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Pesquisa desenvolvida em laboratório da FEF
revela que perigo é maior após ingestão de remédio

Estudo constata que oscilação corporal
coloca hipertenso sob risco de acidente

A professora Antonia Dalla Pria Bankoff, coordenadora do LAP: "É preciso dar  mais atenção aos estudos sobre o equilíbrio corporal"  (Foto: Antoninho Perri)As oscilações corporais de um hipertenso são maiores quando comparadas às de um sujeito com níveis normais de pressão arterial e tendem a se acentuar nos primeiros 30 minutos após a ingestão do anti-hipertensivo, o que coloca essa pessoa sob risco iminente de queda e outros acidentes nesse período. Na prática, é como se o medicamento provocasse uma grande desordem no organismo, para depois organizá-lo novamente. A constatação, ainda preliminar, é de um estudo inédito conduzido pela professora Antonia Dalla Pria Bankoff, responsável pelo Laboratório de Eletromiografia e Biomecânica da Postura (LAP) da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. De acordo com ela, o ideal seria que o indivíduo que depende desse tipo de tratamento só executasse atividades como caminhar, trabalhar ou dirigir uma hora depois de tomar o remédio.

Equipe avaliou a estabilidade
corporal de
diversos grupos

A área de atuação da professora Antonia ainda é pouco conhecida no Brasil e, conseqüentemente, por potenciais usuários dela, como médicos, fisioterapeutas e educadores físicos. Entretanto, encontra-se altamente desenvolvida na Europa e Estados Unidos (veja texto nesta página), onde tem auxiliado no diagnóstico de problemas ligados à estabilidade corporal. A Estabilometria, como é chamada, consiste no estudo de oscilações corporais, que influenciam diretamente no equilíbrio de uma pessoa. Para desenvolver suas pesquisas, a docente da Unicamp vale-se de um equipamento denominado Baropodômetro Eletrônico, importado da Itália. O aparelho é constituído por uma plataforma dotada de sensores, que registram as oscilações a partir da distribuição da carga (peso) na planta dos pés, tanto de forma estática quanto dinâmica.

Os testes para a medição das oscilações, segundo a professora Antonia, são feitos tanto na forma bipodálica (com os dois pés) e monopodálica (um pé), com os olhos abertos e fechados. Os resultados são expressos na forma de imagens. Os dados captados pelos sensores são transmitidos para a tela do computador, que mostra como as plantas dos pés recebem a pressão do corpo e de que forma ocorrem a oscilações, ou seja, se para os lados, para frente ou para trás. De modo geral, prossegue a docente, todos apresentamos algum grau de oscilação. No entanto, algumas pessoas oscilam de forma mais acentuada. “É o caso de quem sofre de labirintite ou de quem apresenta problemas na articulação têmporo-mandibular ou na coluna cervical”, exemplifica.

A professora Antonia vem se dedicando à Estabilometria há cerca de seis anos. Nesse período, ela e sua equipe já avaliaram a estabilidade corporal de diversos grupos, como atletas, praticantes de musculação, portadores da Síndrome de Down e, mais recentemente, hipertensos. Conforme ela, os indivíduos que apresentam pressão arterial alta oscilam entre três e quatro vezes mais do que aqueles que têm pressão normal. Num estudo recente, apresentado no 5º Congresso Internacional de Postura e Movimento, ocorrido em Roma, na Itália, a professora Antonia constatou que o equilíbrio corporal dos hipertensos fica mais prejudicado pela manhã.

Durante os testes, realizados com 42 homens, entre 52 e 62 anos, foi possível verificar que o risco de queda nesse período do dia é maior. “Algumas pessoas relataram que precisavam voltar para a cama, para esperar que a vertigem cessasse e a visão desembaçasse”, conta a docente da FEF. Em ensaios preliminares ficou constatado, ainda, que após a ingestão dos medicamentos anti-hipertensivos, as oscilações intensificam-se, sobretudo nos primeiros 30 minutos. A especialista considera que ainda é cedo para tirar conclusões definitivas sobre a questão, visto que a pesquisa ainda cumprirá novas etapas. Mas, segundo ela, os resultados parciais já dão pistas sobre o que acontece com equilíbrio corporal dos hipertensos.

As próprias bulas dos remédios, segundo a docente da FEF, advertem para a possibilidade do aparecimento de reações deletérias, tais como edemas, cefaléias, náuseas, tonturas, entre outras. “Ou seja, estamos no caminho certo. Resta-nos pesquisar, agora, porque isso acontece. O fato é que tudo indica que a droga atinge seu pico máximo em 15 minutos e só depois começa a declinar. O processo todo leva em torno de 30 minutos. Por medida de segurança, seria interessante orientar a pessoa hipertensa a só realizar atividades consideradas normais depois de uma hora. Já pensou o risco que representa um hipertenso tomar o remédio e sair para trabalhar na construção civil ou dirigir um ônibus lotado de passageiros?”, indaga a docente.

Os dois fatores que mais contribuem para a redução do equilíbrio corporal, afirma a especialista, são a velhice e o sedentarismo. “Isso significa dizer que os exercícios físicos constituem um importante aspecto para prevenir problemas mais sérios. Não por acaso, a maioria dos atletas normalmente apresenta um baixo grau de oscilação postural”. Infelizmente, acrescenta a professora Antonia, no Brasil a área da saúde ainda não se deu conta da importância que o equilíbrio corporal representa para o bem-estar do ser humano. Segmentos médicos como a neurologia, ortopedia, traumatologia, medicina do esporte, além da educação física, fisioterapia e fonoaudiologia simplesmente desconhecem os recursos da Estabilometria Clínica, notadamente no campo do diagnóstico.

Rotineiro no Exterior, exame
é ferramenta em diagnósticos

IlustraçãoNa Europa e Estados Unidos, ao contrário, já existe a Estabilometria Clínica. Em outras palavras, o equilíbrio corporal das pessoas é medido de forma rotineira, toda vez que o paciente se submete a um check-up ou passa pela avaliação de um clínico geral. “Nos países desenvolvidos, a Estabilometria é um recurso importante na avaliação, por exemplo, da tendência de quedas de idosos. Claro que as pessoas mais velhas estão mais sujeitas a esse tipo de acidente do que os jovens. Mas em que nível? E de que forma o risco de queda varia de uma pessoa para outra, de um homem para uma mulher ou de um hipertenso para uma pessoa com pressão arterial normal? No Brasil, nós ainda não temos essas respostas. Aqui, as pesquisas nessa área do conhecimento ainda são muito recentes”.

A Estabilometria Clínica também pode ser um valioso aliado no diagnóstico de diversos tipos de doenças, como a labirintite ou problemas ortopédicos. “Quando as oscilações estão acima do grau considerado normal, isso já é um indicativo de que o paciente pode ter algum problema de saúde. Dependendo da intensidade e da característica das oscilações, isso pode nos indicar mais claramente uma possível enfermidade relacionada àquele comportamento, o que facilita o diagnóstico e, conseqüentemente, antecipa o tratamento”, esclarece a professora Antonia, para emendar: “Penso que, por tudo isso, a área da saúde no Brasil também deve passar a dar mais atenção aos estudos sobre o equilíbrio corporal”.

Sobre o equilíbrio

Toda pessoa quando está parada, não permanece totalmente estática: ela oscila
Desde que os humanos adotaram uma postura bípede, eles têm sido constantemente desafiados a manter o equilíbrio estável do corpo
A cada ano, um em cada três idosos sofre uma queda
As quedas constituem a segunda causa de mortes associadas a lesões em idosos
A idade e o sedentarismo são os principais inimigos do equilíbrio postural
Labirintite, problemas ortopédicos e doenças neurológicas também concorrem para a redução do equilíbrio corporal
A prática de exercícios físicos contribui para a melhora do equilíbrio postural
Fonte: Laboratório de Eletromiografia e Biomecânica da Postura (LAP) da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp

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