RAQUEL
DO CARMO SANTOS
O educador físico Aylton José Figueira Junior comparou em
dois períodos diferentes o comportamento nutricional e o
nível de atividade física de grupos distintos de adolescentes
de 11 a 15 anos e detectou que a urbanização impõe um comportamento
sedentário para os garotos e garotas que residem em uma
região metropolitana. “O sedentarismo tem sido agravado
nos últimos anos devido a vários fatores, entre os quais
os hábitos alimentares, a jornada desenfreada de trabalho
da família e a falta de espaço para a prática de atividade
física em razão da verticalização das residências. Isto
reflete de forma negativa na condição física dos adolescentes
da área urbana”, defende Figueira Junior em sua tese de
doutorado apresentada na Faculdade de Educação Física (FEF)
e orientada pela professora Maria Beatriz Rocha Ferreira.
Para uma melhor comparação, o pesquisador tomou como objeto
duas cidades com perfis distintos. A primeira, São Bento
do Sapucaí, interior de São Paulo, com nove mil habitantes,
sendo que a maioria reside em área rural e com vasta área
livre para a prática de atividade física. Na cidade não
existe nenhum tipo de transporte urbano. Do outro lado,
o município de Santo André, da região do Grande ABC, em
São Paulo e totalmente urbanizada, com quase 700 mil habitantes.
O primeiro estudo ocorreu em 1997. Na época o educar físico
aplicou questionários e procedeu avaliações de aptidão física
geral, testes neuromotores e medição metabólica do consumo
de oxigênio pelo teste de corrida de 12 minutos aos adolescentes
das duas cidades. Em 2007, Figueira Junior retornou aos
dois municípios e realizou os mesmos testes e aplicou o
mesmo questionário para obter o nível de atividade física
e aptidão física, hábitos da vida e indicadores culturais
das duas populações. No total, o estudo envolveu 484 voluntários.
O impacto da urbanização, segundo Figueira Junior, foi
visível nos adolescentes residentes da área urbana. Para
o autor da pesquisa, o motivo pode ser o intenso uso do
computador, bem como o aumento na utilização de videogames.
Um exemplo disso foi o quesito resistência física – que
inclui desde o caminhar, andar ou pedalar: a piora destes
voluntários nos dez anos chegou a 35% em comparação aos
adolescentes da área rural. “Em 1997, as diferenças entre
os jovens das duas cidades praticamente inexistiam. Mas,
ao longo dos anos o quadro mudou consideravelmente”, destaca
o educador, que aponta que as meninas pioraram em relação
aos rapazes, ou seja, a urbanização está criando no universo
feminino uma condição física ainda mais difícil.
Figueira Junior prega a adoção de medidas para que a situação
não se agrave ainda mais. Ele acredita, pelos resultados
obtidos, que em 2017 o quadro poderá apresentar diferenças
ainda mais significativas. Alerta também que os hábitos
e atitudes presentes na adolescência podem se perpetuar
com força na fase adulta. Por isso, a intervenção deve ser
organizada e trazer benefícios em curto prazo. Na opinião
do educador físico, tanto a escola como a família devem
trabalhar na perspectiva de estimular o comportamento saudável.
“As grades curriculares deveriam privilegiar o estímulo
ao comportamento saudável nas outras disciplinas regulares.
Não há interesse em se ensinar a história do esporte ou
as características de doenças crônicas ou aspectos da nutrição,
quando este tipo de assunto poderia ser incorporado na grade
curricular”, defende.