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Pesquisa desenvolvida no Instituto
de Química valida
modelagem analítica ‘limpa’  

Técnica determina valores energéticos, proteínas e gorduras em farinhas

MANUEL ALVES FILHO

Da dir. para a esq., a professora Maria Izabel Bueno, orientadora do trabalho, Juliana Terra, autora da tese, e Alexandre Martinez Antunes: método não gera resíduos e dispensa uso de reagentes (Fotos;Antoninho Perri)Estudo desenvolvido para a tese de doutoramento de Juliana Terra, apresentada no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, validou uma nova modelagem analítica para a determinação simultânea de carboidratos, proteínas, gorduras e valores energéticos em farinhas de milho, trigo, soja, mandioca e derivadas de leite. A técnica empregada foi a fluorescência de raios-X, normalmente utilizada para detectar elementos pesados em determinados materiais. É aplicada, por exemplo, na análise de ligas metálicas e rochas. De acordo com a professora Maria Izabel Bueno, orientadora do trabalho, a metodologia testada apresentou alto grau de exatidão, com as vantagens adicionais de não necessitar de reagentes, não gerar resíduos e ser bem mais rápida do que os procedimentos convencionais. Os ensaios convencionais para a determinação dos valores usados na modelagem contaram com a colaboração do professor Marcelo Alexandre Prado, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), da própria Universidade.

Equipamento usado nos ensaios: processo atende às exigências da química verdeO propósito do estudo, conta a docente, foi desenvolver um método mais simples e rápido para gerar dados a respeito dos parâmetros pretendidos. Para isso, a equipe, constituída ainda por Alexandre Martinez Antunes, que colaborou em algumas etapas experimentais e nos cálculos estatísticos, usou um equipamento denominado espectrômetro de fluorescência de raios-X. A professora Maria Izabel explica que, ao ser aplicada a materiais leves, como alimentos, essa técnica provoca o espalhamento da radiação, o que habitualmente é classificado como “lixo do espectro”. “O que nós fizemos foi justamente explorar essa área do espectro, de forma a retirar informações sobre os materiais orgânicos que contêm elementos leves”.

Conforme Juliana, autora da tese, o processo consiste em colocar pequenas quantidades das amostras in natura em recipientes, que são posteriormente levadas ao espectrômetro. Em seguida, as amostras são submetidas à irradiação por um período próximo a dois minutos. Na sequência, são gerados espectros (gráficos), que ao serem tratados por quimiometria fornecem informações quanto aos parâmetros de interesse – no caso, valor energético, proteína, carboidrato e gordura. “Pelos nossos cálculos, esse método alternativo consome o equivalente a 0,2% do tempo empregado pelas técnicas convencionais. Além disso, os bons resultados da validação (erros menores que 14%) indicam que se trata de uma alternativa aos métodos analíticos convencionais, sendo muito atraente para análises de rotina, pois obedece à legislação vigente estabelecida pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], que permite erro máximo de 20%”, relata a pesquisadora.

Outra vantagem apresentada pelo método recém-validado é a dispensa do uso de reagentes ao longo do processo de análise e a não geração de resíduos, como ocorre com as técnicas-padrão usadas para determinar carboidratos, proteínas, gorduras e valores energéticos. Em outras palavras, trata-se de um processo que atende às exigências da química verde. “Nos métodos convencionais, para cada parâmetro que se deseja determinar, é realizado um ou mais ensaios. Em cada um deles, há reagentes diferentes envolvidos, alguns de alta toxicidade”, compara Juliana. Ela assinala que a nova metodologia é um pouco mais cara do que a convencional por conta do preço do espectrômetro de fluorescência de raios-X. “Entretanto, como o equipamento é bastante versátil, ele pode ser aproveitado em análises de outros materiais, como solos, fármacos, azeite, chocololate, ligas metálicas etc, o que tende a diluir o investimento inicial”, acrescenta.

Alexandre enfatiza que o novo método é bastante eficaz. Além de a técnica proporcionar uma margem de erro abaixo da estabelecida pela Anvisa, como já dito, ele afirma que o método permite detectar pequenas diferenças entre produtos aparentemente iguais. A metodologia ainda pode ser aplicada a outras amostras alimentícias, como tem sido comprovado pelos estudos de pós-doutoramento do pesquisador com alimentos matinais (farinhas e flocos de cereais). A professora Maria Izabel lembra que esse tipo de pesquisa é extremamente importante para verificação das normas de rotulagem dos produtos, especialmente de alimentos.

É por meio de métodos analíticos como o validado pela equipe do IQ que se consegue determinar com precisão a composição de um dado produto. “Ademais, muitas doenças podem estar relacionadas com o hábito alimentar de uma determinada população. As informações do rótulo de alimentos permitem que o consumidor tenha acesso às propriedades nutricionais dos mesmos, podendo decidir por um ou outro tipo”, pondera a autora da tese. A técnica validada pelos pesquisadores do IQ, segundo a professora Maria Izabel, gerou artigo que já foi submetido a uma revista científica da área química.

O texto deve ser publicado brevemente. Ela informa, ainda, que a equipe está analisando a possibilidade de patentear o método analítico. “Estamos verificando se isso é viável ou não”, esclarece. As pesquisas desenvolvidas pelo grupo coordenado pela docente têm contado com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), seja para a aquisição de equipamentos, seja na forma de concessão de bolsas de estudo.

 
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