A
bateria de uma escola de samba
é o agrupamento responsável pelo desenvolvimento ritmo-musical
da agremiação carnavalesca. Até certo ponto, contribui para
a definição da identidade da escola, impulsionando o desfile
através do toque de padrões rítmicos executados por dezenas
de instrumentos de percussão (cuíca, tamborim, pandeiro,
caixa, surdo, agogô, entre outros), agregados em diferentes
naipes. Deve estar entrosada com a ala musical, composta
pelos puxadores (intérpretes) e instrumentos melódico-harmônicos
(violão e cavaquinho). Como uma potente usina sonora, toca
ininterruptamente durante todo o desfile e responde pela
pulsação que permite a evolução dos componentes e alegorias
da escola pela avenida. Nas principais escolas chegam a
apresentar mais de 300 integrantes, chamados de ritmistas,
portanto, se constitui também num espaço privilegiado de
interação e socialização dos seus integrantes.
O músico
Francisco Mestrinel mergulhou nesse singular universo para
compor a dissertação A batucada da Nenê de Vila Matilde:
formação e transformação de uma bateria de escola de samba
paulistana. Orientado pelo professor José Roberto Zan, o
trabalho apresenta um extenso painel da agremiação por meio
do estudo de sua história e da análise da musicalidade de
sua bateria, considerada uma das mais proficientes do carnaval
da cidade de São Paulo.
Para
estabelecer conexões entre aspectos musicais da bateria
e elementos de cunho antropológico, histórico e social coletados
ao longo da pesquisa, Francisco adotou ferramentas da etnomusicologia
(área científica que pesquisa a música em suas acepções
mais amplas, relacionando suas estruturas musicais a seu
contexto humano e social).
O material
analisado foi colhido em campo, a partir da vivência prática
da rotina da bateria da escola: utilizando conhecimento
e habilidade musicais de percussionista, o autor, que é
formado em música popular pelo IA, tocou no agrupamento
e assimilou, em exaustivos ensaios e em desfiles, as estruturas
rítmicas musicais da bateria e os diversos aspectos sonoros
relevantes ao estudo. Também fez registros digitais de áudio.
Quanto
aos elementos sociais e históricos, buscou informações em
conversas informais com personagens da bateria e de outros
setores da escola, e realizou entrevistas gravadas. As anotações
de campo mostraram-se de grande valia na comparação com
registros bibliográficos de livros, revistas e jornais.
Muitos desses documentos foram obtidos com a professora
Olga von Simson, do Centro de Memória da Unicamp (CMU),
autora de vasta pesquisa sobre o carnaval paulista.
“A
bibliografia existente sobre carnaval, samba, escolas de
samba e samba paulista é ampla. No entanto, nota-se a falta
de informações sobre aspectos musicais das baterias, mesmo
estas sendo apontadas como o ‘coração’ das escolas de samba
por muitos autores”, argumenta Francisco.
A motivação
da pesquisa veio do envolvimento do autor na adolescência
com o carnaval e com baterias de blocos carnavalescos e
de escola de samba, aspecto que, segundo ele, também foi
decisivo para sua formação como percussionista. Mais tarde,
já na Unicamp, passou a tocar em baterias universitárias
mantidas pelas atléticas e, junto com outros alunos do IA,
criou a Bateria Alcalina.
Hostilidade
A aproximação com a Nenê deu-se em 2005 quando Guilherme
Lucrécio, integrante da Alcalina e neto do “Dr. Lucrécio”,
um dos históricos fundadores da escola, levou o grupo para
conhecer a agremiação. Convidados a participar da bateria,
passaram a frequentar os ensaios tocando caixa e vivenciaram
um período inicial que Francisco classifica como de hostilidade,
principalmente por parte dos ritmistas mais jovens.
“Numa comunidade bastante
fechada, marcada pela negritude, um elemento de fora e branco,
destoava do conjunto da bateria matildense. Guilherme foi
menos hostilizado, já que possuia ligações familiares com
a escola e é negro”, conta Francisco. Apesar do ambiente
inicialmente desfavorável, permaneceu no grupo e participou
dos desfiles até 2009, período em que pode aprender diversos
aspectos rítmico-musicais da bateria da Nenê.
“A
constância nos ensaios fazia com que eu memorizasse e incorporasse
nuances rítmicas do grupo”, relata Francisco. Em 2008, teve
a oportunidade de atuar como diretor de bateria de outra
escola paulistana, a Acadêmicos do Tucuruvi, sem deixar
o posto de ritmista da Nenê, o que exigiu do pesquisador
muito fôlego e jogo de cintura, já que ambas desfilaram
na mesma noite.
“Eu saí da dispersão (fim
da avenida do desfile) como diretor da Tucuruvi e voltei
à concentração (início da avenida) para desfilar como ritmista
pela Nenê, sem ninguém saber”, confidencia o professor de
percussão e rítmica.
A experiência, afirma, foi
extremamente importante para a pesquisa, principalmente
pela expansão de horizontes dentro do universo das escolas
e para criar parâmetros de comparação do ritmo matildense
com o de outras baterias de São Paulo e até do Rio de Janeiro,
já que ele também foi observar de perto baterias de agremiações
fluminenses e constatou que as principais influências para
a Nenê foram as da Mangueira e Portela.
“O pai de ‘Seu’ Nenê era
carioca e ele tinha parentes no Rio. Isso lhe possibilitou
vivenciar ensaios e rodas de samba nas principais escolas
cariocas”, observa Francisco.
É a partir do contato com
a realidade carnavalesca do Rio de Janeiro que a bateria
matildense passa a desenvolver um estilo mais próximo da
maneira carioca de tocar, assimilando no fim da década de
1950 as inovações rítmicas trazidas do Rio de Janeiro pelo
dirigente. Até então, explica o músico em sua pesquisa,
o ritmo apresentado nos desfiles paulistanos era o da marcha-sambada
dos tradicionais cordões carnavalescos, caracterizada pelo
uso de instrumentos de sopro e embasado no samba de bumbo
do interior do Estado, cuja sonoridade da instrumentação
é bastante diferente.
“Com
a oficialização do carnaval de São Paulo e a adoção de um
regulamento baseado no carnaval do Rio de Janeiro, o modelo
carioca de escola seria imposto a todas as agremiações paulistanas.
A bateria matildense sai na frente das demais e, com a vantagem
de ter seu ritmo já calcado no estilo carioca, leva a Nenê
à conquista de três carnavais consecutivos, em 1968, 1969
e 1970”, historia o professor.
Toque de caixa
A transcrição das estruturas rítmicas da bateria da Nenê
foi um aspecto do trabalho que exigiu atenção especial devido
a complexidade de representar, de forma plena e compreensível,
o fazer musical de um grupo composto por mais de duzentas
pessoas e por causa das restrições do uso da simbologia
rítmico-musical clássica ocidental na descrição sonora de
uma bateria.
Desse modo, embora a considerasse
insuficiente para a descrição gráfica plena da música produzida
pelo grupo, Francisco adotou a notação clássica das partituras
musicais para representar visualmente os esquemas rítmicos
da bateria, por entendê-la como um código universal. Conseguiu,
com isso, representar o esqueleto básico das estruturas,
tornando-as compreensíveis. Porém teve o cuidado de complementá-las
com descrições textuais a fim de aproximar a grafia musical
da realidade sonora da bateria.
Foram considerados ainda
elementos inerentes ao universo carnavalesco, como os conceitos
básicos de sustentação (o andamento rítmico, que não deve
nem diminuir nem acelerar durante o desfile) e entrosamento
(a perfeita combinação de sons emitidos pelos vários instrumentos),
entre outros, apresentados no quesito bateria, do regulamento
do concurso entre escolas de samba.
Segundo ele, a batucada,
isto é, o ritmo desenvolvido pelos naipes pesados (surdos,
caixas e repiniques) é o ponto forte e uma espécie de identidade
musical da bateria da Nenê. A forma como são tocadas as
caixas e surdos de terceira configura uma das principais
qualidades distintivas do conjunto.
“A batida de caixa matildense
é única, nenhuma outra escola de São Paulo ou Rio de Janeiro
utiliza o mesmo padrão. O surdo de terceira sendo tocado
de forma livre, ou seja, com liberdade para o ritmista variar
e brincar com o ritmo, também é singular, e da relação que
se estabelece entra caixa e surdo de terceira se cria uma
das características mais marcantes do ritmo da Nenê”, explica
o pesquisador. “A batida da caixa dialoga diretamente com
a batida do surdo de terceira, criando um ‘balanço’ característico.”
Outros diferenciais constatados
pelo estudo foram a sonoridade grave (a afinação é mais
grave que a da maioria das baterias de São Paulo, aspecto
que se evidencia principalmente pelos surdos e caixas),
o andamento cadenciado (em comparação com outras baterias
paulistanas a da Nenê apresenta um andamento mais cadenciado,
isto é, mais lento) e a flexibilidade na execução musical
(os ritmistas têm grande liberdade na execução de seus instrumentos,
com liberdade para floreios e interações pontuais entre
eles). Essa maleabilidade, destaca o professor, colabora
para uma polirritmia complexa através de diversas variações
rítmicas interpretadas principalmente nos surdos, caixas
e repiniques.
“A Nenê de Vila Matilde
representou uma verdadeira escola de ritmo de samba para
o carnaval de São Paulo. Desde sua fundação foi um celeiro
de grandes mestres de bateria, que levaram a experiência
matildense para outras agremiações, transformando o ritmo
da Nenê em referência nos desfiles paulistanos”, enaltece
Francisco.
Conforme apurou, o ritmo
da escola atravessou distintas fases da festa popular sem
deixar de ser considerado um dos melhores até os dias de
hoje e, mesmo com muitas transformações sofridas ao longo
dos sessenta carnavais dos quais a Nenê participou, manteve
características próprias. Não é à toa que a bateria ostenta
orgulhosamente o feito de ser, até hoje, a única a ter permanecido
por 26 anos consecutivos tirando apenas notas 10.
O reencontro de Régia com
o seu passado na Vila Isabel
A dissertação de Régia Alvarez
pode ser interpretada como um amplo olhar acadêmico sobre
suas reminiscências de infância e adolescência. Nascida
em Nilópolis (município cuja vida econômica e cultural gira
em torno de uma escola de samba, a Beija-Flor de Nilópolis),
era levada ainda bebê pela mãe, “bailarina que gostava de
dançar em qualquer oportunidade que aparecesse”, para quadras
de escolas de samba e churrascos com pagodes de fundo-de-quintal.
Quando completou três anos, a família transferiu-se para
o bairro de Vila Isabel, berço de Noel Rosa – ou berço do
próprio samba, como exaltou Martinho da Vila na composição
Renascer das Cinzas, de Zé Catimba –, entre outros poetas
e compositores que nasceram no lendário lugar, ou que nele
foram revelados.
A mudança, conforme enfatiza
a pesquisadora, permitiu a entrada oficial da dança do samba
na sua rotina, pois, mesmo oriunda de Nilópolis e dos festejos
sambistas da baixada fluminense, não tinha ainda lições
de samba como as que passaram a acontecer na área de serviço
de sua nova casa com a chegada da empregada doméstica Mariângela.
“Bisneta
de escravos, ela costumava limpar a casa sambando com o
som do rádio no volume máximo, tocando Jovelina Pérola Negra,
Fundo de Quintal, ou, quando o carnaval se aproximava, os
sambas-enredo do ano seguinte”, conta Régia. “Além de cantar
e dançar enquanto limpava a casa, Mariângela desafiava-me
a sambar como ela. Então, eu sapateava, ameaçando o samba
nos meus três anos de idade.”
Em Vila Isabel, cresceu
ouvindo histórias sobre Noel Rosa e participando de tradicionais
rodas de samba. O envolvimento com a manifestação popular
intensificou-se na pré-adolescência, quando a menina branca,
loira, aluna de um tradicional colégio francês da região
e estudante de balé clássico passou a frequentar os eventos
da Unidos da Vila Isabel, onde chamava a atenção de integrantes
do grêmio pela cor e por saber sambar como as mulatas locais.
Logo foi convidada a ensaiar junto com as passistas da comunidade,
até que a mãe consentiu que desfilasse por dois anos, em
1994 e 1995. Em 1997, a família mudou-se para Minas Gerais,
e Régia, então com quinze anos, perdeu o laço que tinha
com a escola. Durante o curso de Licenciatura em Dança pela
Universidade Federal de Viçosa (UFV), sentiu necessidade
de recuperar suas prazerosas e ricas vivências no bairro
boêmio carioca.
“O resgate de minhas raízes
começou ainda na graduação, quando realizei um solo coreográfico
a respeito do bairro de Vila Isabel. Então, para o projeto
de mestrado, escolhi estudar os elementos técnico-coreográficos
da dança do samba-enredo”, explica a autora. Outro aspecto
que auxiliou na escolha do tema da pesquisa foi o acesso
ao Dossiê das matrizes do samba no Rio de Janeiro, documento
que trata das modalidades do samba, como partido-alto, samba
de terreiro e samba-enredo. “Devido à multiplicidade que
a dança do samba envolve, escolhi focar apenas no samba-enredo.”
Entraves
Encontrou, porém, duas barreiras ao trabalho: a primeira
foi a distância da rotina do objeto de pesquisa; a segunda,
a dificuldade de realizar entrevistas por causa do acesso
às comunidades, envolvidas em questões de violências e poderio
do tráfico de drogas.
Com esses entraves à pesquisa de campo, o estudo Meu Samba
em quatro tempos, orientado pela professora Antonieta Marília
de Oswald de Andrade, centrou-se em pesquisas bibliográficas
e na observação, através da análise das danças registradas
por meios audiovisuais, dos elementos coreográficos da Unidos
de Vila Isabel, em três distintos carnavais, entrelaçados
pelas memórias pessoais da autora.
Os
vídeos pesquisados foram: o documentário Nossa Escola de
Samba, produzido e fotografado por Thomaz Farkas e dirigido
por Manuel Horacio Gimenez, escolhido por ser o primeiro
registro audiovisual da escola, contendo preparativos e
parte do desfile carnavalesco de 1965, com o enredo “Epopéia
do Teatro Municipal”; e gravações caseiras de exibições
pela televisão dos desfiles de 1988 (primeira vitória da
Vila Isabel, com o enredo “Kizomba, a festa da raça”) e
de 2006, quando o grêmio tornou-se bicampeão ao levar para
a avenida o enredo “Soy loco por tí, América: a Vila canta
a latinidade”. O trabalho compreendeu ainda uma criação
coreográfica com diferentes manifestações do samba e de
outras formas de dança.
“O documentário foi imprescindível
para um estudo comparativo, pois se trata de um registro
raro em termos de carnaval, porque naquele período os desfiles
não eram televisionados, o que somente ocorreu na década
de 70, e também por ser narrado pelo próprio fundador da
escola, Antônio Fernandes da Silveira, o ‘Seu’ China”, observa
a artista.
Para transpor o estudo de
movimento para o linguajar científico, Régia utilizou-se
da coreologia (entendida como o estudo da dança segundo
uma perspectiva crítica, ou ainda a área que trata dos desenhos
e das projeções do movimento corporal no espaço). Inicialmente,
buscou subsídios no livro Domínio do Movimento, do bailarino,
coreógrafo e educador Rudolf Laban, que aborda as diferentes
qualidades de movimento conforme uma notação criada pelo
próprio autor, a “Labanotation”. No entanto, percebeu que
a técnica não era adequada aos seus propósitos e decidiu
vincular a dissertação aos estudos da coreógrafa e pesquisadora
Valerie Preston-Dunlop, por apresentar a coreologia de uma
forma mais abrangente em sua opinião.
“A vantagem de associar
o estudo da dança do samba a uma coreologia mais abarcante,
é que esta dança possui vínculos histórico/sociais muito
presentes em sua movimentação, por isso, precisei de uma
metodologia que tivesse uma maior facilidade de adaptação”,
justifica.
A
análise do samba apresentado pela Vila Isabel nos três desfiles
escolhidos como objeto da pesquisa levou em conta a dança
exibida por diferentes integrantes da escola, entre os quais
ritmistas, passistas, mestre-sala e porta-bandeira, componentes
de alas e da comissão de frente. Para o estudo foram observados
aspectos como os movimentos, com a descrição das ações corporais
(focalizando as partes do corpo envolvidas); o entorno visual,
com a descrição da área da performance, cenários, ambiente;
iluminação; figurinos e adereços; e os elementos envolventes,
abordando a relação dos movimentos dos dançarinos com o
som, incluindo ritmo, letra e música.
Nudez
Mudanças sensíveis foram observadas nas apresentações, motivadas
principalmente pela transformação do desfile – antes uma
manifestação da comunidade, de acordo com sua própria estética
– em um produto para consumo turístico e em um espetáculo
televisivo que precisa ser técnica e artisticamente impecável.
Como exemplos, ela cita o impacto na execução coreográfica
da dança do samba causado pela aceleração do ritmo das músicas
dos sambas-enredo e a transformação do perfil das comissões
de frente.
Nesse caso, as primeiras
comissões eram inicialmente formadas pela chamada “velha
guarda” da escola, quando as pessoas mais antigas do grêmio
desfilavam em uma respeitosa reverência à tradição. Contudo,
no presente momento, as agremiações apresentam em suas comissões
de frente coreografias elaboradas e ensaiadas por bailarinos
profissionais contratados, com elementos teatrais e de danças
clássicas.
Outro aspecto significativo em relação à presença das câmeras
no sambódromo é a mudança do comportamento dos sambistas,
que passaram a preparar a sua imagem a fim de aparecer na
televisão.
“Há uma preocupação quanto
à ‘o que a tv vai mostrar ?’, logo, é notório que os foliões
passam a fazer pequenas demonstrações de suas habilidades
enquanto sambista no intuito de chamar a atenção de quem
assiste”, observa Régia.
Nesse ponto, sua dissertação
contribui para mostrar que, ao contrário do que se supõe,
não há hoje maior ênfase à exposição corporal na avenida.
Na década de 80, conforme observado no vídeo, as passistas
desfilam com os seios nus e apresentam seu corpo de uma
forma natural, sensual, trajando biquínis de tamanho pequeno.
“A diferença está no fato
de que as mulheres do desfile naquela época não possuíam
o estereótipo de corpos padronizados, como os que são exibidos
hoje por modelos e atrizes que passaram a frequentar o sambódromo
e são divulgados pela mídia”, salienta a pesquisadora. “Os
corpos femininos daquele instante eram de mulheres comuns,
sem implantes de silicone ou frutos da prática da musculação”.
Em 2006, o grêmio recebeu
recursos da empresa petrolífera venezuelana PDVSA com valores
que foram estimados pela mídia da época entre quatrocentos
e cinqüenta mil dólares e dois milhões de dólares, para
mostrar a cultura latino-americana com toques de política
e história.
De maneira diferente de
1965 – quando a escola, com sérios problemas financeiros,
fantasias simples e alas não tão demarcadas, dependeu da
garra de seus integrantes para ganhar, com um enredo que
tratava do centenário da abolição da escravatura – em 2006
a Vila Isabel conquistou um novo campeonato graças ao desfile
tecnicamente perfeito, investindo fortemente nos efeitos
visuais, em carros gigantescos, fantasias coloridas, luxuosas,
mas que tolhiam a dança dos componentes.
“Os recursos financeiros
elevados permitiram que o grêmio desfilasse com recursos
tecnológicos avançados, a escola contratou profissionais
especializados que puderam colocar a escola em um patamar
mais competitivo”, aponta Régia.
Contratada atualmente como
professora de uma escola municipal na periferia de Valinhos
(cidade vizinha a Campinas), ela, de certo modo, reencontra-se
com seu passado. Para ensinar aos alunos a importância da
valorização da cultura popular, trabalha com eles no resgate
da arte de outro ícone do samba, porém paulista: João Rubinato,
que em 1910 nasceu no município e tornou-se mais tarde o
irreverente Adoniran Barbosa.