "Também no começo
do ano, vamos abrir no subsolo da praça outra exposição
permanente, sobre meteorologia e fenômenos globais.
A área contará com mobiliário flexível
e um equipamento maravilhoso - um grande globo terrestre
trazendo no interior um datashow para projeção
de imagens de satélite".
Associado a esta idéia, será lançado
um programa de popularização da meteorologia,
o Meteorologista Cidadão, juntamente com pesquisadores
do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e
Climáticas Aplicadas à Agricultura) da Unicamp.
"Uma cidade como Campinas possui vários microclimas,
mas apenas três estações de medição.
Nosso objetivo é criar pequenas estações
principalmente nas escolas, onde os alunos coletarão
e enviarão pela Internet dados de clima e temperatura,
visualizando depois os mapas meteorológicos que geraram".
O Museu está preparando ainda a I Olimpíada
de História do Brasil, com inscrições
de 1º de agosto a 1º de setembro, início
em 7 de setembro e a grande final em 14 e 15 de novembro.
A iniciativa inédita, voltada a estudantes do 8º
e 9º anos do ensino fundamental e a todos do ensino
médio, visa promover o estudo e o debate da história
nacional por meio da leitura e interpretação
de documentos, imagens e textos. "Museus como o nosso
costumam focar muito mais as ciências naturais e da
terra, mas decidimos ampliar o espectro, refletindo a realidade
da Universidade, permeada por diversas áreas de conhecimento,
incluindo as ciências humanas em geral e história
em particular", justifica Marcelo Firer.
A Olimpíada tem o apoio do CNPq e a coordenação
de Cristina Meneguello, professora do Instituto de Filosofia
e Ciências Humanas (IFCH) e diretora associada do
Museu. Conta ainda, para a elaboração das
provas da competição, com uma equipe de docentes
- José Alves Freitas Neto e Eliane Moura, do IFCH,
e Iara Lis Schiavinatto, do Instituto de Artes (IA) - e
alunos de pós-graduação em história.
Firer explica que equipes de até três alunos
disputarão seis etapas, cinco delas via Internet
e a final presencial. "O objetivo não é
testar o conhecimento, mas desenvolver conhecimento. Ao
longo das etapas, os participantes terão que pensar
a história de modo similar ao que fazem os historiadores,
fornecendo, interpretando e discutindo documentos escritos
e imagens".
Projeto premiado
Um dos programas já em funcionamento, a NanoAventura
é uma exposição interativa sobre nanociência
e nanotecnologia. Por meio de diversas mídias, em
sessões de hora e meia, os visitantes podem explorar
virtualmente laboratórios e participar de atividades
ligadas às ciências em escala nanométrica
e suas aplicações tecnológicas. Desenvolvido
por pesquisadores da Unicamp e do Laboratório Nacional
de Luz Síncrotron (LNLS), em parceria com o Instituto
Sangari, o programa já contemplou 40 mil pessoas,
na maioria professores e estudantes da rede pública
de ensino, desde seu lançamento em março de
2005 até maio deste ano.
"A NanoAventura, que já circulou por várias
cidades e agora se fixou no Museu, ganhou agora em maio
o prêmio de melhor programa de divulgação
científica concedido pela Red-Pop [Rede de Popularização
da Ciência e da Tecnologia da América Latina
e Caribe]. Tratar de nanociência e nanotecnologia
é um desafio enorme e os pesquisadores sentem necessidade
de divulgar seu trabalho, como que numa prestação
de contas à sociedade pelos recursos investidos na
área", observa o diretor.
O outro programa em funcionamento, a Oficina Desafio, leva
um caminhão equipado com ferramentas e materiais
às escolas, onde monitores estimulam os alunos a
desenvolver soluções para problemas reais
utilizando conceitos aprendidos em sala e no cotidiano.
Uma vez por ano, o programa promove o Grande Desafio, em
que dezenas de equipes trabalham meses em um protótipo
- em junho último, o desafio foi desenvolver um equipamento
capaz de retirar um ovo de gavião de seu ninho a
40 metros de altura.
Público crescente
De acordo com Marcelo Firer, escolhido o projeto vencedor
do concurso internacional em 7 de agosto, os passos seguintes
serão a captação de recursos, elaboração
de projetos executivos e processo licitatório, com
previsão da entrega da nova sede do Museu de Ciências
em quatro ou cinco anos. Entretanto, ele afirma que o volume
de material expositivo permitirá atender 60 mil pessoas
já em 2010, além de outras 40 mil em projetos
via Internet.
"A NanoAventura e a Oficina Desafio atraíram
doze mil visitantes em 2008 e oito mil no primeiro semestre
desse ano - e isso em pleno canteiro de obras [da praça
Tempo & Espaço]. Agora, com todos esses projetos,
passamos a ter de fato um museu, com programas e exposições
permanentes e abertos à visitação.
Estamos buscando convênios para trazer mais alunos
das escolas estaduais e municipais da região de Campinas",
adianta o professor.
Utilizando como parâmetros a Estação
Ciência de São Paulo e o Museu de Ciências
da PUC de Porto Alegre, que atendem a aproximadamente 400
mil pessoas por ano, Firer estima que o novo Museu da Unicamp,
quando construído, conseguirá atender de 150
mil a 200 mil visitantes. "Acho que para uma cidade
do porte de Campinas, é uma meta factível
e razoável, que representa receber cerca que de um
quinto da sua população por ano".
Colaborou Camila Delmondes
EQUIPE
1
Daniel Corsi, Dani Hirano e Reinaldo Nishimura são
formados pela FAU-Mackenzie e ficaram entre os primeiros
colocados em concursos realizados em São Paulo, Porto
Alegre e Brasília. Em 2007, venceram o concurso para
o Complexo do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Goiânia,
que está em construção.
EQUIPE
2
Fábio Araújo, Bernardo Telles e Luís
Pereira Pinto, graduados pela FAU-PUC de Campinas, desenvolvem
projetos de diferentes escalas. Com o escritório
Áurea Arquitetura, a equipe atuou nos projetos das
praças de esporte da Prefeitura de Campinas e da
7ª Bienal Internacional de Arquitetura de São
Paulo.
EQUIPE
3
Alessandro Muzi, Hernani Paiva e Luiz Kuller são
arquitetos formados entre 2007 e 2008 pela FAU-USP. Foram
sócios no escritório cooperativo Campevas
Arquitetura, ativo entre 2005 e 2007. Atualmente exercem
a profissão individualmente ou colaborando com outros
escritórios em São Paulo.
EQUIPE 4
Erik
Warren Lewitt representa o Plexus R+D, estúdio conhecido
pela criação de projetos dinâmicos que
expressam valores e missões específicos de
cada cliente, ao mesmo tempo enriquecendo os contextos físico,
social e cultural. Desde 1999, o estúdio tem trabalhado
em projetos ao redor do mundo.
EQUIPE
5
Tomohiko Amemiya, da Unitydesign, estudou em Portugal e
na Bélgica, completando o mestrado na Universidade
de Tóquio. Trabalhou na agência internacional
de arquitetura Dominique Perrault. Conquistou o 1º
lugar na Steedman Fellowship Competition (competição
internacional de design) em 2006.