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Tecnologia usa inteligência artificial
para detectar vazamentos de gases
Método, único que se tem notícia
no país,
foi desenvolvido por pesquisadores da FEQ
Pesquisa desenvolvida para
a dissertação de mestrado de Rejane Barbosa Santos apresentada
à Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, concebeu
tec- nologia capaz de detectar, localizar e dimensionar, em
tempo real, vazamentos de gases em sistemas de tubulação.
O método, único que se tem notícia no país, emprega sensores
acústicos e redes neurais artificiais para promover o monitoramento.
“Nos ensaios realizados em laboratório, a tecnologia se mostrou
muito precisa. O próximo passo será passar da fase de monitoramento
para a de controle o que exigirá a agregação de novos instrumentos
ao sistema”, afirma a professora Ana Maria Frattini Fileti,
orientadora do estudo. Rejane contou com bolsa de estudo fornecida
pelo Conselho de Desenvol- vimento Científico e Tecnológico
(CNPq)
De acordo com a docente,
a tecnologia apresenta uma série de vantagens sobre os métodos
convencionais de monitoramento. Normalmente, explica ela,
um gasoduto tem centenas ou milhares de quilômetros de extensão.
Uma das formas de identificar possíveis vazamentos utiliza
medições ao longo do sistema para verificar o nível de pressão.
Assim, se a pressão registrada num determinado ponto for diferente
da pressão de referência, é sinal de que provavelmente há
vazamento no trecho considerado. Nesse caso, os dados normalmente
são coletados e emitidos na forma de gráficos para uma central,
onde um operador fará a análise. Somente a partir daí é que
medidas corretivas são adotadas
No
caso do sistema desenvolvido na FEQ, o monitoramento é feito
em tempo real, por meio de um software concebido especialmente
para esse fim. A partir de informações fornecidas por microfones
instalados em pontos estratégicos da tubulação e de medidas
de pressão, o programa cruza e promove a análise dos dados,
apontando a localização e dimensão do vazamento. Ao mesmo
tempo, emite um sinal sonoro de alerta. “Caso o sistema esteja
automatizado, a tecnologia também atua, por exemplo, no sentido
de providenciar o fechamento gradual das válvulas, sem a intervenção
humana de modo a evitar perdas e eventuais acidentes”, detalha
a professora Ana Maria
Conforme a coorientadora da
dissertação, professora Sandra Lúcia da Cruz a FEQ vem desenvolvendo
pesquisas nessa área desde 1989, por iniciativa do professor
João Alexandre Ferreira da Rocha Pereira, hoje aposentado.
Inicialmente, os ensaios foram feitos com líquidos, que apresentam
menor grau de complexidade no que toca à detecção de vazamentos.
“Na época, nós realizamos diversas medidas que nos permitiram
detectar o vazamento, mas não localizá-lo ou dimensioná-lo.
Isso somente está sendo possível agora, com a utilização das
redes neurais artificiais. Isso sem dúvida deu um incremento
importante ao estudo e abriu uma grande perspectiva para a
futura aplicação desse tipo de tecnologia”, considera
Dito de modo simplificado,
as redes neurais artificiais são técnicas computacionais baseadas
em modelos matemáticos que simulam a estrutura neural humana
Elas são capazes de “aprender” por intermédio da experiência,
do treinamento A partir de dados que representam um sistema
estável, esse tipo de inteligência artificial promove a comparação
do modelo padrão com as informações geradas pelo monitoramento,
identificando desse. modo eventuais oscilações relacionadas
às situações de vazamento. Posteriormente, emite o alerta
e, se for o caso, toma as decisões corretivas necessárias.
A professora Ana Maria lembra
que antes de ser aplicada em uma tubulação comercial, a tecnologia
precisará sofrer incrementos. “O estudo foi desenvolvido,
obviamente, em escala laboratorial, onde as condições têm
maior nível de controle. Nessa situação, nós conseguimos apontar
com muita precisão a localização e a magnitude do vazamento.
Com a continuidade do trabalho, vamos buscar reproduzir as
condições mais próximas possíveis de uma operação real. Não
é uma tarefa trivial”, adianta. Segundo a professora Sandra
Lúcia, a aplicação dessa tecnologia num sistema de gasoduto
ainda deve levar algum tempo. Entretanto, ela enxerga um uso
imediato para o sistema. “Ele pode ser utilizado em ambiente
doméstico, de alcance mais localizado. Seria possível, por
hipótese, instalá-lo no sistema de tubulação de uma casa ou
apartamento para detectar eventuais vazamentos de gás”, avalia.
Outra possibilidade de aplicação
imediata está vinculada ao sistema de refrigeração de supermercados.
“Como toda geladeira tem um gás refrigerante, esse tipo de
monitoramento poderia identificar instantaneamente um possível
problema, favorecendo assim a adoção de uma medida corretiva
imediata”, acrescenta a professora Ana Maria.
Rejane Santos, autora da
dissertação, destaca que o uso da tecnologia pode de fato
evitar perdas financeiras e acidentes sérios, como o ocorrido
recentemente em Alagoas, quando houve vazamento de gás tóxico
de uma petroquímica. Na ocasião, diversas pessoas passaram
mal e tiveram de ser atendidas em hospitais. “Nos Estados
Unidos, segundo informações publicadas em um site especializado,
apenas 9% dos vazamentos de gás são identificados por meio
de sistemas de monitoramento. O restante só é percebido, por
exemplo, depois que alguém passa pelo local, percebe o problema
e aciona a em- presa ou as autoridades responsáveis”, diz.
Retornando
à tecnologia desenvolvida na FEQ, Rejane afirma que dará sequência
ao estudo no seu doutorado. O desafio será, como dito anteriormente,
estabelecer formas de controlar o sistema de tubulação. “Para
isso, será preciso acoplar mais instrumentos ao nosso método,
como microfones, medidores de pressão e válvulas de controle.
Também teremos que instalar um by-pass [duto paralelo] para,
no caso de detecção de vazamento, interrompermos a linha e
desviarmos o fluxo, sem que haja comprometimen- to do transporte
do gás”, esclarece.
O sistema de detecção de vazamento
de gases desenvolvido pelas pesquisadoras da Unicamp ainda
não foi objeto de um pedido de proteção intelectual, conforme
a professora Ana Maria, mas essa providência ainda pode ser
tomada. “Penso que se a gente conseguir fazer um sistema com
microprocessadores e criar um kit completo com o sistema de
redes neurais artificiais e o dispositivo de captação de sinais
sonoros, aí sim teremos algo que pode ser patenteável e posteriormente
comercializável”, analisa a docente.
Um dado curioso sobre a pesquisa
desenvolvida na FEQ diz respeito ao interesse manifestado
por uma pesquisadora russa, que está baseada a Espanha (Universidade
Rovira i Virgili). Ao conhecer o estudo durante um congresso
científico de inteligência artificial realizado na Áustria,
a cientista abordou a professora Ana Maria com uma proposta.
“Ela me pediu os dados sobre os sinais sonoros com os quais
trabalhamos, explicando que dispõe de um sistema especialista
que faz a detecção do humor humano a partir da fala. Segundo
essa pesquisadora, os dados são similares e poderiam ser interpretados
pelo seu sistema especialista, assim como a fala humana poderia
ser analisada pelo sistema que desenvolvemos. Trata-se de
uma possível aplicação da nossa tecnologia que sequer poderíamos
imaginar”, relata a orientadora do trabalho.
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■ Publicações
Artigo
■ Rejane Barbosa Santos, Elisangela Orlandi de Sousa, Sandra
Lúcia da Cruz, Ana Maria Frattini Fileti, A NEURAL MODEL TO
DETECT AND DETERMINE THE MAGNITUDE OF LEAKS IN GAS PIPELINES,
Procee- dings of the IASTED International Conference on Artificial
Intelligence and Applications (AIA 2011), February 14 - 16,
2011 Innsbruck, Austria, p. 89-94.
■ Dissertação: “Desenvolvimento de modelos
neurais para detectar e localizar vazamentos em tubulações
transportando gás”
Autora: Rejane Barbosa Santos
Orientadora: Ana Maria Frattini Fileti
Coorientadora: Sandra Cruz Fonte: Rejane
Barbosa Santos
Unidade: Faculdade de Engenharia Química
(FEQ)
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