O trabalho realizado pelo
Registro de Câncer de Base Populacional (RCPB)
de Campinas, ligado ao Departamento de Medicina Preventiva
e Social da Faculdade de Ciências Médias
(FCM) da Unicamp, tem contribuído fortemente
para as ações de combate à doença
no Brasil e no mundo. Durante as atividades do RCPB,
os especialistas notaram, por exemplo, que os números
relativos a um tipo específico da doença,
que acomete o sistema nervoso central de crianças,
apresentavam elevação. O resultado foi
repassado, em tom de alerta, para serviços
similares no mundo, que constataram o mesmo problema.
Graças à iniciativa, foram iniciados
estudos para saber o motivo dessa expansão.
De acordo com o chefe do Departamento
de Medicina Preventiva e Social da Unicamp, o médico
e professor Djalma de Carvalho Moreira Filho, o trabalho
do RCBP consiste em coletar, analisar e depois divulgar
para a comunidade médica e autoridades públicas
os dados consolidados sobre os novos casos de câncer.
Ele conta que a descoberta relativa à doença
que ataca o sistema nervoso central de crianças
foi inicialmente colocada em dúvida pelos registros
internacionais.
Providenciada uma auditoria para avaliar se havia
ocorrido algum erro durante o levantamento ou processamento
dos dados, a dúvida foi descartada. Diante
disso, os registros internacionais decidiram verificar
seus próprios indicadores e constataram que
o mesmo estava acontecendo em várias partes
do mundo. Infelizmente, ainda não sabemos
que fator ou fatores que contribuem para o aumento
da incidência desse tipo de câncer. Mas
o nosso achado estimulou vários especialistas
a buscarem essa resposta, explica o professor
Djalma.
Histórico
O episódio relatado acima reflete apenas um
aspecto da importância do trabalho executado
pelo RCBP. O serviço foi criado no início
da década de 90, graças ao esforço
de pesquisadores e dirigentes da FCM e ao apoio do
Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão
vinculado ao Ministério da Saúde. O
professor Djalma lembra que foi necessário
vencer uma série de obstáculos até
consolidar o Registro. Mesmo atualmente, quando é
apontado como um dos mais eficientes do mundo, ele
enfrenta adversidades. Não raro, os pesquisadores
são obrigados a tirar dinheiro do próprio
bolso para pagar a passagem de ônibus dos funcionários
que realizam o trabalho de campo. Atualmente,
estamos concluindo uma parceria com o INCA, que nos
permitirá trabalhar com mais tranqüilidade
pelos próximos dois anos, afirma.
O docente da Unicamp destaca,
porém, que esse tipo de problema não
tem interferido nos resultados alcançados pelo
RCBP. Prova disso é que os dados coletados
pelo serviço entre 1991 e 1995 foram publicados
na mais recente edição do relatório
Incidência de Câncer nos 5 Continentes,
editado pela International Agengy for Research on
Câncer (IARC). Além do Registro de Campinas,
apenas o de Goiânia representou o Brasil na
publicação, que reuniu informações
de outras 200 unidades do gênero no mundo.
A qualidade de um Registro
de Câncer de Base Populacional é medida
por diversos parâmetros. Um deles é a
identificação precoce da doença.
Se o serviço registra até 90% dos casos
antes do óbito, ele é considerado bom.
Abaixo disso, o trabalho é tido como insuficiente.
O RCBP, conforme o professor Djalma , está
dentro dos padrões de qualidade internacionais.
Anualmente, o Registro criado pela Unicamp contabiliza
aproximadamente 5 mil novos casos anuais de câncer,
sendo que um terço deles refere-se a moradores
de Campinas. Os demais são de pessoas residentes
nos demais municípios que compõem a
Região Metropolitana e de outras partes do
País.
Os índices apontados
pelo RCBP constituem, ainda, importante ferramenta
para auxiliar na definição de ações
de saúde pública. Além de coletar
informações sobre a incidência
de câncer junto às unidades de saúde,
o serviço promove o cruzamento desses dados
com os do Banco de Óbito de Campinas. Assim,
é possível estabelecer os coeficientes
de letalidade da doença. Ao identificar a origem
do paciente, o Registro também estabelece um
mapa da enfermidade, possibilitando às autoridades
conhecer que locais oferecem mais riscos e, portanto,
carecem de maior estrutura para tratamento ou de novos
procedimentos para a realização de diagnósticos
precoces.
Previna-se
A detecção precoce
do câncer é o método mais
eficaz para se alcançar a cura da doença.
Além de exames laboratoriais ou radiológicos,
capazes de revelar alterações
malignas, existem algumas pistas que, se observadas
logo, podem ser de grande valia para o diagnóstico.
Confira os indícios mais comuns de nove
tipos de cânceres:
Mama
Sinais: nódulo (caroço)
nas mamas ou axilas; deformação
ou alteração no formato dos seios;
retração, sangramento ou secreção
do mamilo.
Prevenção:
exame médico, pelo menos uma vez ao ano,
mamografia a cada dois anos para mulheres com
35 anos e anual para as que têm mais de
40 anos; ultrassom anual; auto-exame das mamas,
uma vez por mês, cinco dias após
o período menstrual.
Colo de útero
Sinais: sangramento vaginal entre as
menstruações; dor depois da relação
sexual.
Prevenção: o exame mais
eficaz é o papanicolau, que deve ser
feito anualmente, principalmente por que tem
vida sexual ativa.
Melanoma (câncer
de pele)
Sinais: lesões de pele com mais
de 0,5 centímetro de diâmetro,
com bordas irregulares; alteração
no tamanho e na cor de pintas e verrugas; sangramentos.
Prevenção: evitar exposição
ao sol sem filtro solar; evitar o sol entre
10h e 15h; usar protetor solar, mesmo na cidade,
caso a pele seja clara e sensível.
Boca
Sinais: pequenas feridas que demoram
a cicatrizar (mais de sete dias); manchas avermelhadas
ou esbranquiçadas na mucosa bucal; gânglios
(caroços) no pescoço.
Prevenção: não fumar;
não consumir bebidas alcoólicas
em excesso; fazer auto-exame de boca, uma vez
ao mês, em ambiente claro e com o auxílio
de um espelho.
Pulmão
Sinais: tosse persistente; expectoração
com sangue; dor no tórax; falta de ar.
Prevenção: não fumar;
caso seja fumante, fazer radiografia uma vez
por ano.
Fígado
Sinais: dor ou inchaço abdominal;
anorexia; icterícia.
Prevenção: não
beber excessivamente, para não ficar
suscetível à cirrose hepática;
vacinar-se ou usar sempre camisinha para não
entrar em contato com o vírus que causa
a hepatite B.
Intestino
Sinais: sangue nas fezes; mudança
no ritmo intestinal (prisão de ventre
ou diarréia).
Prevenção:
a partir dos 50 anos, exame de sangue oculto
nas fezes uma vez ao ano.
Testículo
Sinais: saliência ou nódulo;
sensação de peso.
Prevenção: auto-exame uma
vez ao mês; visita ao urologista uma vez
por ano após os 40 anos.
Próstata
Sinais: trata-se de um câncer traiçoeiro,
pois não oferece qualquer tipo de sintoma.
A doença tem cura quando diagnosticada
precocemente.
Prevenção: Dois exames
anuais são indispensáveis aos
homens com mais de 45 anos - o exame digital
da próstata (toque retal), que é
indolor, e a dosagem do antígeno prostático
específico, conhecida como PSA.
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