Por um (nano)fio
Propriedades mecânicas
e eletrônicas de materiais
à base de cobre e ouro são pesquisadas por físico
A
necessidade de ampliar a capacidade de processamento computacional
está resultando em um intenso esforço científico e tecnológico
para produzir circuitos eletrônicos cada vez menores. A grande
fronteira concentra-se atualmente nos nanofios metálicos –
especialmente de cobre e ouro. Eles vêm sendo experimental
e teoricamente estudados como possíveis nanocondutores capazes
de fazer contatos elétricos e conectar dispositivos. O físico
Edgard Pacheco Moreira Amorim pesquisou em seu doutorado as
propriedades mecânicas e eletrônicas desses nanofios utilizando-se
de simulações computacionais.
Levando-se em conta que um
dos aspectos destes metais, quando tensionados, é rearranjar-se
formando cadeias atômicas lineares – o que significa o menor
condutor possível – um dos objetivos do trabalho foi mostrar
que nanofios de cobre evoluem nesse sentido, assim como no
ouro, embora neste caso com estruturas menores e menos simétricas.
“A contribuição de fato da pesquisa está em constatar esse
efeito. Consequentemente, isso abriu uma nova perspectiva
de trabalho para teóricos e experimentais investigarem nanofios
de cobre mais profundamente”, afirmou Amorim. A pesquisa foi
orientada pelo professor Edison Zacarias da Silva, do Departamento
de Física da Matéria Condensada, do Instituto de Física “Gleb
Wataghin” (IFGW).
Amorim explicou que a cadeia
atômica linear consiste numa linha na qual um átomo está ligado
a dois outros sucessivamente numa configuração linear que
pode chegar a até dez átomos no ouro. Como no caso do cobre
foi constatada uma evolução para uma cadeia atômica menor
e também com pontas menos simétricas, isso indica que tanto
a maleabilidade quanto a ductibilidade que medem respectivamente
a capacidade dos materiais deformarem, formando então lâminas
e fios, nesse metal é menor que no ouro quando são consideradas
suas configurações nanométricas.
A estrutura cristalina macroscópica
de ambos os metais é composta por uma configuração periódica
de geometria cúbica de face centrada, na qual temos átomos
nos vértices e no centro de cada face de um cubo repetido
por todo sólido. Quando estes materiais são alongados até
ficarem bem finos observa-se que a relação entre superfície
e volume do condutor torna-se cada vez mais significativa,
perdendo a coesão macroscópica entre os átomos. Nesta situação,
prossegue Amorim, foi observado em alguns casos o aparecimento
de estruturas não cristalinas, com geometrias tão diferentes
que foram batizadas de estruturas “malucas”. São estruturas
de múltiplas camadas, helicoidais ou de uma única camada,
que foram observadas para ouro e platina em experimentos de
microscopia eletrônica. “Em nossos cálculos, mostramos que
nanofios de ouro, puxados em uma dada direção cristalográfica,
evoluem intrinsecamente para uma estrutura helicoidal”, garantiu
o físico.
Além
disso, estabeleceu-se uma relação entre o aparecimento desse
tipo de estrutura e a formação de longas cadeias atômicas
lineares. Quando a estrutura helicoidal surge é possível mostrar
que, à medida que são esticadas, suas pontas possuem baixa
simetria de tal forma que o átomo da ponta está ligado a um
só átomo. Nesta condição, a cadeia atômica linear se desenrola
da ponta como um fio saindo de um novelo de lã. A cadeia se
rompe a partir do momento no qual o átomo da ponta divide
suas ligações com três ou mais átomos, tornando-se energeticamente
menos favorável acrescentar mais átomos à cadeia atômica do
que quebrar uma ligação desta.
Amorim aponta ainda que outro
aspecto relevante investigado em seu trabalho é a inserção
de impurezas em nanofios de cobre. Experimentalmente foram
observadas distâncias entre átomos de ouro muito maiores do
que usualmente é calculada com métodos chamados de primeiros-princípios,
que são fundamentados nos princípios da mecânica quântica,
sendo considerados como o estado da arte no cálculo das propriedades
dos materiais.
Portanto, tanto pesquisadores
experimentais quanto teóricos atribuíram estas grandes distâncias
à influência de impurezas leves tais como hidrogênio, oxigênio,
carbono, entre outras que estariam entre dois átomos de ouro
e que não poderiam ser vistas em imagens de microscopia eletrônica.
A partir disso, vários trabalhos teóricos buscaram calcular
quais seriam as impurezas mais prováveis e a influência delas
nas propriedades mecânicas, eletrônicas e de transporte eletrônico
nestes nanofios metálicos.
A pesquisa desenvolvida por
Amorim mostra que impurezas de N e N2 em nanofios de cobre
tornam a ligação entre átomos tão forte que possibilitam a
reconstrução das pontas adicionando mais átomos à cadeia atômica
linear, tornando-se um meio mecanoquímico de reconstruir cadeias
maiores do que se observa em nanofios puros. Isso sugere a
possibilidade de produzir nanocondutores mais longos sintetizados
em atmosferas nitrogenadas.
De uma forma geral, disse
o físico, todos os resultados apresentados na tese foram observados
em laboratório. No entanto, especialmente no que se refere
às estruturas helicoidais de ouro, ele garantiu que acrescentou
uma interpretação nova a respeito da formação, que é dada
por um comportamento intrínseco de se puxar o nanofio nesta
direção. Além disso, ele explica a relação direta entre a
estrutura helicoidal e a observação de cadeias mais longas
do que usualmente é obtido por nanofios de ouro alongados
em outras direções. Embora todos os experimentos e cálculos
sejam fundamentais no que se refere à ciência de base, do
ponto de vista de possíveis aplicações tecnológicas, a deposição
de nanofios metálicos em superfícies parece ser potencialmente
promissora para se ter, de fato, uma eletrônica em escala
nanométrica.
Portanto, uma nova direção
interessante para prosseguir com os estudos mostrados neste
trabalho, segundo Amorim, seria avaliar a possibilidade da
aplicação tecnológica de nanofios depositados em diferentes
superfícies, observando o efeito da temperatura e da contaminação
por impurezas leves normalmente presentes em condições ambientais
típicas as quais estes experimentos são realizados. “E, principalmente,
avaliar como e quanto essas condições afetam as propriedades
de estrutura eletrônica e de transporte desses sistemas”,
concluiu.
Silício no limite.
E o ‘transporte’ de fármacos
Atualmente, a aplicação
tecnológica da nanociência é fomentada pela indústria da
informática e também pela produção de fármacos. Uma das
grandes fabricantes de processadores, a Intel, produz atualmente
transistores em uma escala de tamanho na faixa de 45 nanômetros,
lembrando que um nanômetro equivale a 1 metro dividido por
1 bilhão. Isso possibilita colocar em uma área menor que
26 milímetros quadrados algo em torno de 47 milhões de transistores,
tornando-se cada vez mais inegável, de acordo com Amorim,
que está muito próximo o limite físico de toda tecnologia
baseada no silício.
Ademais, o desenvolvimento
do encapsulamento de fármacos que abrange o esforço de físicos,
químicos e biólogos, recentemente levantou a possibilidade
de se produzir nanopartículas ou aglomerados atômicos de
ouro para este propósito. Aglomerados com o fármaco poderiam
ser transportados pela corrente sanguínea, sendo derretidos
por meio de radiação não-invasiva a tecidos biológicos liberando-os
com precisão nanométrica, consistindo numa forma eficaz
de atacar tumores sem afetar células saudáveis.
Artigo
Amorim, E.P.M and Silva, E.Z.; Ab initio study of linear
atomic chains in copper nanowires, Physical Review B 81, 115463,
2010.
Publicação
Tese de doutorado: “Propriedades Mecânicas
e Eletrônicas de Nanofios de Cobre e Ouro”
Autor: Edgard Pacheco Moreira Amorim
Orientador: Edison Zacarias da Silva
Unidade:
Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW)
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