Há momentos especiais na vida acadêmica de um aluno de
música da Unicamp. Um que deverá ficar marcado é a conversa
e o workshop realizados no último dia 19 com o saxofonista
Branford Marsalis, no auditório da Associação dos Docentes
da Unicamp (Adunicamp). Antes do bate-papo, o instrumentista
se apresentou com os músicos do Coletivo Orquestral, regidos
pelo maestro e professor Mário Campos. O convite partiu
do violinista, professor e chefe do Departamento de Música
da Universidade, Esdras Rodrigues, que recentemente realizou
um projeto de música erudita com o saxofonista nos Estados
Unidos. Marsalis se apresentou no último dia 23, no Parque
da Independência, em São Paulo.
Marsalis,
que teve sua origem no jazz e atuou também no funk e no
pop, disse que atualmente prefere ouvir compositores de
música clássica. Mas, diante de alunos-músicos ansiosos
por informações, mostrou que pode brilhar em qualquer ritmo.
Ao improvisar, ao lado de estudantes da Unicamp, a música
Superstation, de Steve Wonder, este ouvinte de clássicos
como Mahle, Wagner e Strauss calou a curiosidade de alguns
alunos que arriscaram perguntar como ele buscava nuances
no funk.
“Tanto jovens como velhos músicos não podem dizer que tem
só uma maneira de tocar. É preciso aprender novas nuances”.
Com seu jeito descontraído, o instrumentista permitiu que
alguns mais curiosos entendessem na prática: “Alguém quer
experimentar. Alguém quer tocar comigo?”.
“Tudo o precisam saber sobre jazz está nas gravações”.
Este é um exercício importante apreendido de um mestre e
transmitido aos estudantes por Marsalis durante o encontro.
A
audição foi a prática pela qual desenvolveu sua capacidade
de improvisação, acentuou. “Se você pegar cinco saxofonistas
tocando ao mesmo tempo deverá aprender muita coisa. Se eles
tocam num sistema de 12 notas, como fazem para soar diferente?
São as nuances, como eu disse. É preciso prestar atenção
em todos os detalhes”, acrescentou.
Marsalis reforçou a observação de seu irmão Wynton Marsalis
sobre a falta de criatividade do jazz executado depois da
década de 1960. “As gerações passadas dançavam com a música.
Profissionais com Miles Davis tiveram a experiência da música
de igreja, que era muito forte, mas, a partir de 1960, os
músicos foram perdendo o contato com a igreja e isso fez
com que faltasse o pulso da música”, explica. A partir daí,
o que se tem, segundo Marsalis, é uma música a partir de
escalas, acordes. “Uma música mais técnica.”