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Um prêmio à humanização do parto

PAULO CESAR NASCIMENTO

A camareira Ana Carla da Silva Oliveira, com Laysla, sua segunda filha nascida no Hospital da Mulher: segurança no parto emergencial. (Foto:Antoninho Perri)Primeiro no gênero na América Latina, o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), o Hospital da Mulher da Unicamp, integrante do complexo médico-hospitalar da Universidade, tornou-se em 23 anos de existência unidade modelar em assistência à saúde feminina e neonatal e também se consolidou como referência nacional para tratamento de câncer ginecológico e mamário. Os serviços e o atendimento prestados de forma pioneira a um contingente significativo de gestantes que têm na instituição a única possibilidade de receber atenção perinatal de alta qualidade - principalmente nos casos de gravidez de alto risco por doenças maternas ou fetais que exigem procedimentos complexos - deram à unidade o primeiro lugar entre os melhores hospitais-maternidade públicos do Estado de São Paulo. O destaque no resultado da pesquisa divulgada pela Secretaria de Estado da Saúde é que o Caism foi avaliado positivamente pelos seus próprios usuários. O atestado de satisfação premia os esforços desenvolvidos para a manutenção da excelência das atividades assistenciais do órgão e, sobretudo, aprova as ações para a humanização do parto que começaram a ser adotadas há pelo menos três décadas por meio de iniciativas do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, responsável pelo atendimento ginecológico e obstétrico do centro.

Como hospital universitário, o Caism é reconhecido pela liderança exercida na pesquisa e no desenvolvimento de modelos aplicáveis de assistência e pela formação altamente qualificada proporcionada aos alunos de graduação, pós-graduação e das especializações. Mas até então não havia sido avaliado pelo usuário com relação à qualidade do atendimento, a terceira perna do tripé que alicerça a sua atuação, observa o diretor-executivo do Caism, professor Oswaldo da Rocha Grassioto. Ele salienta que uma premiação amparada na satisfação dos usuários contempla, principalmente, a política de formação e desenvolvimento de técnicas voltadas ao aprimoramento do conceito de humanização do parto no Hospital da Mulher.

"O usuário percebe que os serviços são de alta qualidade, que o corpo profissional é bastante qualificado e que o hospital é muito bem equipado. Porém, o mais importante para ele é constatar que foi bem atendido, que ficou confortavelmente instalado e que se sentiu seguro", argumenta Grassioto.

Parto no quarto
Exemplo dessa política é a abordagem de atendimento ao parto incorporada à rotina do hospital desde 2007, com a criação dos quartos de Pré-Parto, Parto e Puerpério (PPP), uma inovação entre os hospitais públicos brasileiros. Diferentemente do atendimento convencional que isola a gestante para a realização do parto e depois a separa do bebê, destinando-o ao berçário, as salas de Pré-Parto permitem a internação compartilhada, com a presença de acompanhante para trazer maior confiança à mãe. Os procedimentos obstétricos são executados nesses próprios cômodos, dotados de equipamentos e da segurança exigidos para os processos médicos, como equipamento de monitorização fetal e uma cama eletromecânica que facilmente se transforma em mesa cirúrgica. A implantação do projeto das salas de parto deverá estar consolidada no próximo ano, contribuindo para dobrar a área física do Centro Obstétrico da unidade.

Outra novidade adotada pelo hospital: o recém-nascido em boas condições de saúde permanece com a mãe no quarto de PPP. Posteriormente é liberado para a Enfermaria de Alojamento Conjunto e ali, na companhia materna, recebe os primeiros cuidados. Existe ainda a preocupação de assegurar ao neonato o aleitamento natural, ficando a cargo do corpo de enfermagem a orientação às mães a respeito dessa necessidade infantil e também sobre outros procedimentos que depois elas passarão a realizar em casa. Se necessário, serviços psicológicos, de assistência social e de fisioterapia também são colocados à disposição da mulher que recorre ao hospital para ter um bebê.

"O Caism não acolhe a mulher apenas quando ela está grávida. Nós tratamos as pacientes de forma integral, como seres humanos que precisam de atendimento multiprofissional e interdisciplinar, por meio de programas voltados a adolescentes, a mulheres vítimas de violência sexual, à velhice, ao planejamento familiar, à medicina fetal, entre outros", afirma o médico Aarão Mendes Pinto Neto, chefe do Departamento de Tocoginecologia da FCM.

Prevenção ao câncer
Um programa estratégico e de alto impacto social mantido pelo Caism em parceria com órgãos estaduais e municipais de saúde é a assistência a pacientes com tumores ginecológicos e mamários. O Hospital da Mulher é a principal instituição para tratamento dessas doenças na Região Metropolitana de Campinas. Segundo Grassioto, ações de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de câncer cérvico-uterino capitaneadas pelo centro colaboraram para reduzir em 70% o índice de mortalidade da doença em Campinas desde a década de 1960. "Saímos de um patamar africano para um padrão melhor que o norte-americano", compara.

A principal medida adotada foi a disseminação de exames de Papanicolau em postos da rede pública de saúde, ficando o Caism com a responsabilidade de processar os resultados. Atualmente, processa mais de 25 mil exames mensais enviados por 62 municípios.

"O Caism tem cumprido muito bem seu papel de centro catalisador na implantação de modelos assistenciais para as necessidades da população, muitas vezes proporcionando a infraestrutura, como no programa voltado ao câncer de colo uterino. De nada adiantaria fazer o Papanicolau se não tivesse quem processasse", acentua Grassioto.

A expectativa agora é a de ampliar a atuação do Hospital da Mulher na prevenção do câncer mamário, ainda diagnosticado tardiamente e com índices de mortalidade da ordem de 70% a 90%. No município de Campinas a taxa de diagnóstico da doença em sua fase inicial - que é a forma curável, a custo reduzido e geralmente sem mutilação - saltou de 11% em 1994 para 31% hoje. Ou seja, de cada dez casos diagnosticados há 15 anos, nove estavam quase que fora de possibilidade de cura. Atualmente, três já são completamente curados.

"É pouco? Sim, ainda é, mas é três vezes mais do que era", pondera Grassioto, lembrando que no mundo essa relação é de 50%, ou de cinco casos curáveis para cada dez diagnosticados.

O aperfeiçoamento da assistência prestada nesse campo, salienta o médico, passa pela criação de centros de alta resolutilidade em oncologia, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde, de forma a permitir a redução do prazo existente hoje de aproximadamente dois meses entre a realização de mamografia, diagnóstico e início de tratamento.

"Quanto mais ágil for o atendimento e precoce o diagnóstico do câncer de mama, maiores serão as chances de sucesso do tratamento. Portanto, estamos imbuídos em transformar esse período em sete dias", prevê o diretor do Caism.

Sala cirúrgica inteligente
Mas os planos para qualificar ainda mais a assistência oferecida não param por aí. Obras financiadas com recursos da Universidade, do próprio hospital, do Estado e do Ministério da Saúde permitirão ampliar em cerca de 30% a área física da unidade, enquanto que a aquisição de equipamentos com tecnologia de última geração (para radioterapia e tomografia computadorizada) possibilitarão a realização de procedimentos e diagnósticos cada vez mais precisos. O investimento é da ordem de R$ 3,5 milhões de reais por ano, revela Grassioto.

O Centro Cirúrgico, além da ampliação, também será beneficiado com a construção de uma sala inteligente de cirurgia minimamente invasiva. Monitorada eletronicamente, será destinada a procedimentos com auxílio de recursos robóticos e de vídeocirurgia. Apenas essa ala está exigindo cerca de R$ 2 milhões em infraestrutura e equipamentos.

"O principal desafio é incorporar ao hospital a tecnologia mais moderna de diagnóstico e tratamento que o mundo já tem", ressalta Grassioto. A intenção é, no prazo estimado de dois anos, viabilizar investimentos para nivelar mundialmente aquela que é considerada a maior unidade hospitalar de atenção à saúde feminina do interior do Estado de São Paulo, dotando-a de recursos técnicos e estrutura de serviços disponíveis nos melhores hospitais internacionais no gênero. As mulheres aguardam pelas novidades e, desde já, agradecem.

Acolhida, amparo e acompanhamento

Envolvida pelos aconchegantes braços da mãe, Laysla dorme profundamente após tornar-se uma das cerca de duas centenas de crianças que vêm à luz mensalmente na maternidade do Caism. Com pouco mais de 30 horas de vida, 47 cm e 2,5 kg, a menina é a segunda filha da camareira Ana Carla da Silva Oliveira, de 36 anos. Rebeca, a primeira, hoje com 3 anos, também nasceu nas dependências da unidade. A opinião da mãe sobre o atendimento e os serviços do hospital espelha a avaliação de outras usuárias apontada pela pesquisa.

Moradora de Jaguariúna, cidade da Região Metropolitana de Campinas, Ana foi encaminhada ao Caism após um histórico de três abortos espontâneos antes do nascimento da primogênita. Ela atribui o sucesso da quarta gestação de 42 semanas ao cuidadoso acompanhamento de seu pré-natal realizado pela equipe do hospital. A experiência positiva desse primeiro atendimento a deixou mais segura e tranquila quando precisou ser submetida a um parto emergencial para o nascimento de Laysla após a constatação da perda de líquido amniótico com 38 semanas de gravidez.

"A atenção que eu recebi desde os médicos do pronto-atendimento à equipe do pré-natal especializado fez com que eu me sentisse em casa", testemunha Ana.
Em sua primeira gestação, a coordenadora de telemarketing Eliane Sueli Nascimento Camilo de Oliveira confessa que ficou surpresa com os serviços disponibilizados pelo Caism antes e durante a internação para receber Sabrina, que nasceu de parto normal com 41 semanas.

A mãe de 26 anos realizou o pré-natal em um posto de saúde do bairro onde mora, em Campinas, e o receio inicial de não poder contar com a atenção que gostaria em um hospital público dissipou-se quando, por solicitação de sua ginecologista, precisou ir ao Caism para um exame de monitoramento fetal, recomendado para eliminar suspeitas sobre algum comprometimento da saúde do bebê. Segundo ela, a acolhida e o amparo proporcionados pela equipe médica nessa e nas demais etapas foram tranqüilizadores.

"Temia que o atendimento fosse frio, impessoal, mas enfermeiras e mesmo médicos residentes vinham constantemente conversar comigo e me orientar a respeito de procedimentos que eu, como mãe de primeira viagem, precisava aprender", conta a usuária e feliz genitora de uma saudável menina com 3,3 kg e 48,5 cm.

O hospital
O diretor-executivo do Caism, professor Oswaldo da Rocha Grassioto: "O usuário percebe que os serviços são de alta qualidade" (Foto: Antoninho Perri)O Caism foi inaugurado em 1986, na gestão do reitor José Aristodemo Pinotti. Dispõe de 139 leitos distribuídos entre as subespecialidades da Obstetrícia, Neonatologia, Ginecologia, Oncologia Ginecológica e Mastologia. Já atendeu cerca de 1,5 milhão de pacientes e realizou mais de 60 mil partos, a maioria de risco. A área de abrangência do hospital é de mais de cem municípios de São Paulo e de outros estados.

A pesquisa
A inédita pesquisa relacionou os 10 melhores hospitais e as cinco melhores maternidades públicas do Estado na avaliação dos usuários do SUS. O levantamento ouviu 60,2 mil pacientes que passaram por internações e exames em 500 estabelecimentos da rede pública paulista nos meses de novembro e dezembro de 2007 e abril e junho de 2008. Entre as maternidades o Caism obteve a nota média 8,904, seguido pelo Hospital Universitário de São Paulo, com 8,843. A pesquisa avaliou o grau de satisfação com o atendimento recebido, nível do serviço e dos profissionais, qualidade das acomodações e tempo de espera para internação. Para as maternidades também foram incluídas perguntas sobre humanização do parto.

 
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