Um prêmio à humanização
do parto
PAULO
CESAR NASCIMENTO
Primeiro
no gênero na América Latina, o Centro de Atenção
Integral à Saúde da Mulher (Caism), o Hospital
da Mulher da Unicamp, integrante do complexo médico-hospitalar
da Universidade, tornou-se em 23 anos de existência
unidade modelar em assistência à saúde
feminina e neonatal e também se consolidou como referência
nacional para tratamento de câncer ginecológico
e mamário. Os serviços e o atendimento prestados
de forma pioneira a um contingente significativo de gestantes
que têm na instituição a única
possibilidade de receber atenção perinatal
de alta qualidade - principalmente nos casos de gravidez
de alto risco por doenças maternas ou fetais que
exigem procedimentos complexos - deram à unidade
o primeiro lugar entre os melhores hospitais-maternidade
públicos do Estado de São Paulo. O destaque
no resultado da pesquisa divulgada pela Secretaria de Estado
da Saúde é que o Caism foi avaliado positivamente
pelos seus próprios usuários. O atestado de
satisfação premia os esforços desenvolvidos
para a manutenção da excelência das
atividades assistenciais do órgão e, sobretudo,
aprova as ações para a humanização
do parto que começaram a ser adotadas há pelo
menos três décadas por meio de iniciativas
do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) da Unicamp, responsável pelo
atendimento ginecológico e obstétrico do centro.
Como hospital universitário,
o Caism é reconhecido pela liderança exercida
na pesquisa e no desenvolvimento de modelos aplicáveis
de assistência e pela formação altamente
qualificada proporcionada aos alunos de graduação,
pós-graduação e das especializações.
Mas até então não havia sido avaliado
pelo usuário com relação à qualidade
do atendimento, a terceira perna do tripé que alicerça
a sua atuação, observa o diretor-executivo
do Caism, professor Oswaldo da Rocha Grassioto. Ele salienta
que uma premiação amparada na satisfação
dos usuários contempla, principalmente, a política
de formação e desenvolvimento de técnicas
voltadas ao aprimoramento do conceito de humanização
do parto no Hospital da Mulher.
"O usuário percebe que os serviços são
de alta qualidade, que o corpo profissional é bastante
qualificado e que o hospital é muito bem equipado.
Porém, o mais importante para ele é constatar
que foi bem atendido, que ficou confortavelmente instalado
e que se sentiu seguro", argumenta Grassioto.
Parto
no quarto
Exemplo dessa política é a abordagem de atendimento
ao parto incorporada à rotina do hospital desde 2007,
com a criação dos quartos de Pré-Parto,
Parto e Puerpério (PPP), uma inovação
entre os hospitais públicos brasileiros. Diferentemente
do atendimento convencional que isola a gestante para a
realização do parto e depois a separa do bebê,
destinando-o ao berçário, as salas de Pré-Parto
permitem a internação compartilhada, com a
presença de acompanhante para trazer maior confiança
à mãe. Os procedimentos obstétricos
são executados nesses próprios cômodos,
dotados de equipamentos e da segurança exigidos para
os processos médicos, como equipamento de monitorização
fetal e uma cama eletromecânica que facilmente se
transforma em mesa cirúrgica. A implantação
do projeto das salas de parto deverá estar consolidada
no próximo ano, contribuindo para dobrar a área
física do Centro Obstétrico da unidade.
Outra novidade adotada pelo hospital: o recém-nascido
em boas condições de saúde permanece
com a mãe no quarto de PPP. Posteriormente é
liberado para a Enfermaria de Alojamento Conjunto e ali,
na companhia materna, recebe os primeiros cuidados. Existe
ainda a preocupação de assegurar ao neonato
o aleitamento natural, ficando a cargo do corpo de enfermagem
a orientação às mães a respeito
dessa necessidade infantil e também sobre outros
procedimentos que depois elas passarão a realizar
em casa. Se necessário, serviços psicológicos,
de assistência social e de fisioterapia também
são colocados à disposição da
mulher que recorre ao hospital para ter um bebê.
"O Caism não acolhe a mulher apenas quando ela
está grávida. Nós tratamos as pacientes
de forma integral, como seres humanos que precisam de atendimento
multiprofissional e interdisciplinar, por meio de programas
voltados a adolescentes, a mulheres vítimas de violência
sexual, à velhice, ao planejamento familiar, à
medicina fetal, entre outros", afirma o médico
Aarão Mendes Pinto Neto, chefe do Departamento de
Tocoginecologia da FCM.
Prevenção ao câncer
Um programa estratégico e de alto impacto social
mantido pelo Caism em parceria com órgãos
estaduais e municipais de saúde é a assistência
a pacientes com tumores ginecológicos e mamários.
O Hospital da Mulher é a principal instituição
para tratamento dessas doenças na Região Metropolitana
de Campinas. Segundo Grassioto, ações de prevenção,
diagnóstico precoce e tratamento de câncer
cérvico-uterino capitaneadas pelo centro colaboraram
para reduzir em 70% o índice de mortalidade da doença
em Campinas desde a década de 1960. "Saímos
de um patamar africano para um padrão melhor que
o norte-americano", compara.
A principal medida adotada foi a disseminação
de exames de Papanicolau em postos da rede pública
de saúde, ficando o Caism com a responsabilidade
de processar os resultados. Atualmente, processa mais de
25 mil exames mensais enviados por 62 municípios.
"O Caism tem cumprido muito bem seu papel de centro
catalisador na implantação de modelos assistenciais
para as necessidades da população, muitas
vezes proporcionando a infraestrutura, como no programa
voltado ao câncer de colo uterino. De nada adiantaria
fazer o Papanicolau se não tivesse quem processasse",
acentua Grassioto.
A expectativa agora é a de ampliar a atuação
do Hospital da Mulher na prevenção do câncer
mamário, ainda diagnosticado tardiamente e com índices
de mortalidade da ordem de 70% a 90%. No município
de Campinas a taxa de diagnóstico da doença
em sua fase inicial - que é a forma curável,
a custo reduzido e geralmente sem mutilação
- saltou de 11% em 1994 para 31% hoje. Ou seja, de cada
dez casos diagnosticados há 15 anos, nove estavam
quase que fora de possibilidade de cura. Atualmente, três
já são completamente curados.
"É pouco? Sim, ainda é, mas é
três vezes mais do que era", pondera Grassioto,
lembrando que no mundo essa relação é
de 50%, ou de cinco casos curáveis para cada dez
diagnosticados.
O aperfeiçoamento da assistência prestada nesse
campo, salienta o médico, passa pela criação
de centros de alta resolutilidade em oncologia, em parceria
com a Secretaria de Estado da Saúde, de forma a permitir
a redução do prazo existente hoje de aproximadamente
dois meses entre a realização de mamografia,
diagnóstico e início de tratamento.
"Quanto mais ágil for o atendimento e precoce
o diagnóstico do câncer de mama, maiores serão
as chances de sucesso do tratamento. Portanto, estamos imbuídos
em transformar esse período em sete dias", prevê
o diretor do Caism.
Sala
cirúrgica inteligente
Mas os planos para qualificar ainda mais a assistência
oferecida não param por aí. Obras financiadas
com recursos da Universidade, do próprio hospital,
do Estado e do Ministério da Saúde permitirão
ampliar em cerca de 30% a área física da unidade,
enquanto que a aquisição de equipamentos com
tecnologia de última geração (para
radioterapia e tomografia computadorizada) possibilitarão
a realização de procedimentos e diagnósticos
cada vez mais precisos. O investimento é da ordem
de R$ 3,5 milhões de reais por ano, revela Grassioto.
O Centro Cirúrgico, além da ampliação,
também será beneficiado com a construção
de uma sala inteligente de cirurgia minimamente invasiva.
Monitorada eletronicamente, será destinada a procedimentos
com auxílio de recursos robóticos e de vídeocirurgia.
Apenas essa ala está exigindo cerca de R$ 2 milhões
em infraestrutura e equipamentos.
"O principal desafio é incorporar ao hospital
a tecnologia mais moderna de diagnóstico e tratamento
que o mundo já tem", ressalta Grassioto. A intenção
é, no prazo estimado de dois anos, viabilizar investimentos
para nivelar mundialmente aquela que é considerada
a maior unidade hospitalar de atenção à
saúde feminina do interior do Estado de São
Paulo, dotando-a de recursos técnicos e estrutura
de serviços disponíveis nos melhores hospitais
internacionais no gênero. As mulheres aguardam pelas
novidades e, desde já, agradecem.
Acolhida, amparo e acompanhamento
Envolvida pelos aconchegantes
braços da mãe, Laysla dorme profundamente
após tornar-se uma das cerca de duas centenas de
crianças que vêm à luz mensalmente na
maternidade do Caism. Com pouco mais de 30 horas de vida,
47 cm e 2,5 kg, a menina é a segunda filha da camareira
Ana Carla da Silva Oliveira, de 36 anos. Rebeca, a primeira,
hoje com 3 anos, também nasceu nas dependências
da unidade. A opinião da mãe sobre o atendimento
e os serviços do hospital espelha a avaliação
de outras usuárias apontada pela pesquisa.
Moradora de Jaguariúna, cidade da Região Metropolitana
de Campinas, Ana foi encaminhada ao Caism após um
histórico de três abortos espontâneos
antes do nascimento da primogênita. Ela atribui o
sucesso da quarta gestação de 42 semanas ao
cuidadoso acompanhamento de seu pré-natal realizado
pela equipe do hospital. A experiência positiva desse
primeiro atendimento a deixou mais segura e tranquila quando
precisou ser submetida a um parto emergencial para o nascimento
de Laysla após a constatação da perda
de líquido amniótico com 38 semanas de gravidez.
"A atenção que eu recebi desde os médicos
do pronto-atendimento à equipe do pré-natal
especializado fez com que eu me sentisse em casa",
testemunha Ana.
Em sua primeira gestação, a coordenadora de
telemarketing Eliane Sueli Nascimento Camilo de Oliveira
confessa que ficou surpresa com os serviços disponibilizados
pelo Caism antes e durante a internação para
receber Sabrina, que nasceu de parto normal com 41 semanas.
A mãe de 26 anos realizou o pré-natal em um
posto de saúde do bairro onde mora, em Campinas,
e o receio inicial de não poder contar com a atenção
que gostaria em um hospital público dissipou-se quando,
por solicitação de sua ginecologista, precisou
ir ao Caism para um exame de monitoramento fetal, recomendado
para eliminar suspeitas sobre algum comprometimento da saúde
do bebê. Segundo ela, a acolhida e o amparo proporcionados
pela equipe médica nessa e nas demais etapas foram
tranqüilizadores.
"Temia que o atendimento fosse frio, impessoal, mas
enfermeiras e mesmo médicos residentes vinham constantemente
conversar comigo e me orientar a respeito de procedimentos
que eu, como mãe de primeira viagem, precisava aprender",
conta a usuária e feliz genitora de uma saudável
menina com 3,3 kg e 48,5 cm.
O hospital
O
Caism foi inaugurado em 1986, na gestão do reitor
José Aristodemo Pinotti. Dispõe de 139 leitos
distribuídos entre as subespecialidades da Obstetrícia,
Neonatologia, Ginecologia, Oncologia Ginecológica
e Mastologia. Já atendeu cerca de 1,5 milhão
de pacientes e realizou mais de 60 mil partos, a maioria
de risco. A área de abrangência do hospital
é de mais de cem municípios de São
Paulo e de outros estados.
A pesquisa
A inédita pesquisa relacionou os 10 melhores hospitais
e as cinco melhores maternidades públicas do Estado
na avaliação dos usuários do SUS. O
levantamento ouviu 60,2 mil pacientes que passaram por internações
e exames em 500 estabelecimentos da rede pública
paulista nos meses de novembro e dezembro de 2007 e abril
e junho de 2008. Entre as maternidades o Caism obteve a
nota média 8,904, seguido pelo Hospital Universitário
de São Paulo, com 8,843. A pesquisa avaliou o grau
de satisfação com o atendimento recebido,
nível do serviço e dos profissionais, qualidade
das acomodações e tempo de espera para internação.
Para as maternidades também foram incluídas
perguntas sobre humanização do parto.