Os artistas com deficiência física e mental ainda esbarram em muitas dificuldades para se desenvolverem na carreira artística. A exemplo de outras áreas, eles encontram seu espaço em grupos restritos de atuação, cujo foco é a inclusão social desta população e a militância por acesso aos direitos. Esta conclusão faz parte da pesquisa de mestrado de Nicole Somera, orientada pela professora Lucia Helena Reily e apresentada no Instituto de Artes (IA). Ela entrevistou lideranças e integrantes de oito grupos das áreas de música, artes plásticas, dança e teatro para investigar as interações do artista com deficiência no campo artístico. Trata-se do primeiro trabalho acadêmico que lança um olhar sobre a arte e deficiência, com foco no artista.
Os grupos entrevistados foram a “Associação dos Pintores com a Boca e com os Pés” e “Artes Táteis”, dedicados à escultura e pintura, respectivamente. No campo da dança, os grupos foram “Corpo em Movimento” (cadeirantes) e “Associação de Balé e Artes para Cegos Fernanda Bianchini”. A “Companhia de Arte Intrusa”, de Campinas, e “Companhia Mix Menestréis”, de São Paulo, são grupos entrevistados dedicados ao teatro. Na música, as “Ceguinhas de Campina Grande” e “Surdodum”, de Brasília, também fizeram parte da pesquisa.
“Num primeiro momento quis saber se a formação artística acadêmica contribuía para legitimação destas pessoas como artistas”, explica Nicole. A questão, no entanto, acabou enveredando para outra perspectiva ao constatar que grande parte dos entrevistados não possuía um curso técnico ou faculdade específica em arte. A maioria, segundo o estudo, teve uma formação precária do ponto de vista acadêmico. “Faltam condições e oportunidades para o desenvolvimento artístico, bem como acesso ao consumo de bem cultural ou o trânsito em ambientes artísticos de sua área”, explica.
No levantamento de informações, Nicole identificou que o grupo no qual os artistas estão inseridos constitui o único espaço de oportunidades mais amplas e aonde torna a arte acessível. “Fora deste espaço, as dificuldades são inúmeras, levando inclusive à falta de perspectiva de se ampliar a formação acadêmica”, destaca.
Uma questão que confirmou a tese inicial de Nicole foi o fato de a maioria das lideranças desses grupos serem pessoas sem nenhum tipo de deficiência. “As pessoas com deficiência recebem uma formação menos qualificada, coisa que não acontece, normalmente, com os líderes que têm uma formação melhor”, explica.
Segundo Nicole, os mais qualificados estão nas lideranças, e são pessoas sem deficiência porque não encontram, no seu caminho de formação e qualificação, os entraves impostos à deficiência. A inclusão social, nos grupos, se sobrepõe à questão artística. Estas pessoas e seus grupos, de acordo com Nicole, circulam no ambiente da inclusão da pessoa com deficiência pela arte.
“Trata-se de um circuito restrito que legitima seus membros através de mecanismos próprios, como concursos de arte para pessoas com deficiência, espaços exclusivos de apresentação ou temáticas artísticas com o intuito de ressaltar o tema da inclusão social destes indivíduos”.