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Knobel detalha avanços do ProFis

Pró-reitor destaca o forte componente de inclusão social, com preservação do mérito

Em debate desde o início de março, o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFis) despertou interesse tanto na comunidade interna como na sociedade em geral. Desde o início, a proposta apresentada pela Pró-Reitoria de Graduação (PRG) chamou atenção por dois aspectos inovadores no meio acadêmico: possibilitar aos melhores alunos das 96 escolas públicas de ensino médio em Campinas a chance de ingressar numa universidade pública de excelência, sem precisar enfrentar o vestibular, e oferecer a estes estudantes um curso multidisciplinar, com duração de dois anos, após o qual poderão optar pela formação específica na área de sua preferência. A ideia inicial é oferecer 120 novas vagas na graduação, com a seleção dos estudantes baseada em seu desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), do Ministério da Educação, ou em outro mecanismo aplicado pela própria Unicamp. Na entrevista que segue, o pró-reitor de Graduação, Marcelo Knobel, detalha os objetivos da proposta e destaca seus principais avanços.

O pró-reitor de Graduação, professor Marcelo Knobel, durante encontro com diretores de unidades realizado no último dia 9, na sala do Consu: pontos do ProFis em debate (Foto: Antoninho Perri) Jornal da Unicamp – Quais são os principais objetivos da criação do programa?
Marcelo Knobel – A ideia é iniciar um programa inovador na universidade pública brasileira, que possibilite uma nova modalidade de acesso com um forte caráter de inclusão social aliada a uma formação interdisciplinar superior. O foco principal é possibilitar que os alunos que em geral se auto-excluem do nosso vestibular possam ter a chance de estudar em uma boa universidade pública. Todos os estudantes admitidos terão a possibilidade de ter uma formação multidisciplinar, e terão alguma vaga assegurada em algum curso já existente na Unicamp. O projeto mantém e fortalece a busca pelo mérito, pois essa oportunidade será oferecida apenas aos melhores alunos de cada escola pública de Campinas. A Universidade certamente ganhará com tal processo, pois é muito provável que encontre alunos com grande potencial que não teriam sido admitidos pelas vias atualmente disponíveis, seja porque estudaram em escolas com mais limitações, ou porque simplesmente não cogitaram a idéia de poder estudar na Unicamp.

JU – Como a proposta está sendo encaminhada dentro da instituição?
Knobel – Durante um ano trabalhamos no âmbito da Pró-Reitoria de Graduação para formular um projeto preliminar, que está sendo agora encaminhado às unidades de ensino e pesquisa para amplo debate. Simultaneamente, está sendo formado um Grupo de Trabalho para elaboração do projeto pedagógico e para montagem da forma final da proposta, incluindo todos os aspectos operacionais, que são fundamentais para o sucesso de um projeto como este. Esse GT receberá sugestões, aprimoramentos e críticas, que serão eventualmente incorporados ao projeto, que posteriormente deverá seguir para a CCG, CEPE e Consu, para aprovação. Vale ressaltar que o projeto que está sendo discutido certamente será ainda aprimorado, aproveitando todas as sugestões advindas das discussões nas unidades.

JU – Será realmente utilizado o Enem para seleção dos alunos?
Knobel –
A primeira impressão é que seria a forma mais adequada de se selecionar os alunos, pois se trata de um exame abrangente, em fase de consolidação, e que normalmente pode ser realizado por todos. Além disso, não incorreriam custos adicionais para a Unicamp para criar uma prova específica. Entretanto, nada impede que outro modelo venha a ser utilizado, caso essa seja a decisão da Universidade em decorrência de questões internas e/ou externas.

JU – Por que não criar um curso com características mais profissionalizantes de tal forma que, ao concluir a formação, o aluno poderia ter acesso facilitado ao mercado de trabalho?
Knobel –
Um dos objetivos principais do programa é dar acesso aos cursos regulares da Unicamp. Pretende-se oferecer um número de vagas que seja até mesmo superior ao número de alunos que concluam o ProFis, que deverão ser preenchidas de acordo com o desempenho acadêmico desses estudantes nas disciplinas cursadas na Unicamp. Para esses alunos, a formação geral de alto nível certamente contribuirá para um amadurecimento concreto na escolha por um futuro profissional, e não há dúvidas de que essa formação contribuirá para a formação de cidadãos mais críticos e preocupados com uma sociedade mais justa. Temos convicção de que essa formação será fundamental, mesmo que o estudante opte pela busca de acesso em cursos de outras instituições, e para sua qualificação para quaisquer outras atividades que venham desempenhar. Vale aqui ressaltar que a formação geral superior é uma tendência mundial na educação superior, e reconhecidamente benéfica para a formação de futuras lideranças. Isso é reconhecido pelo mercado, que busca profissionais com formação cada vez mais ampla.

JU – Por que basear-se no modelo norte-americano e não no modelo europeu (Bologna)?
Knobel –
Nos últimos anos, as melhores universidades americanas têm passado por reformas de seus currículos. Tem sido cada vez mais reconhecido que o oferecimento de formação geral qualificada será indispensável para que se crie um cidadão com responsabilidade social, ética e conhecimento adequados para cumprir seu papel dentro de uma sociedade integrada e dinâmica. Mas essa tendência tem ocorrido também na Europa, e em outros países que têm realizado grandes reformas educacionais, como Singapura e Coréia do Sul. O modelo apresentado no ProFis tem elementos de diversos exemplos que tem sido realizado em diferentes países, e também no Brasil. Como uma das principais metas do projeto é ser uma nova forma de entrada na Unicamp, concebemos um modelo intermediário, com dois anos de formação geral antes do ingresso aos cursos regulares. Como pode ser visto na proposta de currículo, os alunos receberão formação em áreas socialmente relevantes como ética, bioética, evolução, filosofia, arte, primeiros socorros, ciência, tecnologia, sociedade e literatura, mas também em áreas técnico-científicas, fundamentais para que se amplie seu conhecimento geral, como biologia, matemática, informática, física e química, além de línguas e produção de textos.

JU – Por que classificar alunos pelo Coeficiente de Rendimento [CR]? Isto não poderia criar um clima de competição contraproducente?
Knobel – Todos os processos de seleção atualmente utilizados pela Unicamp utilizam critérios de mérito pessoal. Aqui não poderia ser diferente. Na sua dedicação por uma vaga no curso de interesse, o aluno deverá empenhar-se para que sua produção garanta seu sucesso. Qualquer outro critério que não o mérito quebraria um preceito amplamente aceito na Universidade.

JU – Por que não criar três possibilidades de curso, uma com ênfase em humanas, uma como ênfase em biológicas/saúde e outra com ênfase em tecnológicas/exatas, de tal forma que disciplinas poderiam ser utilizadas para reduzir o tempo de graduação, já que contabilizariam como créditos obrigatórios no curso de destino?
Knobel – Porque um dos principais objetivos da proposta é oferecer formação geral de alto nível e não dar início a formação especializada. É sabido que os jovens na faixa de 17/18 anos ainda têm muitas dúvidas com relação ao seu futuro profissional, e esse período de dois anos em contato com distintas áreas do conhecimento lhes permitirá uma escolha mais madura da sua área profissional de interesse. Além disso, de acordo com dados da Comvest, mais de 60% dos alunos que são admitidos atualmente nos cursos de maior demanda na Unicamp, concluíram o segundo grau há mais de um ano. Em particular, cerca de metade dos matriculados que estudaram na rede pública têm pelo menos 2 anos de formados. Em vários cursos, incluindo alguns de alta demanda, como Medicina, Ciências Biológicas, Ciências Econômicas, Engenharia Elétrica Noturno, esse índice é mais alto, acima de 60%. Desse modo, o tempo médio decorrido entre a graduação no ensino médio e a conclusão do curso superior será aproximadamente o mesmo para alunos do ProFis e para estudantes admitidos pelo vestibular. Vale ainda lembrar que a proposta apresentada tem flexibilidade suficiente para que os alunos, uma vez dentro da Unicamp, possam adiantar disciplinas obrigatórias de seu curso de interesse, caso desejem.

JU – Por que não investir mais no crescimento do PAAIS ao contrário de criar nova vertente que também tem como principal apelo o aspecto de ação social?
Knobel –
O PAAIS constitui-se num dos programas de inclusão social de maior sucesso no país, e que tem influenciado de maneira significativa as políticas de ações afirmativas e inserção social. De forma alguma se pretende modificar qualquer aspecto de sua estrutura, a não ser para criarem-se avanços que expandam e aprimorem sua utilização. Entretanto, ainda temos uma forte componente de auto-exlusão por parte dos alunos da rede pública de ensino. Apesar de que mais de 85% dos egressos do ensino médio sejam da rede pública de ensino, apenas 30% das inscrições para o vestibular da Unicamp são de alunos da rede pública. Há um grande número de jovens que sequer consideram a possibilidade de prestarem o vestibular da Unicamp, e são esses jovens que queremos atingir com este programa. Assim, acreditamos que ainda há necessidade de se criarem ações novas e criativas que aumentem a oferta de vagas qualificadas para alunos com mérito da escola pública.

JU – Como será a coordenação do curso? Qual será a unidade responsável por seu gerenciamento?
Knobel –
O curso será coordenado pela PRG, mas o Grupo de Trabalho ainda estudará a melhor maneira de gerenciá-lo. Temos plena convicção de que será necessário um acompanhamento contínuo das atividades do curso, assim como um suporte aos docentes e estudantes. Além disso, serão necessárias bolsas complementares, de alimentação e transporte, para garantir que os estudantes possam seguir os seus estudos aqui, e minimizar a evasão. Imaginamos assim a criação de um grupo gestor, com membros de todas as grandes áreas que atuarão como interlocutores com todas as unidades que contribuam para o ProFis.

JU – De onde virão os recursos para sua criação?
Knobel –
O projeto piloto foi pensado de maneira a minimizar os custos, e consequentemente o impacto no orçamento. Assim, imaginamos a formação de apenas uma turma de 120 alunos da cidade de Campinas, e sugerimos inicialmente disciplinas já existentes no catálogo da Unicamp, onde já há docentes responsáveis. Termos, como já dito, que investir sim em bolsas que possibilitem a permanência desses estudantes na Unicamp. O impacto nos cursos subsequentes será também muito pequeno, pois trabalhamos com a proposta inicial de oferecer algumas poucas vagas por curso, o que possibilitará a absorção desses estudantes sem grandes impactos.

 

 
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