FOP e CPQBA avaliam ação de plantas
medicinais contra espécies de Candida
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
Pesquisadores
da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) e do Centro
Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas
(CPQBA) da Unicamp estão na busca de um novo produto capaz
de controlar doenças infecciosas da boca, causadas por leveduras
do gênero Candida. A ideia é que o estudo possa gerar o
desenvolvimento de uma pasta dental ou solução de bochecho
para combater espécies de leveduras que, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), desde a década de 1980, constituem
o terceiro causador de doenças infecciosas hospitalares
do mundo (veja texto nesta página).
A levedura está normalmente presente no organismo humano
fazendo parte da flora microbiana da boca, trato gastrointestinal
e vagina, sem causar nenhum tipo de dano ao homem. Sob determinadas
circunstâncias, porém, esses microrganismos podem superar
as defesas do hospedeiro e agir como oportunistas, produzindo
diversas manifestações clínicas superficiais e até mesmo
sistêmicas.
Por enquanto, os testes concentraram-se na determinação
da atividade antimicrobiana de óleos essenciais e extratos
vegetais das plantas Allium tuberosum, conhecida como nirá
ou cebolinho chinês; Coriandrum sativum, ou coentro, Cymbopogon
martinii, popularmente chamado de palmarosa; Cymbopogon
winterianus, chamada de citronela; e Santolina chamaecyparissus,
a santolina. Todas pertencem à Coleção de Plantas Medicinais
e Aromáticas do CPQBA.
O estudo, tema da tese de doutorado da cirurgiã-dentista
Vivian Fernandes Furletti, orientada pelos professores José
Francisco Höfling, do Departamento de Microbiologia e Imunologia
da FOP e Marta Cristina Teixeira Duarte, da Divisão de Microbiologia
do CPQBA, avaliou o efeito dos extratos vegetais e óleos
essenciais em amostras clínicas obtidas na cavidade oral
de pacientes sistemicamente saudáveis e portadores de doença
periodontal.
A técnica utilizada para a verificação da atividade antimicrobiana
foi a chamada concentração inibitória mínima (CIM), que
possibilitou chegar ao coentro como óleo essencial de melhor
atividade em menores concentrações. “Não que as outras plantas
estudadas não apresentassem boa atividade, porém a técnica
permitiu observar a eficácia do coentro em menores concentrações”,
esclareceu. As plantas medicinais estudadas foram selecionadas
a partir de um trabalho anterior realizado pela equipe do
CPQBA, em que centenas de espécies foram investigadas até
se chegar às cinco plantas com atividade antibiótica potencial.
Análises de microscopia eletrônica de varredura também
permitiram verificar alterações morfológicas na parede das
leveduras.
A próxima etapa dos trabalhos, dentro da proposta de pós-doutorado
de Vivian a ser desenvolvido no CPQBA, consistirá no estudo
da ação dos óleos associados e de formulação, visando o
desenvolvimento de um produto para uso no combate à levedura.
Segundo Vivian, há inúmeros medicamentos no mercado utilizados
no tratamento deste tipo de infecção. O uso prolongado desses
fármacos, no entanto, pode diminuir a eficiência do tratamento
devido à resistência adquirida pelos microrganismos. Neste
sentido, a busca de novas substâncias antimicrobianas a
partir de plantas medicinais pode se tornar uma alternativa
viável para o tratamento dessas doenças.
As leveduras Candida presentes no organismo coexistem sob
a forma de biofilme, que nada mais é do que um aglomerado
de células microbianas capazes de ocasionar infecções. Há
que se observar ainda a dificuldade em desarranjar essas
estruturas tridimensionais em que estão constituídos os
microrganismos, pois eles se auto-protegem e formam placas
espessas que impedem a passagem do medicamento.