Uma sacola plástica biodegradável
Produto
desenvolvido
na FEA pode ser também usado como película
para proteção
de frutas
MANUEL
ALVES FILHO
No lugar da sacola plástica
produzida a partir de matérias-primas derivadas de
petróleo, um produto feito somente com polímeros
naturais. Em vez do material que leva até um século
para se degradar na natureza, um substituto totalmente biodegradável,
que se decompõe em contato com o ambiente em questão
de dias. A alternativa, ansiada há tempos pela sociedade,
acaba de ser viabilizada pela engenheira de alimentos Farayde
Matta Fakhouri. Ela desenvolveu para a sua tese de doutorado,
defendida recentemente na Unicamp, um filme flexível
que pode ser empregado tanto na fabricação
de sacolas plásticas, daquelas fornecidas pelos supermercados,
quanto de películas para proteção de
frutas. Detalhe: por ser composto basicamente por amido
(milho e mandioca), gelatina e um ácido graxo, o
biofilme pode ser comestível. O trabalho foi orientado
pelas professoras Fernanda Paula Collares e Lucia Mei.
A pesquisa de Farayde deu continuidade ao trabalho realizado
por ela no mestrado, cuja orientação coube
ao professor Carlos Grosso. A busca da pesquisadora era
pelo desenvolvimento de uma embalagem que fosse biodegradável
e usasse apenas polímeros naturais. "Atualmente,
o mercado até oferece materiais biodegradáveis,
mas que utilizam matérias-primas derivadas do petróleo,
que é uma fonte não-renovável",
explica. De acordo com ela, o estudo foi muito trabalhoso.
Antes de chegar à formulação ideal,
ela testou oito tipos de amido, em duas concentrações
diferentes. Em seguida, avaliou três concentrações
distintas de gelatina e dois tipos de plastificante, elemento
responsável pela maleabilidade do biofilme, além
de seis diferentes ácidos graxos.
As
sacolas plásticas biodegradáveis, conforme
Farayde, foram produzidas pelo método de extrusão
seguida de sopro. Em comparação com os produtos
encontrados no mercado, elas são um pouco menos resistentes.
Entretanto, a engenheira de alimentos acredita que bastará
promover pequenas alterações na formulação
para corrigir essa deficiência. "Atualmente,
graças às possibilidades oferecidas pela nanotecnologia,
já temos como lançar mão de nanosílicas
ou nanocompósitos que podem conferir maior resistência
ao filme", infere. As embalagens feitas apenas com
polímeros naturais, assinala a autora do estudo,
tendem a se decompor na natureza muito rapidamente. "Neste
caso, tudo leva a crer que é um processo que deve
levar dias", prevê.
Pelos cálculos da pesquisadora, que continuará
aperfeiçoando a inovação no seu pós-doutorado,
resolvidos os pequenos problemas tecnológicos, as
sacolas biodegradáveis poderão estar no mercado
num prazo de dois anos. "Como a etapa mais difícil
foi superada, creio que a transferência dessa tecnologia
para o setor produtivo poderá ser feita sem grandes
entraves". Farayde destaca, ainda, que além
de servir a esse tipo de embalagem, o filme biodegradável
também pode ser utilizado para proteger frutas. Desde
que seja adicionada água à formulação,
ela assume a consistência de uma "calda".
Após ser banhada nessa fórmula, a fruta ganha
uma película ao seu redor, que funciona como uma
espécie de casca muito fina e transparente. "Nos
testes que fizemos, a uva protegida por essa película
teve a sua vida de prateleira ampliada em 20 dias",
revela a engenheira de alimentos.
Caso seja de fato transformado em um produto comercial,
o filme plástico biodegradável desenvolvido
por Farayde deverá contribuir para a redução
da agressão ao meio ambiente. Além de fartamente
usada pelos brasileiros, as sacolas plásticas convencionais
também servem para o descarte do lixo doméstico
de um sem-número de lares do país. Como esse
material é pouco reciclado no Brasil, ao contrário
do que ocorre com as latas de alumínio, a maior parte
das embalagens acaba sendo descartada na natureza, o que
provoca um enorme problema ambiental. Atualmente, do total
de lixo produzido em escala nacional, entre 5% e 10%, variando
conforme a região, são constituídos
por plásticos. Destes, somente 20% passam por processos
de reciclagem.