Ferramenta desenvolvida por pesquisadores da Unicamp
para a realização de ensino a distância,
o TelEduc, transformou-se, em apenas cinco anos, em
um dos principais ambientes do gênero em todo
o mundo. Atualmente, é utilizada por cerca
de 3 mil instituições públicas
e privadas do Brasil e de outros países. Entre
elas está a Marinha Brasileira, que lança
mão do recurso para treinar homens que estão
embarcados. A preferência crescente pelo TelEduc
pode ser explicada por causa das características
que o diferenciam das demais ferramentas disponíveis
no mercado, como a facilidade de uso por pessoas que
não são especialistas em computação
e um conjunto enxuto de funcionalidades. A própria
Unicamp agregou recentemente a ferramenta, em apoio
às disciplinas presenciais da área de
graduação, no sistema denominado Ensino
Aberto.
Orientado pela professora
Heloísa Vieira da Rocha, do Instituto de Computação
(IC), o TelEduc nasceu em 1998, a partir da dissertação
de mestrado de Alessandra de Dutra e Cerceau. O desenvolvimento
do ambiente foi feito conjuntamente pelo IC e pelo
Núcleo de Informática Aplicada à
Educação (Nied). Nos primeiros cursos
ministrados com o auxílio da ferramenta, segundo
a docente, foi possível notar que ela geraria
um grande interesse. Em 1999, os trabalhos ganharam
maior impulso, graças ao apoio da Organização
dos Estados Americanos (OEA).
Dois anos depois, o TelEduc
foi lançado como software livre, o que permitiu
a sua expansão. De acordo com a professora
do IC, os principais usuários do ambiente são
as universidades públicas e privadas. Elas
normalmente utilizam a ferramenta em auxílio
às atividades presenciais. Por meio dela, é
possível tanto disponibilizar conteúdos
como estabelecer comunicação entre os
participantes de um curso via fóruns de discussão
ou sessões de bate-papo, por exemplo. Assim,
o professor pode disponibilizar previamente materiais
e conteúdos a serem abordados em classe. Já
os alunos têm como esclarecer dúvidas
e trocar idéias entre si, fora do espaço
convencional de uma aula. Com isso, o tempo
fica mais qualificado e o trabalho em sala de aula
ganha em eficiência, explica Heloísa.
As empresas, por seu lado,
têm no TelEduc um importante aliado no esforço
para formar e qualificar os seus funcionários.
Muitas delas o empregam para promover treinamentos
técnicos. Além da aplicação
direta no ensino a distância, a ferramenta possibilita
outras ações igualmente importantes,
como a rápida disseminação do
saber. A professora Heloísa lembra que a região
Sudeste concentra a maior parte da produção
científica brasileira. Compartilhar esse conhecimento
com outras localidades do País nem sempre é
uma tarefa fácil. O TelEduc, nesse aspecto,
pode vir a ser muito valioso, pois seu alcance desconhece
barreiras geográficas.
O mesmo vale para o relacionamento
entre a academia e a comunidade. Ao permitir a troca
de informações e de experiências
entre os dois atores, esse tipo de ambiente ajuda
a promover a combinação do conhecimento
formal e sistematizado com o conhecimento não-formal,
enriquecendo a ambos. Por último, mas não
menos relevante, o TelEduc também tende a ser
um importante recurso ao chamado ensino continuado.
É consenso entre os educadores que, na chamada
sociedade do conhecimento, as pessoas que concluíram
um curso superior terão que recorrer freqüentemente
à universidade, para se manterem atualizadas.
Nesse aspecto, o ensino a distância apresenta-se
como um veículo indispensável à
manutenção desse contato, afirma
a professora Heloísa.
Vantagens De
acordo com a professora Heloísa, o ambiente
desenvolvido pela Unicamp apresenta várias
vantagens em relação a ferramentas similares.
Concebida para ser usada na formação
de professores para informática educativa,
a ferramenta foi desenvolvida de forma participativa.
Suas funcionalidades foram idealizadas e depuradas
segundo as necessidades dos usuários. Isso
fez com que operação do TelEduc fosse
descomplicada. Não é preciso fazer
um curso para usá-lo. Trata-se de um ambiente
estável e com qualidade comprovada. Nosso foco
principal não está na tecnologia em
si, mas nos benefícios que ela pode trazer
ao processo educacional, diz.
Por trás da ferramenta,
esclarece a docente do IC e Coordenadora do Nied,
estão linhas pedagógicas e metodológicas
importantes. Além de ter colocado a Unicamp
no cenário mundial na área do ensino
a distância, o TelEduc também tem proporcionado
avanços acadêmicos para a Universidade,
conforme a professora Heloísa. Foram geradas
a partir da ferramenta sete dissertações
de mestrados e cinco teses de doutorado, estas últimas
em andamento. Além da OEA, as pesquisas envolvendo
o ambiente contam com o apoio da Fapesp e do CNPq,
por meio da concessão de bolsas de estudos,
e atualmente da Unicamp, via Pró-reitoria de
Graduação.
A professora Heloísa
relata que alguns desses trabalhos têm obtido
repercussão internacional, seja por intermédio
da publicação de artigos, seja através
da participação em eventos científicos.
No exterior, o TelEduc vem sendo utilizado por instituições
públicas e privadas da França, Portugal,
Espanha, Estados Unidos, Chile e Argentina, entre
outros países. Nossa expectativa é
que, por se tratar de um software livre, com suporte
a múltiplas línguas, essa expansão
tenha continuidade, afirma a docente do IC.
Sistema ganha aval institucional
Desde março deste ano,
o TelEduc passou a ser usado no sistema de Ensino
Aberto da Unicamp. A medida reveste-se de dupla
importância, na opinião da professora
Heloísa Vieira da Rocha, coordenadora
do projeto. Primeiro, porque o ambiente ganha
o aval institucional de uma das melhores universidades
da América Latina. Segundo, por proporcionar
aos alunos de graduação da instituição
uma eficiente ferramenta de apoio às
atividades presenciais.
A adesão ao recurso,
de acordo com a professora Heloísa, é
facultativa. Para todas as disciplinas de graduação
há uma instância do ambiente aberta,
com a relação de todos os alunos
matriculadas. O professor decide se irá
ou não ativá-la para uso no semestre.
O acesso ao ambiente é feito por meio
das mesmas senhas que alunos e docentes usam
no sistema acadêmico da Diretoria Acadêmica
(DAC). Dentro do ambiente, os professores podem
disponibilizar conteúdos, organizar suas
aulas previamente, sugerir bibliografias e propor
trabalhos. Já os estudantes podem esclarecer
dúvidas, promover fóruns e trocar
idéias entre si. Isso faz com que o tempo
nas salas de aula seja mais qualificado, conferindo
às atividades presenciais maior eficiência.
A pesquisadora afirma que,
por ter sido adotada recentemente, a procura
pela ferramenta ainda é pequena. Muitos
sequer sabem que ela já pode ser usada.
Mas, aos poucos, a tendência é
que passe a fazer parte da rotina da maioria
dos docentes e alunos. Já estamos tendo
um bom retorno por parte daqueles que aderiram
ao TelEduc. De memória, posso citar professores
da Faculdade de Educação, dos
Institutos de Biologia, Artes e Física,
além de docentes do Centro de Ensino
de Línguas , pioneiros no uso do ambiente,
que disseram ter aprovado o apoio ao ensino
que a ferramenta e suas funcionalidades propiciam,
diz.
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