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‘Kit geladeira’ pode reduzir
consumo de energia residencial
Dispositivo desenvolvido
na FEA promove condensação
evaporativa em refrigeradores domésticos
Uma simples geladeira é responsável por cerca de 30% dos
gastos mensais das famílias brasileiras com energia elétrica.
Mas uma solução doméstica foi pensada na Universidade para
diminuir este custo. A dissertação de mestrado de Mirko
Chávez Gutiérrez, apresentada recentemente à Faculdade
de Engenharia de Alimentos (FEA), levou ao desenvolvimento
de um dispositivo para a condensação evaporativa em refrigeradores
domésticos, uma vez que estes dissipam o calor para o ar
do ambiente. O resultado dos testes mostrou que foi possível
economizar a energia elétrica residencial. O trabalho de
Gutiérrez sugere para isso o uso de um “kit geladeira”
que permite funcionar de forma muito similar ao industrial.
Os condensadores evaporativos são apenas utilizados atualmente
em sistemas de refrigeração de maior porte, como por exemplo
em câmaras frigoríficas.
Esse kit é composto basicamente
de um reservatório, de uma pequena bomba hidráulica e de um
tubo de PVC, para circulação e distribuição de água. “O reservatório
precisa se encaixar à recepção da água que está caindo, a
fim de que possa ser bombeada novamente”, acentua o professor
Vivaldo Silveira Júnior, orientador da pesquisa de mestrado.
Ele considera que, se o dispositivo for levado à escala comercial,
poderá se tornar mais adaptável e ganhar um design arrojado
que acomodará melhor o sistema externo, embora já hoje, a
partir desta pesquisa, possa ser aplicado a qualquer refrigerador,
mesmo os mais antigos.
Dependendo do interesse das
empresas montadoras, o kit será facilmente implementado a
um baixo custo e com a eficiência que o Brasil requer, opina
Silveira Júnior. Com os dados obtidos nesta pesquisa, garante,
a economia no consumo global de energia elétrica residencial
chegaria a um patamar de 5%. “O resultado seria mais encorajador
do que o obtido no horário de verão, que ficou entre 3% e
4%”, relembra.
Gutiérrez, que é engenheiro
de alimentos graduado pela Universidade Católica de Arequipa,
Peru, buscou em seu projeto inspiração na geladeira, isso
porque ela é utilizada por 96% das famílias brasileiras e
é uma das vilãs no consumo de energia elétrica (o chuveiro
ainda figura como o primeiro colocado). Segundo o pesquisador,
existem no Brasil poucas iniciativas efetivas que visem à
economia energética nestes equipamentos. O condensador evaporativo,
ao contrário, provou ser uma estratégia viável, pois a tecnologia
já era empregada com sucesso na indústria, ainda que sem aplicações
domésticas.
Na prática, esse condensador
promove a transferência de calor para a água de resfriamento.
A sua função é transferir calor do gás circulando por dentro
dos tubos do sistema de refrigeração para a água, que os molham
no lado externo. “Quisemos, portanto, aliar esta necessidade
a uma tecnologia que possui uma aplicação industrial já atestada”,
destaca o engenheiro de alimentos.
Ele trabalhou adaptando uma
tecnologia de porte industrial, traduzindo-a para uso doméstico,
no caso as geladeiras. A solução foi possível nos testes,
e os experimentos se embasaram em normas brasileiras. “Escolhemos
a geladeira antiga porque é certo que o seu consumo será maior.
Foi uma forma de testar o experimento na pior situação”, conta,
mas reconhece que, quanto mais passa o tempo, as montadoras
têm melhorado o sistema de refrigeração e de isolamento dos
novos refrigeradores. “O nosso trabalho inclusive ajudaria
muito esse processo”, sinaliza Gutiérrez.
Ainda durante os testes, utilizaram-se
diferentes condições de temperatura de ensaios para todas
as regiões do país. Foram feitos experimentos em temperaturas
ambientais baixas, como acontece no Sul (17 e 18ºC), e em
temperaturas altas (32ºC), como no Nordeste. O equipamento
mostrou-se eficientemente, de acordo com o pesquisador, em
todos os arranjos de temperaturas.
Essa técnica adaptada deve
“cair nas graças” da indústria, na avaliação do pesquisador,
justamente por este favorecimento da água em promover a troca
térmica neste local, onde de fato precisa haver dissipação
de calor para adequar o ciclo termodinâmico da geladeira.
Para facilitar a sua dissipação, a água é circulada sobre
o condensador. Ela evapora e troca calor mais facilmente neste
local. Este favorecimento do sistema de refrigeração da geladeira
como um todo mantém internamente sua operação normal e com
melhor eficiência durante a troca térmica.
“Conseguimos inovar em termos
de aplicação. Falta agora buscar uma parceria com alguma empresa
que se interesse pela proposta, como as grandes fabricantes
de refrigeradores. Seria uma contribuição para a eficiência
energética, já que no momento precisamos encontrar meios de
economizar energia e realizar o mesmo trabalho. A isso chamo
eficiência energética”, diz Silveira Júnior.
Eficiência
Ainda que esse dispositivo
tenha um custo, ele foi concebido para atender a uma demanda
social. “Não queríamos que o custo fosse elevado. O investimento
inicial no kit é de apenas R$ 40,00 aproximadamente, por equipamento.
Considerando que é uma tecnologia inovadora e de fácil aplicação,
nota-se que ela tem tudo para impactar positivamente a comunidade
em geral com o apelo de conseguir uma melhora do desempenho
energético e de gerar uma poupança em famílias de qualquer
parte do Brasil.”
Agora a ideia do engenheiro
de alimentos é combinar outros benefícios com este dispositivo
em refrigeradores. “O sistema oscila menos e o compressor
enfrenta menor tempo de parada e de partida. Além disso,
mesmo do ponto de vista dos alimentos e de sua conservação,
ele é desejável para manter uma temperatura mais uniforme
dentro do gabinete da geladeira”, comenta Gutiérrez. Pelo
fato de ter uma temperatura com menores oscilações, os alimentos
na geladeira alcançam um maior tempo de conservação.
Quanto à melhora de desempenho
do sistema de refrigeração, foram efetuados cálculos para
entender o que significam esses 15% que, à primeira vista,
não dão a sua dimensão exata. Contudo, levando em conta
um custo de tarifa de R$ 0,331/kWh, que normalmente é a tarifa
praticada pelas concessionárias de energia, ele representaria
uma economia financeira mensal de R$23,44, segundo testes
comparativos desenvolvidos na FEA com um refrigerador com
e sem o dispositivo proposto. “É uma economia considerável
para uma conta residencial. Trata-se de um serviço de utilidade
pública e uma forma de economizar energia de maneira eficiente”,
expõe o pesquisador. Soma-se a isso a vantagem de o sistema
trabalhar sem exigir grandes modificações no seu funcionamento.
Segundo o autor da pesquisa,
o governo brasileiro não tem sido omisso em buscar maneiras
de melhorar a eficiência energética, contudo suas estratégias
atuais baseiam-se na troca de refrigeradores. “As concessionárias
trocam os refrigeradores mais antigos, devido ao seu maior
consumo em relação aos atuais. Esta estratégia é apenas uma
substituição”, afirma. “Se alcançarmos a massificação do dispositivo
estudado, será uma estratégia mais agressiva do que apenas
substituir um equipamento por outro, sendo que este procedimento
pode representar novos problemas ambientais. A nossa contribuição
poderia ser maior neste caso.”
Equipamentos eficientes, alimentos mais conservados
O Departamento de Engenharia
de Alimentos (DEA) da FEA tem demonstrado, ao longo dos
anos, preocupação com os processos de conservação de alimentos
e também com os equipamentos responsáveis para que isso
aconteça. No caso do presente estudo, Gutiérrez trabalhou
inicialmente com os equipamentos de refrigeração em prol
do produto, que é a conservação dos alimentos, e que, por
sua vez, chega aos gastos de energia, podendo gerar um custo
menor para o produto conservado.
O DEA tem, assim, duas óticas:
a de olhar pelo lado do produto e a de olhar pelos equipamentos.
Ele ainda produz pesquisas sobre os princípios de funcionamento
dos equipamentos e os processos de conservação ou secagem
de produtos para esta maior conservação. Enfatiza igualmente
o desenvolvimento dos secadores ou processos de extração
de essências. “São várias linhas que se dedicam aos fenômenos
que acontecem, interpretando-os e otimizando as suas condições
de processo”, expõe Silveira Júnior que, além de responsável
pelo Laboratório, é diretor-associado da FEA.
Água precisa de tratamento
Um inconveniente do
dispositivo é que a dona de casa terá que preencher
o reservatório de água todos os dias, para que funcione,
já que ela se evapora a cada 24 horas aproximadamente.
Manter a circulação da água e a sua evaporação são
os benefícios que se colocam neste trabalho.
Por outro lado, o
condensador da geladeira, que é o lugar mais quente
do aparelho, realça Silveira Júnior, também será o
mais úmido, neste caso. Por este motivo, o local pode
se tornar um foco para o desenvolvimento de bactérias
e de algas. Uma saída, aconselha, é realizar o tratamento
químico da água. “Ela tem que estar isenta de sujeiras,
exigindo-se um tratamento químico com algum bactericida
que permita promover a sua circulação”, aponta.
O tratamento físico
e químico da água utilizada no dispositivo deve ser
mantido com índices por volta de 5ppm (parte por milhão)
de cloro, por exemplo. “Os tratamentos disponíveis
não encarecem o custo do dispositivo e, mais que isso,
são necessários. Porém, frente ao bônus que ele proporciona,
a despesa é baixa e não limita a sua aquisição pelas
famílias”, discute Gutiérrez.
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Publicação:
Dissertação de mestrado “Estudo experimental de um dispositivo
de condensação evaporativa, aplicado a refrigeradores
domésticos”
Autor:
Mirko Chávez Gutiérrez
Orientador:
Vivaldo Silveira Júnior
Unidade:
Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
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