O
artista plástico Guilherme Werneck expõe até 16 de junho,
na Galeria de Arte da Unicamp, a série “Interlocução – Reflexão
sobre a construção de um pensamento visual artístico”. A
série foi produzida ao longo da pesquisa de mestrado homônima,
apresentada dia 26 de maio no espaço da galeria. Como uma
das características da área de poética visual é a discussão
a partir de aspectos da produção artística do próprio autor,
Werneck explica que a série é uma exposição de seu próprio
pensamento artístico, sistematizado pela pesquisa acadêmica.
O projeto, segundo ele, descreve e analisa a memória em
que sua carreira foi construída, na qual a valorização e
a observação da natureza constituíram uma base sólida. A
incursão pela ciência e a biologia estavam vinculados a
essa vivência, surgindo nas telas como representação biomórfica
orgânica, segundo Werneck. A Galeria de Arte fica aberta
das 8h30 às 17h30, no prédio da Biblioteca Central César
Lattes.
Para Werneck, o pensamento artístico tem
origem individual por estar relacionado à sensibilidade
estética do próprio artista. Para ele, não existe uma fórmula
ou uma cartilha que direcione o processo criativo de um
artista e, por esse motivo, o trabalho acaba se configurando
em uma espécie de autobiografia. Ele afirma que o mestrado
não o levou à formação do pensamento do outro, mas conduziu
a reflexão de suas próprias potencialidades formativas autobiográficas,
criadas com base em suas próprias experiências com a arte.
Segundo o autor, o trabalho acadêmico o ajudou a ampliar
o conhecimento sensível e aprofundar sua linguagem pessoal.
“Nunca me ocorreu que houvesse um método para expressar
o sentimento. Acho que o trabalho está no universo do sensível.
O pensar artístico, a meu ver, não deve seguir uma regra”,
acrescenta. O mestrado o ajudou a fazer seu memorial, desenvolvendo
o estudo sobre seu processo criativo.
O
ateliê passou a ser um sistema laboratorial durante o mestrado.
Foi o momento em que ele conseguiu parar e sistematizar
as diversas abordagens técnicas e seus procedimentos. No
período de dois anos e meio tudo foi muito pensado, segundo
o artista. “Tudo foi registrado, observado, escrito, detalhado.
Isso me ajudou na resolução técnica/reflexiva porque pude
observar cada detalhe, trans formação, atuação, reação
e intenção. Além dos cursos maravilhosos que a Unicamp oferece”,
declara.
Ele ressalta que apesar da graduação em
biologia, iniciada no Rio de Janeiro e La Paz, na Bolívia,
a arte antecipou a ciência em sua vida. O artista diz sempre
ter trabalhado com simbolismo: “Tomei conhecimento do pensar
e do fazer artístico ‘sistematizado’ quando comecei a produzir
arte no ambiente acadêmico”, explica.
Sendo assim, a dissertação acabou se tornando
uma superposição cronológica de suas experiências vividas,
principalmente durante sua permanência em Londres, onde
se graduou e se especializou em Belas Artes, em 1993,e em
Nova York, onde foi trabalhar logo que se formou na Inglaterra.
A necessidade de pensar sua trajetória, o levou a dedicar
a primeira parte da dissertação a um memorial que, inevitavelmente,
começa pelas primeiras incursões na arte.
O violão tinha presença diária no ambiente
familiar, pois o pai, Dilermando, tinha uma sofisticação
artística que se tornou atraente também para os filhos.
A paixão do advogado pela música, que chegou a ser vivida
ao lado de nomes como Noel Rosa e Turíbio dos Santos, foi
transmitida aos filhos. Por outro lado, a mãe, Nazareth,
de origem simples, encantava pela articulação política,
pela tendência comunista, o cuidado com as plantas e o universo
da casa. “Minha família é artística, fui criado num ambiente
estimulante e privilegiado. Vivi a arte sem ter consciência
do valor formativo que isso teria na minha vida”, acrescenta.
Foi dentro de uma caverna vulcânica nas
ilhas Galápagos que, ao apagar a luz de sua lanterna e ouvir
o som do vento, Guilherme decidiu não prosseguir com os
estudos de biologia. Tomou a decisão de não seguir a carreira
científica, movido pelo sentimento de que, para ele, a vida
era capaz de despertar algo mais do que o universo da ciência
requeria.
Estimulado pela irmã Beth Kalache, inserida
no cenário artístico londrino na década de 1980, foi viver
em terras europeias. Lá, Werneck fez sua carreira internacional.
De volta ao Brasil, ele pretende expor seus trabalhos e
fortalecer as atividades voltadas a projetos socioculturais.
“Adoro trabalhar com comunidades carentes, principalmente
adoles centes”. Modesto, mesmo com um currículo repleto
de experiências, Werneck enfatiza que a vida do artista
é um crescente aprendizado. Para ele, não há uma conclusão
em uma pesquisa voltada para o pensamento artístico. Em
vez de deixar uma resposta definitiva, os estudos na área
de poética visual estimulam a busca de conhecimento constante
por mostrar justamente a importância de ter dúvida, levando
a refletir sobre o que se está fazendo. “Acho que a pesquisa
me deixou não uma certeza mas sim uma mostra da importância
de querer buscar o conhecimento. É isso que estimula. Se
dar conta de que não sabemos tudo mesmo”, reforça.
Para Werneck, é muito pessoal a constatação
de que a experiência acadêmica é ou não importante na vida
do artista. Recorda que na sua época de especialização,
em Londres, não era incentivado a criar tanto, tinha de
se ater ao aprendizado transmitido pelos professores, e
à experimentação de técnicas. Depois, no ateliê, é que o
artista vai desenvolver suas próprias experimentações. “É
outra questão individual, tem de ter disciplina enorme,
principalmente curiosidade e desejo em aprofundar o conheci
mento interno e externo”, reflete.
Mostras e oficinas
Dentro de seu projeto de disseminação da
arte, Werneck realizou projetos sociais em comunidades do
Piauí e em municípios do Estado de São Paulo, como Iguape,
Registro, Açu, onde esteve em 2005 e 2008. O artista também
realizou workshop em Lisboa, Portugal, e na Inglaterra com
estudantes de arte.
Entre as exposições individuais de Werneck
estão Galeria Arthobler, Porto, em Portugal (2007), Audio
Visual projection at Gato Vadio, em Porto, Portugal (2007),
Limits of Matter instalation, em Iguape, São Paulo (2003),
Galeria de Arte da Unicamp, em São Paulo (2000), Galeria
Deco, em São Paulo (1999), Galeria Adriana Penteado, em
São Paulo (1995), Ed. Azul e Branco, em São Paulo (1993),
com curadoria de Rejane Cintrão; Neo Persona Galery, em
Nova York, Estados Unidos (1989).
A carreira também é marcada por várias
mostras coletivas, entre as quais TO Coletiva pequeno
formato, em Lisboa (2009); Poética Têxtil, Oficina Cultural
Oswald de Andrade, em São Paulo (2009); Galeria Diferença,
em Lisboa, Portugal (2007); Millenium Art Colection, na
Holanda (1999); Museu de Arte Moderna de São Paulo (1994),
com curadoria de Maria Alice Milliet; Neo Persona Gallery,
Nova York, Estados Unidos (1993); Hardware Gallery, Londres,
Inglaterra (1988); Neo Persona Gallery, Nova York (1987);
Galeria Subdistrito, São Paulo (1987); Galeria Gravura Brasileira,
Rio de Janeiro (1986); 22 Wooster St. Gallery, Nova York
(1985); Marry Delahoyd Gallery, Nova York (1984); Galeria
da Universidade de Londres (1983); African Center, em Londres,
UK; Bloomsbury Theater, em Londres; London University College,
em Londres (1983).
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■ Publicação
Dissertação: “Interlocução
– reflexão sobre a construção de um pensamento visual artístico”.
Autor: Guilherme Werneck
Orientadora: Lygia Arcuri Eluf
Unidade: Instituto de Artes