Avanços e retrocessos das profissionais de creches
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Monitoras
ou recreacionistas. São muitas as nomenclaturas para
as profissionais que desenvolvem trabalho junto a meninos
e meninas de 0 a 3 anos em creches. No entanto, dificilmente
lhes é atribuída a profissão de professoras
ou são incorporadas a uma carreira no magistério.
"Desde 1988, quando as creches foram tidas como direito
da criança e da família, há uma busca
pela profissionalização e pelo reconhecimento
enquanto professoras. As creches surgiram como assistência
social e, desde então, existe essa associação
com o assistencial", destaca a educadora Joseane Maria
Parice Búfalo, que defendeu tese de doutorado sobre
o assunto na Faculdade de Educação (FE).
O objetivo de Joseane, sob orientação da professora
Ana Lúcia Goulart de Faria, foi analisar como está
sendo construída a profissão nas campanhas
do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público
Municipal de Campinas. Ela fez entrevistas e analisou atas
e pautas de reuniões e assembléias. Na opinião
da educadora, as profissionais deveriam ser chamadas de
docentes, pois há uma preocupação com
o educar, além é claro, de também ter
como premissa o cuidado. Trata-se, segundo ela, de outra
forma de aplicar questões pedagógicas. "O
trabalho possui características próprias,
pois os alunos são, em sua maioria, crianças
que não andam, não falam, mas os profissionais
têm a mesma função", defende.
Na pesquisa, Joseane observou que foram muitos os avanços
alcançados pela categoria, principalmente, na questão
de redução de jornada de trabalho. Em 1989,
as profissionais tiveram uma redução de 44
para 40 horas semanais. Dez anos depois, logo após
a fundação do Sindicato, o período
de trabalho passou para 36 horas semanais e, em 2004, a
jornada foi reduzida para 32 horas por semana. Neste caso,
estipulou-se que 30 horas seriam o período de trabalho
e duas horas ficariam reservadas para a formação
profissional e o planejamento.
Ao contrário do que ocorre em muitas categorias,
as campanhas pela redução de jornada de trabalho
sempre foram pautadas para o aumento da disponibilidade
de se buscar a profissionalização dos serviços.
Os avanços, no entanto, param por aí. Joseane
destaca que, em 2007, é instituído o plano
de cargos e salários dos funcionários da Prefeitura
de Campinas e, com ele, as profissionais passaram a ser
Agentes Educacionais. "Elas perdem a identidade e são
retiradas do quadro da Educação. Existe um
processo marcado por muitos avanços, mas também
de retrocessos", argumenta.