Tese lança luz sobre a vida
e
a obra de Eunice Katunda
Pesquisa
desenvolvida por pianista no Instituto de Artes resgata
peças da compositora
Álvaro Kassab
kassab@reitoria. unicamp.br
A
vida e a obra da compositora Eunice Katunda (1915-1990),
um dos nomes mais representativos da música erudita
brasileira do século XX, acabam de ser resgatadas
na tese de doutorado "Louvação a Eunice:
um estudo de análise da obra para piano de Eunice
Katunda", recém-defendida pela professora e
pianista Iracele Vera Lívero no Instituto de Artes
(IA).
Orientada pela
professora Maria Lúcia Pascoal, a pesquisa de Iracele
faz mais do que preencher uma lacuna historiográfica
inexplicável: traz à tona, por meio de levantamento
minucioso, a produção musical de Eunice, analisando-a
e contextualizando-a nos cenários - muitas vezes
conturbados - que foram se sucedendo ao longo de sua trajetória
pessoal e artística.
Professora da "Escola
de Música do Estado de São Paulo", a
pianista constatou a importância de Eunice ao se debruçar
sobre a trajetória do compositor e maestro Claudio
Santoro, cuja obra foi tema de sua dissertação
de mestrado apresentada em 2003 no Instituto de Artes.
A partir do ano
seguinte, a autora da pesquisa iniciou seu mergulho na obra
da compositora carioca, vasculhando manuscritos, partituras
e publicações, além de entrevistar
fontes que conviveram com Eunice. Emergiu desse esforço
um retrato multifacetado, cujos contornos impressionaram
a banca por seu ineditismo e pela riqueza de dados. De quebra,
Iracele editou as partes musicais que estavam em manuscritos
e gravou algumas peças, a exemplo do que já
havia feito com os Prelúdios para piano de Claudio
Santoro.
Na esfera biográfica,
o rigor e o detalhamento da pesquisa revelam que Eunice
foi, antes de tudo, uma desbravadora, com toda a carga que
isso significava no século XX. Feminista, vanguardista
e militante comunista, não raro a compositora foi
vítima de seus pares, fossem eles da cena musical
ou do partido. A tese de Iracele mostra que os boicotes
e os rompimentos, entretanto, não esmoreceram os
ideais e a busca de Eunice por uma linguagem estética
inovadora - do dodecafonismo às raízes afro-brasileiras.
Para levar adiante
seu projeto, a compositora resistiu o quanto pode às
saraivadas que vinham da direita e da esquerda. Como demonstra
Iracele na entrevista que segue, o projeto de Eunice Katunda
era maior. Sua obra ficou.
Jornal
da Unicamp -Durante quanto tempo você dedicou-se à
pesquisa sobre Eunice Katunda?
Iracele Lívero - A pesquisa teve início
a partir do projeto apresentado para ingresso no doutorado,
em 2004, pois necessitava de material sobre a compositora
para realizá-lo. O primeiro contato foi com o pesquisador
Carlos Kater, que já havia feito um trabalho anterior:
o levantamento e microfilmagem do acervo e catalogação
da obra de Eunice Katunda, que ainda estava viva, publicado
no livro Eunice Katunda, musicista brasileira. Kater me
cedeu as partituras para piano em manuscritos e, a partir
disso, pude iniciar minha pesquisa.
JU - Que tipo de dificuldades
você enfrentou ao longo da prospecção?
Iracele Lívero - As dificuldades pertinentes
a uma pesquisa inédita, sobretudo no que diz respeito
ao levantamento e reunião do material, o trabalho
com manuscritos - partes musicais e cartas -, a falta de
bibliografia extensa e de gravações, entre
outros.
JU - O que a levou a
eleger Eunice Katunda personagem central do trabalho?
Iracele Lívero - Realizei meu trabalho de
mestrado sobre o grande compositor Claudio Santoro e, durante
as pesquisas e leituras, encontrei o nome de Eunice Katunda.
Ela era muito atuante no ambiente musical da época.
Intrigou-me, porém, o fato de as obras de Eunice
não serem conhecidas. Eram praticamente ignoradas
em salas de concerto. Suas peças não foram
editadas ou gravadas e muito menos estudadas. Como conseqüência,
surgiu um grande interesse em estudá-la.
JU - Em resumo, quais
são as maiores contribuições de sua
pesquisa nos campos musical e biográfico?
Iracele Lívero - A maior contribuição
musical foi a sistemática de análise que realizei
na obra para piano de Eunice Katunda, revelando os materiais
e os procedimentos composicionais empregados de uma maneira
bastante original pela compositora durante sua trajetória
musical.
A análise musical
é um dos estudos da música que permite investigar
as funções dos elementos que constituem a
estrutura musical, respondendo à questão de
como um trabalho foi feito. Por comparação,
se determinam os elementos estruturais e se descobre a função
de cada elemento. A análise é um processo
de descobrimento, cujos procedimentos podem ser úteis
para uma interpretação mais embasada, pois
permite mostrar como uma determinada peça se desenvolve,
como seus elementos musicais interagem e como o compositor
trabalhou este material. É útil para se conhecer
e entender uma trajetória musical particular ou mesmo
um período mais amplo.
Dessa maneira foi possível
traçar a trajetória musical de Eunice, inserindo-a
no contexto da música brasileira. A análise
é interminável, assim como o trabalho do conhecimento.
No campo biográfico,
apesar do nome de Eunice Katunda constar em enciclopédias
internacionais e de ela ter participado de um momento importante
como integrante do Grupo Música Viva, na década
de 40, entre outros fatos relevantes, sua obra e trajetória
são ainda desconhecidas no Brasil. Contribuo para
ressaltar a importância de Eunice no âmbito
da música brasileira, mostrando como ela foi uma
grande compositora e intérprete.
JU - Quais os componentes
inéditos da tese?
Iracele Lívero - O principal está na
associação de ferramentas de análise
musical, desenvolvidas durante o século XX, aplicadas
e adaptadas na obra para piano de uma compositora brasileira.
Com o desvelar de sua trajetória musical, fundamentado
nas análises, a tese contribui para o aumento da
bibliografia sobre análise musical em língua
portuguesa. Também editei as partes musicais que
estavam em manuscritos, assim como gravei algumas peças.
JU - Quais foram as
principais conclusões da pesquisa?
Iracele
Lívero - Os estudos revelaram, por meio das análises,
um conjunto abrangente de informações a respeito
da trajetória musical de Eunice Katunda. O trabalho
investigou ainda o posicionamento de Eunice na cena musical
brasileira do período, podendo concluir que a compositora
teve um papel de destaque como musicista de vanguarda, na
década de 40, quando integrante do Grupo Música
Viva.
As décadas de 40
e 50 foram marcadas por um movimento de renovação
musical, de convergências entre o nacionalismo vigente
e uma nova proposta para a música brasileira, apregoada
pelo Música Viva. Eunice aderiu aos ideais do grupo
participando de debates e concertos em primeira audição
da música nova, tanto no Brasil como no exterior,
apoiando com convicção esta renovação.
Adotou assim neste momento a técnica dodecafônica
para expressar-se, consolidada com sua viagem à Itália,
onde teve oportunidade de se aperfeiçoar com Bruno
Maderna, cabeça da jovem escola italiana que defendia
a nova música, ao lado também de Luigi Nono.
Neste período de permanência na Itália
(1948-9), após o término do Corso Internazionale
di Direzione, teve executada, na Suíça, pela
primeira vez, por Hermann Scherchen, então diretor
do evento, sua obra dodecafônica Cantos à Morte.
A partir da Carta Aberta
aos Músicos e Críticos do Brasil, escrita
por Camargo Guarnieri em 1950, Eunice assume uma nova postura.
Desdenha o dodecafonismo, declarando ser impossível
fazer música nacional empregando esta técnica
e julga o folclore musical brasileiro a fonte mais rica
em materiais.
Com essa atitude, Eunice
se aproxima dos ideais de Mário de Andrade, e passa
a ter no Ensaio Sobre a Música Brasileira seu livro-referência.
Inicia uma série de viagens à Bahia para pesquisar
e recolher informações sobre a música
dos rituais afro-brasileiros.
A compositora teve um interesse
particular pela música brasileira contemporânea,
utilizando elementos da técnica dodecafônica
e manifestações da música da Bahia,
além de lançar mão da indeterminação
e explorar novos recursos do piano. Pode-se concluir que
Eunice Katunda não apresenta uma linha única
de pensamento composicional. Não é possível
determinar fases precisas em sua trajetória musical.
De cultura eclética, desenvolveu sua criação
conforme seus interesses particulares, adotando uma linguagem
pós-tonal para expressar-se.
JU - Na sua opinião,
o que merece ser destacado na obra de Eunice Katunda, tanto
no campo estético como no contexto da história
da música contemporânea?
Iracele Lívero - Eunice não criou uma
estética musical diferenciada, como fizeram, por
exemplo, Mário de Andrade, Villa-Lobos e Camargo
Guarnieri. No contexto da música brasileira, ela
foi uma pianista e compositora muito importante para a música
do século XX. Durante sua participação
no Música Viva, chamou a atenção para
o não-sectarismo desse grupo, argumentando a favor
da importância de suas atividades bem como da importância
histórica no cenário brasileiro.
Apesar das divergências
entre grupos nacionalistas e do Grupo Musica Viva, alguns
pontos em comum foram ressaltados: ambos procuraram estimular
e valorizar a formação de novos compositores
brasileiros, valorizando a função social do
criador. Chocam-se no tocante ao emprego de material folclórico
por parte dos compositores do grupo nacionalista. No entanto,
condições políticas e sociais criaram
a necessidade de constituir uma identidade nacional. É
neste contexto que Eunice Katunda merece ser destacada e
lembrada. Ela tinha um compromisso social em fazer música
brasileira.
JU - Em que medida a
militância política da compositora foi um obstáculo
em sua trajetória?
Iracele Lívero - Segundo seus relatos em jornais
da época, Eunice se filiou ao Partido Comunista Brasileiro
(PCB) em 1934, deixando-o em 1954 em protesto à invasão
da Hungria pela União Soviética. Sofreu não
somente com o autoritarismo de certas correntes do partido,
como também foi afetada no campo pessoal e artístico.
Eunice, mesmo na militância,
manteve-se fiel aos seus ideais, adotando uma postura contrária
às diretivas estéticas e musicais impostas
pelo partido. Para expressar-se utilizava técnicas
de compor que foram fortemente condenadas pelo PCB. Em carta
enviada de Veneza em 1949, Eunice se mostra contrária
a estas orientações, assim como no que se
refere à menor participação da mulher
em relação ao homem - elas eram vistas como
"menos evoluídas" politicamente.
O seu afastamento do Grupo
Música Viva, em meados de 1950, se fez provavelmente
por conflitos ideológicos provenientes das interpretações
do Manifesto de Praga (1948) e também pela Carta
Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil (1950).
Eunice sofreu as conseqüências
do seu engajamento político na época, tanto
da esquerda como da direita. Em 1963, em entrevista à
Folha da Manhã, declara-se desiludida com a falta
de oportunidades e o quanto era difícil ser artista
no Brasil. Um concerto seu, pré-agendado no Teatro
Municipal, foi sendo adiado ao longo de cinco anos quando
a data da apresentação se aproximava.
Mesmo desligada do partido,
sofreu perseguição política em 1965,
ao ser impedida de entrar no Teatro Municipal, na véspera
de um concerto.
JU - Qual a sua opinião
sobre os estudos relacionados a compositores no Brasil.
Existem muitas lacunas historiográficas? Se sim,
a que você atribui?
Iracele Lívero -Não são poucos
os estudos relacionados a compositores eruditos no Brasil,
mas eles são ainda insuficientes. É claro
que estes trabalhos estão circunscritos às
universidades. Por outro lado, não há interesse
por parte da mídia na sua divulgação.
Os veículos de comunicação se interessam
pelas figuras que estão no imaginário das
pessoas. Por exemplo, se referem a Villa-Lobos como uma
imagem ligada a Getúlio Vargas; Carlos Gomes é
visto como o criador da ópera romântica no
Brasil. Não faltam exemplos dessa visão reducionista.
Poucos são os veículos que se interessam por
estudos musicais mais aprofundados que denotem a real importância
do compositor. As palavras da própria Eunice Katunda,
que disse que "não há audições
organizadas de música atonal e não existe
cultura musical orientada. Domina o interesse comercial,
de bilheteria [...]" demonstram claramente este fato.
Lacunas sempre existirão,
mas elas não têm a mesma importância
na historiografia como têm no campo da análise
musical. Já existem muitos estudos sobre compositores
eruditos brasileiros, mas são insuficientes os estudos
de análise musical.
São poucos os que
se comprometem, como eu e o grupo de minha orientadora,
a professora Maria Lúcia Pascoal, a realizar um estudo
sério de análise musical, principalmente na
música brasileira. No Brasil, e até mesmo
no próprio meio musical, existe pouco interesse por
essa vertente da música. Obviamente, há um
grande desconhecimento de análise do ponto de vista
técnico e muitos a consideram desnecessária.
No Brasil, quase não existe formação
básica em relação às suas técnicas
específicas. Ainda é um campo novo, a ser
desenvolvido.
Por isso, pretendo continuar
estudando e desenvolvendo meus estudos de análise
e pesquisa da música brasileira, divulgando-a sempre
que possível.
Do Música Viva ao Carnegie Hall
Eunice
de Monte Lima nasceu no Rio de Janeiro em 14 de março
de 1915. Filha de Rubens de Monte Lima e da pintora nativista
Maria Grauben Bomilcar, iniciou seus estudos de piano com
5 anos de idade com a professora Mima Oswald, filha do compositor
Henrique Oswald. Mais tarde teve aulas com Branca Bilhar
e com o professor e crítico musical Oscar Guanabarino,
do Jornal do Comércio (Rio). Com 19 anos realiza
seu primeiro concerto como solista em apresentação
da Orquestra Sinfônica Municipal do Rio de Janeiro,
sob a regência do maestro Spedini. Sua atuação
foi recebida com grande entusiasmo pela crítica.
Casa-se em 1934 com o
matemático Omar Catunda, muda-se para São
Paulo e passa a assinar Eunice Catunda. Na capital paulista,
continua seus estudos de teoria, análise, harmonia
e contraponto com o professor Fúrio Franceschini
e de piano com Marieta Lion. Eunice considera este um novo
período na sua vida artística e 1941 o marco
do início de sua carreira pianística.
Dois acontecimentos importantes
ocorreram neste ano: em 23 de maio faz sua estréia
no Teatro Municipal de São Paulo, como solista junto
à Orquestra do Departamento Municipal de Cultura,
sob a regência de Camargo Guarnieri e, em 5 de setembro,
realiza um recital solo, no mesmo teatro, interpretando,
entre outras peças, a Tocata de Camargo Guarnieri,
em primeira audição mundial. Manifesta-se
desde então o seu apreço pela divulgação
da música brasileira, o que se intensificará
ao longo de sua trajetória musical.
De 1942 a 1945, estuda
composição com Camargo Guarnieri. Conhece
Heitor Villa-Lobos em 1943, em um concerto dedicado ao compositor.
O encontro lhe rendeu uma dedicatória ("a minha
excelente e consciente intérprete"), além
de uma carta de apresentação que lhe abriria
as portas para uma turnê pela Argentina no ano seguinte.
Em 1946, de volta ao Rio
de Janeiro, passa a pertencer ao Grupo Musica Viva, liderado
por Hans-Joachim Koellreutter. Nesta fase, que perdura até
o ano de 1950, Eunice teve grande atuação
no meio musical brasileiro. Seu aprendizado com Koellreutter
fez com que tivesse contato com o repertório da música
pós-tonal internacional. É dessa fase o Prêmio
Música Viva para jovens compositores, recebido por
sua obra O Negrinho do Pastoreio, cantata em 4 atos para
vozes femininas (1946), assim como sua viagem para Europa,
em 1948, a fim de participar do Corso Internazionale di
Direzione, XI Festival Internacional de Música Contemporânea.
Em Veneza estuda regência com Hermann Scherchen, música
serial com Bruno Maderna e se torna companheira de trabalho
de Luigi Nono. Este último declara, mais tarde, ter
recebido influências decisivas dessa compositora brasileira.
Também neste período realiza na Europa uma
série de recitais com execuções em
primeira audição, incluindo música
brasileira.
De volta ao Brasil, distancia-se
do Grupo Musica Viva, afastando-se de seu mentor com manifestações
um tanto agressivas, provavelmente geradas por discordâncias
ideológicas. Em 1950 seu quinteto Homenagem a Schoenberg
é escolhido por um júri internacional para
ser apresentado no XXIV Festival Internacional de Música
Contemporânea, realizado em Bruxelas.
Por suas preocupações
do ponto de vista político-ideológico, recusa
convite de Scherchen para se reunir em março de 1952
em Veneza, ao lado de outros compositores, a fim de discutirem
sobre a música nova da época. A recusa desse
convite reflete a aceitação e obediência
de Eunice às normas partidárias: o "novo"
cede lugar ao "povo", gerando ruptura.
Ao abandonar o dodecafonismo,
técnica seguida pelos integrantes do Música
Viva, Eunice passa a se dedicar às pesquisas, estudos
e coletas dos ritmos e cantigas dos rituais da Bahia.
A compositora inicia uma
série de viagens à Bahia. Como artista, compreende
que tem a função de captar o sentimento e
o espírito do povo, filtrando-o depois, através
de sua própria personalidade. Durante este período
de viagens, estendidas até o ano de 1962, conhece
e se torna grande amiga do antropólogo e fotógrafo
francês Pierre Verger, que também realizava
pesquisas na Bahia. Este foi um período bastante
fértil para Eunice, resultando em composições
com matizes brasileiros.
A partir de então,
seguem-se convites para ministrar cursos e conferências
em diversas cidades do Brasil e também dos Estados
Unidos, o que lhe deu a oportunidade de falar sobre as formas
e expressões da música brasileira e de suas
influências africanas.
Em 1968 realiza concerto
no Carnegie Hall, o mais representativo para sua carreira
de intérprete, recebendo as melhores críticas
da imprensa americana, bem como o reconhecimento pela execução
de uma peça de sua autoria: Sonata de Louvação.
No mesmo ano, a pianista Guiomar Novaes aplaudiu em pé
e entusiasticamente Eunice, em recital na Sala Cecília
Meireles, no Rio de Janeiro.
Paralelamente às
atividades de compositora e intérprete, Eunice realizou
um programa semanal na Radio Nacional, Musical Lloyd Aéreo,
entre 1955 e 1956, no qual exercia a regência da Orquestra
Sinfônica da Radio Nacional, realizando arranjos de
música típicas brasileiras, bem como de compositores
contemporâneos, para serem executadas no programa.
O compositor brasileiro Gilberto Mendes, principal signatário
do Manifesto Música Nova (1963), teve uma obra apresentada
nesse programa por Eunice, quando era ainda um jovem desconhecido.
Eunice se destacou também
pela atividade de educadora e nesse sentido mencionava que
o ensino musical nos conservatórios não correspondia
às necessidades dos jovens, que queriam expressar-se
livremente.
Alia suas atividades de
compositora, intérprete e educadora às de
escritora, publicando vários artigos sobre estética,
poesia, folclore, além de diversas traduções.
Eunice sofreu as consequências
de sua época, principalmente pelo seu engajamento
político. Mesmo desligada do Partido Comunista, sofreu
várias perseguições políticas,
entre as quais o fato de, em 1965, ter sido impedida de
entrar no Teatro Municipal, em vésperas de um concerto.
Em 1979, nas atividades
de comemoração dos quarenta anos do Música
Viva, durante o 8º Curso Latino-Americano de Música
Contemporânea, em São João del Rey,
convidada para o evento, Eunice teve a oportunidade de se
retratar publicamente com Koellreutter, lamentando ter rompido
com o mestre responsável pela sua formação.
Na década de 80,
Eunice produz pouco. O ânimo retomado com o retorno
de Koellreutter ao Brasil em 1975 não lhe fora suficiente
para suplantar a sua crise existencial e assim dar continuidade
à sua criatividade como grande compositora brasileira.
Eunice Katunda faleceu
em São José dos Campos, ao lado do filho Igor,
em 3 de agosto de 1990, aos 75 anos.