Não
é raro, atualmente, observar a presença de um perito criminal
nas cenas de crimes de repercussão regional, nacional ou
internacional. A produção de filmes e seriados, como CSI,
por exemplo, também se encarrega de popularizar uma área
pouco conhecida até alguns anos atrás: a ciência forense.
No Brasil, já existem 42 grupos e 71 linhas de pesquisa
vinculadas à área, que conta ainda com 125 pesquisadores
que se ocupam do tema nas mais diversas especialidades,
entre as quais genética, entomologia, computação ou química
forense, até as mais conhecidas, como medicina e odontologia
legal.
“A noção de que os resultados das perícias criminais têm
implicações diretas no futuro veredicto dos envolvidos em
um suposto crime é crescente na sociedade em geral. No entanto,
a ciência forense consiste em uma área ainda em processo
de institucionalização no país”, destaca a perita criminal
Patrícia de Cássia Valério Fachone, que apresentou trabalho
sobre o tema no Instituto de Geociências (IG).
Seu estudo, orientado pela professora Léa Maria Leme Strini
Velho, focou basicamente em quatro categorias das ciências
forenses para traçar as implicações envolvidas no processo
de institucionalização. Patrícia investigou as condições
de formação de recursos humanos, o panorama da pesquisa
científica, as formas de cooperação entre instituições que
operam ou produzem conhecimento e as iniciativas de estabelecimento
de políticas específicas. Como o conhecimento sobre o assunto
ainda é muito reduzido, Patrícia recorreu à pesquisa exploratória,
a partir de entrevistas com 59 pesquisadores da área, 13
dirigentes de institutos de perícias, além de documentos
como convênios, relatórios e projetos de lei.
“É fato que não há regulamentação quanto às atribuições
de perito oficial em âmbito nacional. A questão de o perito
oficial ter a formação em uma área do conhecimento e atuar
no cargo de perito em outra constitui um problema”, revela
Patrícia. No Brasil, os cursos de extensão e programas de
pós-graduação em ciência forense nas universidades são escassos.
Além disso, há dificuldade na liberação do profissional
de suas atividades cotidianas para a qualificação mais especializada.
A pesquisa apontou também que a cooperação entre Universidade
e organizações de Perícia Oficial ainda é pontual e deveria
ser fortalecida. Com relação às políticas específicas, Patrícia
defende a criação e manutenção de bancos de dados. Entre
os maiores desafios identificados, ela destaca a gestão
institucional das práticas de cadeia de custódia das evidências
e a otimização dos processos de controle de qualidade na
prestação dos serviços.
Para Patrícia, a criação de políticas públicas poderia
resultar na implantação de medidas indicadas para a área.
“Neste sentido, o estudo poderá constituir como uma fonte
de inspiração à formulação de estratégias que impactem no
desenvolvimento da ciência forense brasileira”. (R.C.S.)